A ansiedade é uma emoção comum, que todos experimentamos no dia-a-dia, e caraterizada por sentimentos de tensão, preocupação e insegurança. São várias as situações que podem levar o nosso organismo a ficar alerta e a gerar a sensação de ansiedade, desde a espera na fila de um supermercado, à expectativa do resultado de um exame ou a possibilidade de uma festa.
Ancestralmente, era um mecanismo de fuga natural, de sobrevivência à ameaça física de se ser caçado ou aniquilado, de morrer de fome, de ser morto. Mas o ser humano, na sua evolução Darwiniana, desenvolve novos mecanismos de adaptabilidade aos tempos modernos, continuando a sofrer de ansiedade, não pelo medo de ser atacado pelo leão, mas, pelo antecipar perigos reais, ou imaginários. Exemplifique-se o receio de ter uma má avaliação, de não ser aceite pelos outros, das guerras, de não poder construir um amanhã, das alterações climáticas, do envelhecimento, de perder a conexão social, de não conseguir pagar as contas, entre muitos outros. Na realidade a ansiedade dos nossos antepassados mantém-se por novas situações reais e objetivas e por receios do foro psicológico que antecipamos e imaginamos como ameaçadores.
O ser humano tem muitas preocupações e, muitas delas, passaram a ser desencadeadoras de ansiedade. Mesmo sendo uma ameaça diluída, o nosso corpo responde de forma natural ao stress, sentido ou antecipado, com características de adaptabilidade imensa. Em níveis adequados, a ansiedade faz-nos pensar, agir, criar alternativas e prepara-nos para lidar com o imprevisto. Ajuda-nos a reagir com rapidez e foco, a responder perante a incerteza e a resolver problemas. Na realidade é uma reação positiva, um SOS para agir e fazer a diferença para que algo mude.
A ansiedade desperta o ser humano para o desafio de procurar novas oportunidades, seja na escolha de amigos, de um curso, de um emprego ou mesmo da compra de um carro ou de uma casa.
Mas a resposta ansiosa nem sempre é adaptativa. Quando os mecanismos que lidam com a resposta emocional a uma situação de angústia entram em curto-circuito e geram respostas indesejadas, inclusive do ponto de vista físico e, se esse sentimento se manifesta de forma aguda e desproporcional, interferindo significativamente na qualidade de vida e atrapalhando actividades do dia-a-dia, é possível que se esteja a passar por uma crise de ansiedade.
A crise, normalmente, é acompanhada de sintomas psicológicos como a inquietação, o medo interno, a sensação de desrealização, o sentir-se longe de tudo, quando o ambiente parece diferente, ou sensação de despersonalização, quando a pessoa parece não se reconhecer mais. É também acompanhada de sintomas físicos como tensão muscular, taquicardia ou palpitação, dor no peito, transpiração em excesso, dor de cabeça, tontura, sensação de desmaio e de sintomas comportamentais como evitamento da ameaça ou dos estímulos associados ao perigo. Esses sintomas psicológicos, físicos e comportamentais fazem a pessoa sentir-se perdida e frequentemente doente.
A ansiedade tornou-se uma preocupação a nível mundial, na área da saúde mental, do bem-estar social e do bem-estar mental. Perturba um número elevado de pessoas, de todas as idades, com diferentes manifestações, quer do ponto de vista psicológico, quer do ponto de vista físico. Afecta a capacidade de trabalho e a capacidade de resposta de cada um nos seus vários mundos, seja em ambiente escolar, na família, no mundo laboral, nos tempos livres ou na vida social. Por ansiedade, um atleta desiste de competir, por ansiedade a pessoa não consegue ir trabalhar, por ansiedade o jovem não consegue falar em público, por ansiedade o estudante esconde-se, por ansiedade não se perde um convívio.
Será a ansiedade um reflexo da modernidade dos tempos actuais, em que todos somos submetidos a muitos estímulos e a muitas respostas em simultâneo? E será apenas uma ansiedade ou será que nos deparamos com vários tipos de ansiedade?
Há perturbações específicas associadas à ansiedade e que são profundamente perturbadoras e impactantes na vida das pessoas. Considere-se a Ansiedade Generalizada (muita inquietação, fadiga, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular, problemas no sono), o Pânico (períodos de medo intenso acompanhados por sintomas físicos, como palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar e dor no peito), e a Ansiedade Social ou Fobia Social (medo intenso de ser julgado negativamente por outras pessoas em situações sociais, o que pode levar a evitar interações sociais e situações em que a pessoa acredita que pode ser observada ou avaliada pelos outros). Considere-se, ainda, o Comportamento Obsessivo-Compulsivo (pensamentos obsessivos indesejados e comportamentos repetitivos que a pessoa sente a necessidade de realizar para aliviar a ansiedade sentida pelas obsessões), o Stress Pós-Traumático (desenvolve-se após a exposição a um evento traumático e é caracterizado por flashbacks, pesadelos e ansiedade severa relacionada ao evento vivido), e as Fobias Específicas (medo intenso e irracional de objetos ou situações específicas, como medo de voar, alturas, aranhas, espaços abertos ou sangue).
As crises de ansiedade trazem consequências a curto, médio e longo prazo para qualquer pessoa. Os impactos negativos, naturalmente, comprometem a qualidade de vida, os relacionamentos familiares, socias e profissionais, a capacidade produtiva e a relação da pessoa consigo e com o mundo. À medida que os sinais se agravam, piora a maneira como a pessoa encara o ambiente, o outro e a si mesma. Isso poderá resultar em isolamento e solidão, baixa autoestima, dificuldade de cuidar de si, sedentarismo, emagrecimento ou obesidade, compulsões, vícios, entre outras consequências.
As pessoas que sofrem de ansiedade, são pessoas agitadas, com dificuldades em dormir, desatentas, com preocupações excessivas e pensamentos intrusivos, geralmente focados em uma preocupação específica.
A Ansiedade poderá também ter efeitos colaterais em doenças graves e incapacitantes, como depressão, diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e problemas digestivos. Por essa razão, é importante desenvolver competências adaptativas e preventivas de autocuidado, como boa alimentação, exercícios físicos, hábitos de higiene, consultas e exames regulares, boas noites de sono, vida social ativa e práticas de autocuidado e bem-estar. É fundamental cuidar o corpo e a mente para prevenir ou amenizar os efeitos da ansiedade.
Havendo tanta ansiedade no mundo, será que se controla, que se previne? A prevenção da ansiedade está ligada à qualidade de vida, sendo importante desenvolver o equilíbrio entre as diferentes facetas da vida de cada um. É necessário cuidar do biológico, do psíquico e do social, sendo o equilíbrio uma linha invisível e pessoal a cada um. É necessário haver um equilíbrio entre os cuidados pessoais, a vida social, a vida familiar e a vida profissional. Se se sobrecarrega a vida profissional e negligencia a vida afetiva, familiar e social, está-se a abrir um campo de desconforto interno.
Quem convive com a ansiedade sabe que não existe hora nem local para o surgir de uma crise. Assim, ela pode começar em casa, na escola, no ginásio, no trabalho, numa loja ou na rua. O gatilho varia de pessoa para pessoa e pode ser algo externo (o visualizar algo) e/ou interno (um pensamento). Mas é possível afirmar que as crises de ansiedade estão mais associadas a situações de preocupação excessiva, em que o medo e a angústia sobre algo que está para acontecer ocupam um espaço significativo no interno da pessoa.
Com a ajuda apropriada, pode-se aprender a controlar a ansiedade sentida, identificando os sintomas pessoais e dominando algumas técnicas.
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Sugestões
De maneira geral, existem práticas que podem ajudar na prevenção e nesse equilíbrio, tais como a meditação, passear, praticar atividades físicas, ter hobbies, socializar, contactar com a natureza, dormir bem, no fundo ter rotinas de autocuidado e praticar hábitos de autoconhecimento.
Há três técnicas básicas que costumam ajudar em situação de crise: o controlo da respiração (por exemplo, inspirar pelo nariz, contar até quatro e expirar o ar pela boca em oito segundos, esperar quatro segundos e repetir o exercício até chegar a calma); o tentar mudar o foco do pensamento perturbador (falar com alguém, lembrar-se de uma coisa agradável); o relaxar os músculos (fazer pequenos alongamentos ou uma boa espreguiçadela).
Sendo uma palavra comum, é fácil as pessoas se autoavaliarem como ansiosas, mas é importante o diagnóstico correto e adequado, realizado por profissionais, para tomar também as decisões e medidas apropriadas. Tendo diferentes formatos, também tem critérios próprios de diagnóstico, conforme a ansiedade manifesta e, consequentemente, terá formas de intervenção diferenciada.
Ter uma ansiedade adaptativa, um stress pós-traumático ou um ataque de pânico são tipos de ansiedade muito diferentes. A primeira rapidamente leva à calma, as outras, são perturbadoras, desagradáveis e trazem sofrimento. É importante entender como algumas estratégias podem aliviar o problema e como o suporte profissional adequado é de suma importância para a manutenção da saúde mental.
Lidar com a ansiedade envolve uma combinação de estratégias de autoajuda, de intervenção psicológica e, em alguns casos, medicação.
A questão não é deixar de sentir ansiedade, mas saber lidar com ela de forma positiva e adaptativa para a vida pessoal de cada um.
As perturbações de ansiedade não tratadas e prolongadas poderão trazer incapacidade de executar tarefas do dia a dia, (tais como as profissionais) gerar más escolhas e levar a maus hábitos, e provocar outros problemas de saúde mental e física.
Ao procurar a ajuda de um psicólogo, estará a conhecer-se melhor, a descobrir que tipo de ansiedade é perturbadora para si, a aprender a lidar melhor com suas emoções, a refletir sobre as diferentes situações de crise e também a aprender a prevenir futuros maus estares. Independentemente de possuir ou não ansiedade, ou do nível da perturbação, a psicoterapia poderá ser de grande ajuda.
É sempre melhor ser ajudado do que sofrer no silêncio interno. É preciso acreditar que a mudança é sempre possível.
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