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As preocupações financeiras na vida quotidiana, tais como as prestações de empréstimos bancários, ou simplesmente conseguir pagar as contas ao fim do mês, são frequentes e constituem uma normal fonte de ansiedade.
Importa salientar que é natural que assim seja, estas são preocupações geralmente funcionais, sobretudo no contexto de crise económica em que vivemos.
Independentemente da situação de maior ou menor vulnerabilidade de cada um, é saudável pensarmos sobre a nossa (in)segurança financeira.
Assim sendo, de que falamos, quando falamos de ansiedade financeira?
Podemos definir ansiedade financeira como um estado de preocupação excessiva e persistente com as finanças pessoais, a qual tem como consequência o evitamento de questões financeiras e a diminuição da capacidade para processar informações relativas a dinheiro. Deste modo, as pessoas ficam menos aptas para gerir eficazmente as suas finanças pessoais.
A ansiedade financeira delimita-se normalmente através de características clínicas e emocionais semelhantes à ansiedade generalizada. Assim, traduz-se na dificuldade em controlar a excessiva preocupação, podendo estar associada a sintomas como agitação, nervosismo ou tensão interior, fadiga fácil, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular e perturbações do sono.
O tema tem vindo a assumir importância crescente na investigação. Tópicos como a correlação entre as preocupações financeiras e a ansiedade, ou a associação entre rendimento económico e saúde mental, têm vindo a ser investigados, robustecendo a prática clínica.
Entre as causas mais imediatas encontram-se obviamente situações de desemprego e de dívidas ou incumprimentos instalados, podendo estar associada simplesmente à incerteza face ao emprego ou à possibilidade de realizar poupanças para a reforma. Por exemplo, é situação frequente nos jovens adultos, num período de início de carreira, baixa remuneração, e em que antecipam etapas de vida onerosas, como a aquisição de casa.
A consequência mais marcante é a pouca disponibilidade para lidar com questões financeiras, a qual agrava necessariamente a gestão das finanças pessoais, o que vai contribuir ainda mais para aumentar a ansiedade. Adicionalmente, pessoas com quadros de ansiedade apresentam maior risco de desenvolver depressão, problemas digestivos, doenças cardíacas e abuso de álcool e outras substâncias.
Trata-se, assim, de um fenómeno sobre o qual cada um de nós pode e deve lidar, se o sente em si próprio.
Sugestões
1. Reconhecer e aceitar as próprias emoções relativas ao dinheiro. A situação financeira tem influência nas emoções. São frequentes e naturais emoções como medo perante a incerteza ou inveja relativamente aos outros. Por sua vez, o nosso comportamento é influenciado por essas mesmas emoções. Por este motivo, um modo de lidar com a ansiedade financeira é conhecermo-nos bem relativamente à nossa relação emocional com o dinheiro. Estaremos assim mais bem preparados para enfrentar os desafios que a gestão das finanças pessoais coloca.
2. Partilhar os problemas financeiros. Procurar alguém com quem partilhar as preocupações é uma boa forma de lidar com a ansiedade. Frequentemente, mesmo quando as responsabilidades são partilhadas (por exemplo, um casal) existe dificuldade em falar sobre dinheiro. A partilha ajuda a colocar em perspectiva as preocupações, diminui a ansiedade e concorre ainda para a criação de soluções co-construídas para os problemas.
3. Aumentar a nossa literacia financeira. O desconhecimento e a ignorância tendem a provocar mais ansiedade e medo, enquantoo conhecimento gera maior eficácia ao lidar com questões financeiras. É uma forma de simultaneamente reduzir o potencial de ansiedade e de melhorar as nossas competências numa área de grande impacto nas nossas vidas e na qual a informação disponível é normalmente complexa e as escolhas são difíceis.
4. Cuidar de si próprio. Mesmo em situações de grande ansiedade e desafio pessoal, é muito importante termos atenção ao nosso bem-estar psicológico. Isto passa por manter uma alimentação saudável, períodos de sono regulares e reparadores, momentos de prazer, etc.
5. Estar atento ao consumo álcool e outras substâncias. O consumo de álcool é um modo frequente para ajudar a lidar com os sintomas de ansiedade. No entanto, não resolverá nenhum problema, nem financeiro nem psicológico. Pode, isso sim, contribuir para o seu agravamento (senão mesmo constituir mais um problema). Deste modo, é particularmente importante estarmos atentos ao nosso padrão e estilo de consumo em momentos de maior ansiedade.
6. Por último, pedir ajuda. Se a ansiedade constitui um obstáculo indesmentível para uma vida saudável, causandosofrimento psicológico intenso. Se afecta as nossas rotinas, as nossas relações ou a nossa performance laboral, pode estar no momento de solicitar apoio psicológico. Conhecermo-nos a nós próprios de forma saudável também significa estarmos conscientes dos nossos limites, nesse sentido, recorrer a ajuda psicológica é um acto de coragem.
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