O Psicólogo Responde: Como é que a autoestima interfere na saúde mental?
Autoestima

O Psicólogo Responde: Como é que a autoestima interfere na saúde mental?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Telma Miranda
Psicóloga da Ordem dos Psicólogos

Autoestima é a opinião que temos sobre nós mesmos. Uma espécie de dança entre autenticidade e compaixão, entre autoconhecimento, respeito e aceitação. É a autoavaliação que fazemos sobre as nossas capacidades e resulta no valor que nos atribuímos.

Mais do que pelo que somos, a nossa autoestima é influenciada pelo que pensamos e sentimos. É um conceito contruído ao longo do tempo e moldado pelas nossas circunstâncias, interações e experiências de vida. Não é um valor rígido e pode variar, especialmente em momentos de transição (ex: adolescência). Desde cedo que lidamos com expectativas (as nossas e as dos outros) e definimos como queríamos ou deveríamos ser. Beliscamos a nossa autoestima quando, num processo de reflexão sobre nós próprios, esta expectativa não corresponde à realidade.

Pessoas com boa autoestima geralmente desenvolvem uma maior consciência de si e uma visão mais positiva do seu potencial, sentindo-se mais motivadas e capazes para agir e abraçar novos desafios. Confiam em si e nos outros, têm mais facilidade em adotar uma postura assertiva e dizer não, se necessário. Por terem uma relação saudável consigo próprias, geralmente são hábeis a manter relações saudáveis com os outros. Estabelecem limites adequados, comunicam eficazmente as suas necessidades e são mais resilientes face a situações stressantes.

Apesar disso, ter uma boa autoestima não significa que somos confiantes e felizes o tempo todo. Pessoas com boa autoestima também se sentem tristes e desmotivadas, mas fazem uma boa gestão das suas emoções. Veem as suas fragilidades, mas aceitam-nas e estão bem com elas. Não se culpam por tudo o que acontece e veem nos erros oportunidades e aprendizagens.

Pelo contrário, pessoas com baixa autoestima podem experimentar com frequência medo, dúvida e preocupação. A sua crença de inferioridade pode levá-las a aceitar o incompleto ou insuficiente achando que não são merecedoras de mais. Aqui pode abrir-se um caminho para a dependência, para o ciúme, para o controlo, para a necessidade de querer agradar a todos e para a ausência de opinião. Neste caso, a antecipação do fracasso e do julgamento do outro influencia os processos de tomada de decisão e, em alguns momentos, pode ser paralisante.

Pessoas com baixa autoestima estão mais preocupadas em manter uma boa imagem para os outros, sobrevalorizando a opinião alheia – o que se traduz numa ansiedade excessiva. Pensar de forma negativa e autocrítica torna-se um automatismo e alimenta estados emocionais instáveis. Ter uma baixa autoestima é, por isso, porta de entrada para problemas de saúde psicológica.

Em suma, nos passos da dança de que falámos na abertura deste artigo, o balanço e equilíbrio tornam-se necessários para o bem-estar e saúde psicológica. Entre reconhecer as suas qualidades e ao mesmo tempo ser capaz de identificar pontos de melhoria e crescimento estará uma autoestima estável e fortalecida.

Nesta busca, que possamos manter em mente algumas considerações importantes:

  • Errar faz parte da condição humana; devemos perdoar-nos, aceitar os erros e aprendizagens que daí advêm e avançar no caminho.

  • Compreender que opiniões não são factos e que por vezes o julgamento do outro não faz de nós menos capazes.

  • Embora todos nós possamos definir objetivos e identificar aspetos a melhorar para evoluir, é importante mais autocompaixão e menos cobrança.

  • Que possamos cuidar-nos do mesmo modo, com a mesma gentileza e compreensão que dedicamos ao outro. Sermos compassivos implica imaginarmos que no nosso lugar está alguém de quem gostamos muito e com quem nos preocupamos… o que lhe diríamos?

  • Controlar o tempo que dedicamos às redes sociais pode ser relevante, já que esse é um contexto fértil para comparações constantes e palco de comentários odiosos.

  • Praticar mindfulness (formal ou informal).

  • Reservar um tempo de reflexão poderá permitir-nos identificar os pensamentos que nos estão a prejudicar, e, por outro lado, ajudar-nos-á a identificar aspetos e acontecimentos positivos.
     
  • É importante reconhecer e celebrar conquistas – mesmo as mais pequenas! Podemos registá-las num caderno para que, em alturas mais exigentes, possamos revisitar e relembrar a nossa memória do que já fomos capazes de conquistar.
     
  • É importante investir nas nossas relações: devemos rodear-nos de pessoas que nos encorajam e estimulam a fazer mais e melhor, que nos ajudam, aceitam e validam as nossas competências e experiências.
     
  • Falar sobre o que sentimos pode ajudar a diminuir o stresse e contribuir para o nosso bem-estar.
     
  • Incluir o autocuidado como uma rotina obrigatória! Fazer uma lista de todas as atividades que nos fazem sentir bem, relaxados e felizes. Realizar atividades prazerosas pode ser tudo… uma ida ao ginásio, a leitura de algumas páginas de um livro, um banho quente… por vezes não é preciso mais tempo. É preciso fazer diferente com o tempo que já temos.

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