O Psicólogo Responde: Qual o efeito do stress no bem estar mental?
Ilustração O Psicólogo Responde. Imagem: Adobe Stock

O Psicólogo Responde: Qual o efeito do stress no bem estar mental?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Ana Isabel Lage Ferreira
Psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O coração bate mais depressa ou de forma descompassada. A respiração acelera e é superficial. A boca fica seca e parece impossível engolir. As mãos tremem e ficam suadas. No estômago aparecem borboletas e às vezes até náusea. A concentração custa mais. A irritabilidade aumenta e o sono é mais difícil de conciliar. Podem começar as dores de cabeça ou outros sintomas esquisitos como alergias ou erupções na pele. A digestão fica alterada e o apetite irregular. Come muito. Come pouco. Não come nada. Não sabe o que se passa. Mas acha que está muito doente.

Estes são os sinais físicos mais frequentes de uma “resposta de stress”. E entre o primeiro e o último podem decorrer semanas, meses ou anos. É esta a diferença entre stress agudo ou stress crónico – o tempo em que mantemos ativa essa resposta de stress.

O que é uma resposta de stress?

Quando um qualquer acontecimento exterior altera o nosso equilíbrio interno (ou  homeostasia) é desencadeada uma resposta de stress (ou estado geral de ativação) que é a forma que o nosso organismo tem para recuperar esse equilíbrio. Essa reação, que está inscrita na nossa fisiologia, não pode ser evitada (felizmente) mas pode ser gerida na sua intensidade e extensão. Como?

Vamos primeiro distinguir os elementos biológicos e psicológicos do “stress”.
 
A biologia e a fisiologia do stress

A manutenção da sobrevivência implica algo muito básico – que o corpo funcione e ... que se mantenha vivo! Para isso precisa de energia.

Essa energia é produzida de acordo com as necessidades do organismo. E a resposta a qualquer acontecimento externo requer sempre a mobilização de alguma energia. Se esse acontecimento for de alguma forma considerado perigoso ou ameaçador, então a necessidade de energia é maior porque o organismo “percebe” que terá de mobilizar mais recursos para se proteger. 

É por isso que o coração acelera e a respiração se intensifica. Precisamos de receber mais oxigénio e também que chegue mais rapidamente às células.

Estamos então mais preparados para responder – seja, correr, lutar ou até abrigar (em inglês é a fight, flight or freeze response).

Ao longo dos séculos, o nosso corpo otimizou esta resposta de tal forma que se tornou completamente automática e muito difícil de interromper. E ainda bem. De outra forma rapidamente teríamos comprometido a nossa sobrevivência, engolidos por um qualquer animal mais esfomeado, ou apanhados por algum fenómeno natural mais intenso.

Acontece que esta resposta fisiológica do nosso organismo foi desenvolvida para lidar com situações de emergência a curto prazo e quando a usamos para situações que nos preocupam diariamente, então, torna-se um desastre!

Quando o stress se torna psicológico

A evolução permitiu ao ser humano desenvolver muitos artefactos que trouxeram mais segurança. Neste momento, na maior parte do mundo, a probabilidade de termos um confronto com um predador é muito reduzida e estamos também mais protegidos das intempéries naturais. Agora as nossas ameaças são mais invisíveis (vírus, bactérias), intangíveis (pressões financeiras, ou no emprego) e incontornáveis (trânsito, prestação da casa), mas a nossa resposta biológica é exatamente a mesma! O coração acelera e a respiração intensifica. 

A grande diferença é que essas ameaças podem manter-se durante muito tempo. Ou porque é de facto um acontecimento continuado, ou porque o prolongamos pensando muito sobre isso, ou... ambos.

E quando essa resposta se mantém no tempo é quando o stress se torna crónico e quando começa a ter um impacto na nossa saúde mental e bem-estar geral.

Os sinais podem incluir perturbações do sistema imunitário (ficamos mais vezes doentes), alterações na digestão, diminuição da líbido ou transtornos do ciclo menstrual. Tudo isto trará desconforto e preocupação, o que por sua vez pode agravar a resposta de stress, repetindo assim um ciclo que pode ser difícil de quebrar.

Estas alterações podem chegar a ser tão invasivas que resultam em alterações no comportamento e nas relações com os outros. Ficamos chatos, irritáveis, reativos e com isso podemos quebrar a fonte de apoio que mais precisamos.

É uma espiral negativa que parece não terminar.

A boa notícia é que é possível. Não só interromper essa espiral, como até invertê-la e recuperar o bem-estar físico, mental e social.

Lembre-se que o stress nem sempre é negativo. É porque conseguimos manter um nível médio de stress que é possível realizar as tarefas do quotidiano, mesmo as mais desafiantes. Este stress que nos motiva a fazer algo, é muitas vezes designado de eustress.

Sugestões

1. Reagir com ansiedade a qualquer acontecimento novo, não familiar ou que altere a sua rotina é natural. Olhe para isso como um sinal de que talvez precise de se preparar melhor, ou então que estará prestes a aprender algo novo. Acolha esse sentimento e procure identificar o que o provocou.

2. Dê atenção aos sinais do seu organismo. Se perceber alterações ao seu funcionamento habitual que se mantêm há algum tempo, investigue a sua origem. Há quanto tempo? O que estava a acontecer na altura? O que o/a tem preocupado?

3. Mantenha na sua rotina hábitos de bem-estar. Por vezes, o stress não é resultado apenas de acontecimentos negativos, mas antes da ausência de momentos de reequilíbrio físico e mental. Alguns exemplos são o contacto com a natureza; cuidar do corpo com exercício ou relaxamento, com nutrição e sono adequado; estar com outras pessoas em lazer e prazer. 

4. Os efeitos do stress são reais e evidentes quer na saúde física quer na saúde psicológica (como se até pudéssemos separar as duas). Não deixe que esses sinais se instalem e que passem a fazer parte do seu funcionamento. Sentir-se mal nunca pode ser aceitável. Se for difícil recuperar o seu bem-estar, procure ajuda de um profissional.

 

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