O Psicólogo Responde: O medo de doenças pode ser controlado?
Ilustração. Medo de doenças, hipocondríaco. O Psicólogo Responde. Image: Adobe Stock

O Psicólogo Responde: O medo de doenças pode ser controlado?

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Eduardo Carqueja
Psicólogo e presidente da Delegação Regional Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses

O medo é uma emoção universal que todos nós experimentamos em algum momento da nossa vida. Ele é uma resposta natural a uma ameaça real ou percebida e pode ser uma ferramenta útil para nos proteger e sobreviver. No entanto, o medo também pode ser uma realidade construída, ou seja, uma resposta emocional exagerada ou desproporcionada a uma situação que não representa um verdadeiro perigo.

O medo é um produto da nossa mente e é construído através da nossa perceção, crenças e expectativas. As nossas crenças e expectativas podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo a nossa educação, experiências passadas, ambiente e cultura. Por exemplo, se crescemos ouvindo histórias de monstros debaixo da cama, podemos ter medo de dormir sozinhos quando adultos, mesmo que saibamos racionalmente que não há monstros debaixo da cama.

Os média também podem desempenhar um papel na construção do medo. A cobertura sensacionalista de eventos raros ou traumáticos, como ataques terroristas ou desastres naturais, pode criar uma perceção exagerada de risco e aumentar o medo de eventos similares ocorrerem novamente. Além disso, a exposição constante a notícias negativas e estímulos stressantes pode levar a um aumento do medo e da ansiedade.

O medo também pode ser construído através do nosso próprio pensamento. Se nos concentrarmos em pensamentos negativos ou catastróficos, podemos exagerar o perigo de uma situação e aumentar o nosso medo. Por exemplo, se temos medo de voar, podemos concentrar-nos em pensamentos como "o avião vai cair" ou "vou morrer num acidente de avião", o que pode aumentar o nosso medo e ansiedade.

O medo construído também pode ser alimentado pelo nosso desejo de evitar o desconforto ou o incómodo. Muitas vezes, o medo impede-nos de fazer coisas que gostaríamos de fazer ou impede-nos de experimentar coisas novas. Isso pode ser especialmente verdadeiro quando é baseado em crenças ou expectativas irracionais ou ultrapassadas.

No caso concreto do medo de doenças essa construção não será só resultado da vivência do presente, mas muito de crenças pré-existentes e, como já referido anteriormente, da sua integração na vida interna de cada pessoa.

A intervenção psicológica é decisiva quando não se consegue encontrar um equilíbrio cognitivo e emocional entre a situação que desencadeia o medo e a sua real condição psicológica que pode ser catalisadora de sofrimento.

Sugestões

1. O medo é inerente à espécie humana e, portanto, não o podemos desprezar;

2. é importante darmos nome ao(s) Medo(s), pois assim é mais fácil de o(s) identificar e de lidar;

3. o medo é também uma realidade contruída;

4. o medo pode ser decorrente de uma situação de ameaça à pessoa e, por isso, deve ser encarado como algo natural;

5. o medo partilhado é mais fácil de ser gerido;

6. ter medo não é sinal de fraqueza;

7. viver no medo é viver em sofrimento e, como tal, pedir ajuda é fundamental e sinal de inteligência.

 

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