O Psicólogo Responde: A timidez excessiva pode ser fobia social?
Timidez (Freepik)

O Psicólogo Responde: A timidez excessiva pode ser fobia social?

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Susana Amaral
Membro da Delegação Regional do Centro da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Apesar de a timidez ser uma característica comum e “não patológica” e de se poder manifestar de forma adaptativa, quando excessiva pode ser um sinal de alerta de problemas ao nível da saúde mental.  Se a timidez prejudicar consistentemente o desempenho no trabalho, nos estudos ou afetar os relacionamentos pessoais (de maneira negativa), pode desenvolver-se uma perturbação de ansiedade (ou outra). Quando a timidez é excessiva, extrema ou persistente, pode ser um sinal de alerta para possíveis problemas emocionais ou de saúde mental como a perturbação de ansiedade social, também designada por fobia social. O diagnóstico deve ser diferencial, integrado, compreensivo, realizado e validado por um profissional especialista em saúde mental.

Embora a timidez seja comum e muitas pessoas a experienciem em situações sociais, a fobia social é uma condição mais grave e debilitante.

A timidez pode variar entre uma experiência normativa e transitória a um traço de personalidade mais duradouro. Muitos de nós já experienciaram e enfrentaram, nalgum momento da sua vida, um certo desconforto e timidez em situações sociais.

É expectável sentir um certo grau de timidez perante uma situação nova, por exemplo, ao conhecer novas pessoas, na primeira semana numa nova escola ou emprego, em situações de desempenho, antes de fazer uma apresentação ou falar em público e em situações sociais ocasionais, como entrar numa festa com pessoas desconhecidas. Frequentemente, a timidez excessiva pode levar a uma baixa autoestima ou autoconfiança e à autocrítica constante, agravando dificuldades profissionais e pessoais.

Podemos estar perante uma fobia social se a timidez causar desconforto, angústia significativa e prejudicar a qualidade de vida. Se a pessoa começar a evitar cada vez mais estar com os outros e se isolar por ter medo ou ansiedade intensa na exposição nas interações sociais ou ao escrutínio dos outros.

Na fobia social as situações sociais provocam quase sempre medo, ansiedade ou evitamento persistente e a pessoa teme comportar-se ou mostrar sintomas de ansiedade que possam ser avaliados de forma negativa pelos outros, como por exemplo situações humilhantes ou embaraçosas que podem levar à rejeição ou ofensa dos outros. Estas situações causam um mal-estar clinicamente significativo, ou um défice social, escolar, ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento.

É comum na fobia social sentir-se ansiedade intensa antes, durante e após situações sociais, medo de ser o centro das atenções, preocupação excessiva com o que os outros pensam, acompanhada por sintomas físicos, como tremores, sudorese, palpitações e rubor facial em situações sociais. A fobia social pode ter um grande impacto, ser debilitante e prejudicar a vida quotidiana, incluindo relacionamentos pessoais, académicos e profissionais.

Pode ser um sinal de fobia social evitar reiterada e sistematicamente situações sociais ou eventos importantes, como festas, reuniões ou até mesmo ir ao trabalho ou à escola devido ao medo intenso de ser avaliado. Outro exemplo é quando uma pessoa não tem contato com amigos, familiares ou colegas de trabalho, o que leva a um isolamento social significativo. Associado a isso podem estar sintomas físicos graves, como ataques de pânico, sudorese excessiva, tremores ou náuseas.

Em crianças, o medo e a ansiedade podem ser expressos por choro, birras, imobilidade, retraimento ou incapacidade de falar em situações sociais (e para ser fobia social a ansiedade tem de estar presente com os pares e não apenas durante interações com adultos).

O aparecimento da perturbação de ansiedade social pode ocorrer após uma experiência stressante ou humilhante, ser insidiosa ou desenvolver-se devagar.

Além disso é importante considerar que o medo, a ansiedade ou o evitamento na fobia social, não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (por exemplo, abuso de drogas, medicação) ou a outra condição médica, impactam e causam sofrimento significativo e interferem nas atividades diárias. No entanto, quando a timidez não diminui com a familiaridade e tende a ser associada a receios “paranoides” (e não a juízos negativos acerca de si próprio), podemos estar perante outro quadro, ou pode (co)existir uma sobreposição de perturbação da personalidade (como a personalidade evitante, agorafobia, ansiedade de separação, perturbação depressiva major, ansiedade generalizada ou outra).

Há ainda uma fobia mais ampla do que a perturbação da ansiedade social: o “Taijin Kyofusho”. Nestas situações, para além da ansiedade com o desempenho, há questões relacionadas com a cultura e com a sensibilidade social. A principal preocupação reside em poder ofender os outros (seja através da palavra, um comentário mal colocado, um gesto ou até mesmo com certos aspetos do seu corpo).

A identificação precoce é essencial para a eficácia e sucesso da intervenção e reversão dos sintomas. É importante estar atento, observar e automonitorizar-se, nomeadamente em relação à intensidade, duração e frequência em que a timidez ocorre e avaliar se é inflexível, desadaptativa e persistente e se causa défice funcional ou mal-estar significativos. Se assim for, há que procurar apoio profissional.

A fobia social é uma condição tratável e existem várias abordagens terapêuticas que podem ser eficazes no tratamento desta perturbação. É importante procurar ajuda de um profissional de saúde mental para avaliação e tratamento adequado.

Sugestões:

  • A timidez pode impedir e comprometer uma participação plena ao nível social, educacional e profissional, com repercussões na qualidade de vida e perda de oportunidades. É por isso importante o Autoconhecimento, isto é, entender o nosso comportamento, emoções, sentimentos e identificar os “gatilhos” de timidez.
     
  • A redução do desconforto pode ser promovida através da exposição gradual a situações sociais, aumentando progressivamente a exposição a circunstâncias ou eventos que o deixam desconfortável (aumentando a autoconfiança).
     
  • Para controlar a ansiedade em situações sociais, podemos aprender técnicas de relaxamento e respiração.
     
  • Existem pensamentos negativos, que é importante desafiar e trabalhar no sentido da identificação e modificação destes pensamentos (negativos ou distorcidos) que podem estar a alimentar a sua timidez.
     
  • Podemos aperfeiçoar, melhorar e desenvolver as nossas competências de comunicação ou sociais, ouvindo atentamente, fazendo perguntas e praticando o contato visual.
     
  • Se a timidez é excessiva ou a fobia social é impactante e debilitante, é importante procurar ajuda de um profissional de saúde mental. Independentemente de ser timidez ou fobia social, procurar ajuda profissional quando necessário é fundamental para aprender a lidar com esses desafios e melhorar a sua qualidade de vida.

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