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Já todos ouvimos “somos o que comemos”. Sempre que tal frase surge remete-nos para a ideia (correta) de que a dieta alimentar influencia a saúde física e que o consumo de “junk food” é prejudicial para o bom funcionamento do organismo e impulsiona o surgimento de diversas doenças: cardiovasculares, obesidade, diabetes, oncológicas, entre muitas outras. O que não se sabia até há poucos anos é que os hábitos alimentares e os nutrientes consumidos têm impacto na saúde psicológica, ou seja, “o que comemos também pode afetar como nos sentimos”.
Num artigo recente, publicado pela Associação Americana de Psicologia, pode ler-se “Essa salada não é apenas boa para a sua nutrição - pode ajudar a evitar a depressão”. A relação entre a alimentação e a saúde mental é um tópico de crescente interesse na comunidade científica, nomeadamente na ciência psicológica. Terá sido no final da década de 90, após um estudo internacional que correlacionou o alto consumo de peixe, num determinado país, e baixas taxas de perturbações depressivas, que a atenção se voltou para este facto.
Sabe-se hoje que a ingestão de determinados alimentos e nutrientes tem uma implicação direta no funcionamento do cérebro, órgão responsável e essencial para a gestão das emoções, pensamentos e comportamentos.
Vejamos o exemplo dos neurotransmissores, substâncias químicas que transmitem mensagens no cérebro: a sua produção pode ser influenciada pela alimentação. Por exemplo, o triptofano, um aminoácido presente em alimentos como o peru e o queijo, é necessário para a produção de serotonina, um neurotransmissor que regula o humor, o sono e o apetite. Uma dieta pobre em triptofano pode, portanto, contribuir para a insónia, a depressão e a ansiedade.
Também a inflamação, hoje muito associada a problemas de saúde mental, incluindo a depressão e a ansiedade, pode ser exacerbada por uma dieta rica em alimentos processados e pobres em nutrientes. Já o consumo de alimentos anti-inflamatórios, como frutas, vegetais, peixes e nozes, pode ajudar na redução da inflamação e, por consequência, a melhorar a saúde psicológica.
Podemos também relembrar que as doenças orgânicas associadas a maus hábitos alimentares, como as referidas no início deste artigo (doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, doenças oncológicas, etc.) são altamente indutoras de problemas de saúde mental, sendo a mais prevalente a perturbação depressiva.
Há ainda que referir a influencia das escolhas alimentares no excesso de peso que tem, muitas vezes, um impacto negativo na auto-imagem, auto-estima e auto-confiança. Um sentimento de menos valia e de insegurança é, muitas vezes, a causa para o surgimento de estados ansiosos e depressivos.
Chegados aqui já não restam grandes dúvidas de que a alimentação impacta de diversas formas a saúde mental. É, por isso, essencial aprender a fazer escolhas e investir em mudanças comportamentais que promovam hábitos alimentares saudáveis. A psicologia, através da compreensão das emoções, dos comportamentos e dos processos cognitivos, pode desempenhar um papel crucial na promoção de escolhas alimentares saudáveis e na gestão das consequências emocionais e psicológicos da alimentação. Optar por uma dieta equilibrada e nutritiva e o recurso a estratégias psicológicas eficazes melhora não só a saúde física, mas também a saúde mental.
Sugestões
1. Informe-se sobre os benefícios e malefícios dos alimentos que consome no seu dia a dia e invista numa mudança da sua alimentação. Quanto mais informado estiver mais motivado se vai sentir para mudar.
2. Saiba que alimentos são mais adequados à sua faixa etária e ao seu estado de saúde. Sempre que possível aconselhe-se com um profissional de saúde.
3. Promova não só hábitos alimentares saudáveis como hábitos de vida saudáveis. Não se esqueça de praticar exercício físico.
4. Mudar comportamentos nem sempre é fácil e, nesse sentido, pode procurar a ajuda de um psicólogo/a, que irá acompanhá-lo nesse processo.
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