O Psicólogo Responde: Como falar com as crianças sobre a guerra?
Guerra (Freepik)

O Psicólogo Responde: Como falar com as crianças sobre a guerra?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

 

 

 

 

 

Andresa Oliveira

A melhor forma de o fazermos é disponibilizarmo-nos para escutar preocupações, conversar e responder a questões.

As notícias, as imagens e os comentários sobre a guerra estão por todo o lado. As crianças, mesmo em idade pré-escolar, apercebem-se do que se passa à sua volta, perguntam-se e perguntam sobre o que significam. Já nós, adultos, questionamo-nos sobre o que lhes dizer e como comunicar acerca do assunto.

A guerra pode afetar profundamente as crianças – a forma como pensam e sentem. Mesmo quando acontece a milhares de quilómetros de distância, pode colocar em causa a sua necessidade de ver o mundo como um lugar seguro e previsível. Quando veem imagens de países em guerra na televisão, de crianças refugiadas, de pessoas feridas ou em valas comuns, podem sentir medo, dor, preocupação ou confusão.

Os pais, mães e educadores/as desejam, simultaneamente, protegê-los, mas encorajá-los a serem curiosos e experienciarem o mundo. Queremos que valorizem formas pacíficas de resolver os problemas e os conflitos e que descubram o que podem fazer para ajudar a transformar o mundo num lugar melhor.

Para isso, é importante, desde muito cedo, conversar com as crianças sobre a guerra, dando-lhes informação apropriada à sua idade, capacidade de compreensão e experiências, e assegurando-lhes que se podem sentir seguras e protegidas. Isto, se elas se mostrarem interessadas, caso contrário, basta-nos mostrar que estaremos sempre disponíveis para conversar, se ou quando desejarem. É que, ainda mais assustador do que a guerra, é pensar que ninguém pode falar connosco sobre temas, emoções ou sentimentos difíceis ou desagradáveis.

A guerra, como outras crises, e mesmo tratando-se de uma situação limite, pode ser abordada no sentido de se procurarem oportunidades de aprendizagem e crescimento. Podemos, por exemplo, educar para a não violência, ajudando as crianças a interiorizar a ideia de que os problemas e os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica através da empatia, da regulação da nossa zanga, de estratégias não-violentas de resolução de problemas e negociação e dos esforços que nós, enquanto cidadãos e cidadãs podemos envidar para promover e construir diálogos, pontes, justiça e paz.

Sugestões:

Não precisamos de ter todas as respostas. Não precisamos de ser especialistas num assunto para ouvir o que as crianças ou jovens pensam e sentem. Para além disso, pensar sobre uma situação complexa em conjunto pode ajudar as crianças mais velhas a lidar com sentimentos ambivalentes e pensamentos ambíguos: “Isso é uma questão interessante e eu não sei a resposta. Podemos pensar nisso em conjunto. O que é que tu achas?”.

Algumas sugestões podem ajudar-nos a conversar:

  • Escutar e descobrir o que a criança já sabe. Mais importante do que explicar ou fornecer informação sobre a guerra, é ouvir o que a criança queira, espontaneamente, comentar ou questionar. A melhor abordagem é deixar as preocupações das crianças, nas suas próprias palavras, guiar a direção e a profundidade da conversa.
     
  • Validar os sentimentos da criança. É importante comunicar à criança que compreendemos que o que está a acontecer nesta situação de guerra é confuso e complicado. Não sentimos como grande ajuda quando alguém nos diz “Não te preocupes!”, acerca de algo que nos preocupa, por isso, devemos evitar dizê-lo às crianças e jovens. Por exemplo, dizer “Pareces triste quando falamos sobre isto. Eu também estou triste”, comunica à criança que os seus sentimentos são naturais, compreensíveis e que o adulto se sente de forma semelhante e consegue lidar com isso.
     
  • Adequar a linguagem e a informação à idade da criança. Por exemplo, a uma criança mais nova podemos dizer “Algumas pessoas, noutros países, discordam em coisas que são importantes para eles. E, às vezes, quando isso acontece, há uma guerra. A guerra não está a acontecer perto de nós e não corremos qualquer perigo. Estamos seguros”. É importante sermos honestos e não minimizarmos a gravidade da guerra, contudo, por outro lado, não há necessidade de sobrecarregar a criança com informação desnecessária e que pode não conseguir processar.
     
  • Assegurar as crianças e jovens de que estão protegidos e seguros. Sobretudo as crianças mais novas interpretam o que acontece de uma forma que não tem lógica para os adultos e que lhes pode causar medos. Por exemplo, podem pensar que “se há uma guerra na televisão, também pode haver uma na escola” ou “se há um míssil que pode voar até lá, também podem voar até casa”. Por isso, é importante repetir-lhes que estão protegidas e seguras (e a sua família também). É uma boa ideia reforçar o contacto físico (por exemplo, abraços, beijinhos) e manter as rotinas habituais.
     
  • Sublinhar que há esperança e muitas pessoas a tentar ajudar. Mesmo em situações terríveis, como a guerra, encontramos sempre pessoas que se esforçam arduamente por ajudar os outros (políticos e diplomatas, mas também, por exemplo, médicos, enfermeiros, militares, polícias, bombeiros, voluntários). Sublinhar estes actos de coragem, bondade e serviço aos outros recorda às crianças e aos jovens que, apesar de existirem situações de grande adversidade e maldade, também existem sempre actos de humanidade e amor entre as pessoas. É igualmente importante enfatizar que todas as guerras acabam e que podem existir soluções não violentas para a paz.
     
  • Monitorizar o stresse e a saúde psicológica das crianças. Esteja atento a alterações e experimente a preencher a Checklist Como me Sinto? (sobre Crianças e Adolescentes, para Pais, Educadores e Professores).

 

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