
O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt
No palco do trabalho, encontramos a luz reconfortante da realização pessoal e as sombras da sobrecarga e do desgaste emocional. Sentimo-nos incluídos, reconhecidos e valorizados quando desempenhamos funções que nos desafiam e nos permitem crescer. Mas quando o peso do trabalho se torna insuportável, quando a pressão é constante e o apoio é escasso, é possível que nos encontremos à beira do abismo.
Podemos comparar o mundo do trabalho a um acrobata, na procura de equilíbrio. Como é possível que algo tão crucial para a nossa subsistência possa, ao mesmo tempo, ser fonte de realização e angústia?
O maior desafio, muitas vezes, reside em reconhecer os sinais de que algo está errado. O estigma social em torno da doença mental assombra a perceção de que estamos a enfrentar dificuldades. O cansaço, a irritabilidade, a falta de motivação - são alguns dos sinais que podem indicar que estamos na “corda bamba”, a lutar para manter o equilíbrio.
Para evitar uma queda precipitada, precisamos de aprender a equilibrar as exigências do trabalho com as necessidades da nossa saúde mental. Desenvolver redes de apoio, falar abertamente sobre o stress, aprender a dizer não quando necessário - são algumas das estratégias que podemos usar.
Mas a responsabilidade não recai apenas sobre os ombros dos trabalhadores. Os empregadores, as lideranças, as organizações têm um papel fundamental a desempenhar na criação de um ambiente de trabalho saudável que promova o bem-estar e a saúde psicológica. Implementar políticas de apoio à saúde mental, promover uma cultura organizacional inclusiva e respeitosa, reconhecer a importância do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal são passos essenciais para garantir que todos possamos caminhar com segurança na “corda bamba” do trabalho.
A nossa caminhada na “corda bamba” do trabalho é a procura constante pelo equilíbrio perfeito. Não precisamos de ser perfeitos sempre. É importante sermos realistas sobre as nossas capacidades, procurar apoio quando necessário e cultivar relações positivas com os nossos colegas. Estas são pequenas ações que podem fazer uma grande diferença na nossa caminhada para a segurança emocional.
O trabalho pode ser positivo e benéfico para a saúde mental ao proporcionar um sentimento de inclusão, estatuto e identidade, ao estruturar a ocupação do tempo e ao constituir um relevante elemento de socialização.
Quando o indivíduo gosta e sente bem-estar no seu trabalho este constitui-se como fonte de motivação, de crescimento psicológico e de realização pessoal. Quando existe desgaste em relação ao trabalho, usualmente expresso na forma de desânimo e descontentamento, surge o sofrimento que, num primeiro momento, é o limite entre a saúde e a doença.
Reconhece-se que as condições de trabalho e a forma como este é organizado e executado podem ter efeitos adversos na saúde mental e bem-estar dos trabalhadores, sempre que não se garanta uma boa gestão dos riscos psicossociais no local de trabalho.
Nem sempre é claro perceber se o trabalhador sofre de alguma perturbação mental ou em que medida esta perturbação influencia negativamente o trabalho. Existe ainda estigma social sobre as doenças mentais, o que inibe muitas pessoas de reconhecer que sofrem de alguma perturbação mental.
É crucial reconhecer que o local de trabalho é tanto uma fonte de riscos quanto um espaço para enfrentá-los. As melhorias no modo como o trabalho é organizado e gerido poderão potenciar ambientes psicossociais adequados e contribuir para organizações saudáveis com condições de trabalho seguras, estimulantes, satisfatórias e agradáveis que, paralelamente, fomentem a produtividade, a inovação e sejam competitivas e sustentáveis.
Os principais riscos psicossociais que impactam a saúde física e mental dos trabalhadores incluem:
- Relacionados às tarefas laborais: falta de significado no trabalho, carga excessiva ou insuficiente, falta de autonomia, repetição excessiva de tarefas e execução de tarefas perigosas.
- Relacionados à organização do trabalho: horários excessivos, turnos, poucas pausas para descanso, exigências contraditórias.
- Relacionados à estrutura da organização: indefinição de funções, falta de comunicação interna, conflitos entre trabalhadores, falta de oportunidades de promoção, baixo reconhecimento.
- Outros: imagem negativa da organização, longa distância entre casa e trabalho, incerteza sobre o emprego, ambiente de trabalho conflituoso, falta de apoio das lideranças e colegas, assédio e violência, dificuldade em conciliar trabalho e vida pessoal, stress.
Atualmente, têm ganho particular relevância os riscos psicossociais associados à ausência de fronteiras entre o trabalho e o lazer, assim como a dificuldade em equilibrar a vida pessoal, familiar e profissional.
Os desafios do presente e do futuro implicam que as organizações invistam na prevenção dos Riscos Psicossociais, nomeadamente através da promoção de competências facilitadoras para a mudança das práticas de gestão e de liderança, no sentido da criação de comportamentos e culturas organizacionais de saúde e segurança.
Para manter um ambiente de trabalho saudável, que promova o bem-estar mental, é essencial que as organizações estejam atentas a esses fatores e implementem políticas e práticas de suporte à saúde mental. As atitudes adotadas relativamente à saúde psicológica podem fazer uma grande diferença nas organizações, nomeadamente para os trabalhadores com problemas de saúde psicológica.
O trabalho pode ser um desafio assustador, mas também pode ser uma fonte de grande satisfação e realização. A chave está em encontrar o equilíbrio certo e aprender a caminhar com confiança na “corda bamba” da vida profissional. Que possamos encontrar esse equilíbrio e enfrentar os desafios do trabalho com coragem, determinação e compreensão mútua.
Sugestões
- Promoção de uma cultura de abertura: encorajar uma cultura onde falar sobre saúde mental seja normalizado. Através de campanhas de sensibilização, treino das lideranças em saúde mental, e a implementação de políticas de apoio psicológico.
- Gestão eficiente de cargas de trabalho: assegurar que as cargas de trabalho são justas oferecendo flexibilidade quando necessário.
- Clareza de funções e expectativas: definir claramente as funções e expectativas para reduzir a incerteza e o stress.
- Fomentar a autonomia: permitir que os trabalhadores tenham controle sobre como realizam o seu trabalho.
- Desenvolvimento de lideranças: investir na formação de líderes para que possam identificar sinais de stress nos seus trabalhadores, oferecer suporte adequado e cultivar um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.
- Promoção do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal: incentivar práticas que ajudem os trabalhadores a manterem um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como horários flexíveis, trabalho remoto (quando possível) e uma política clara de desconexão após o horário de trabalho.
- Apoio à saúde mental: disponibilizar recursos como aconselhamento ou terapia através de programas de saúde, e garantir que todos saibam como aceder a esses serviços.
- Resolução de conflitos e melhoria da comunicação: implementar mecanismos eficazes de resolução de conflitos e encorajar uma comunicação aberta e respeitosa para evitar mal-entendidos e tensões no local de trabalho.
- Reconhecimento e valorização: criar sistemas de reconhecimento que valorizem não apenas as conquistas, mas também o esforço e a dedicação dos trabalhadores, ajudando a aumentar a satisfação no trabalho e a motivação.
- Formação contínua e desenvolvimento de carreira: oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal, ajudando os trabalhadores a sentirem-se valorizados e parte integrante do sucesso da organização.
- Desenvolver boas relações com os colegas criando rede de apoio.
- Falar com pessoas em quem confiamos dentro e fora do local de trabalho sobre aquilo que nos preocupa e nos faz sentir stressados.
- Dizer quando precisamos de ajuda.
- Ser assertivo: dizer “não” quando não conseguimos gerir mais tarefas.
- Ser realista: não precisamos de fazer tudo “perfeito” “sempre”.
Estas sugestões podem ajudar a criar um ambiente de trabalho mais positivo, onde os trabalhadores se sintam apoiados e valorizados, e onde os riscos à saúde mental sejam minimizados.
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