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Quantas vezes ouvimos “Uma palmada bem dada, resolvia” ou “Se fosse meu filho, levava uma palmada”? Ainda hoje, é comummente aceite e reforçada a ideia de que o castigo, em especial “uma palmada na hora certa é educativa”. Neste contexto, espera-se que o castigo reduza ou elimine o comportamento indesejado da criança. Muito embora se perceba uma redução na adoção de práticas educativas inadequadas, no âmbito da campanha “Nem mais uma palmada”, levada a cabo pelo Instituto de Apoio à Criança em 2022, verificou-se que cerca de 3 em cada 10 pessoas ainda consideram poder usar-se castigos corporais em crianças como prática educativa legítima face a comportamentos considerados desadequados ou desrespeito pelos outros. Contudo, levantam-se questões relacionadas com a eficácia e efeitos destas práticas. Vejamos algumas delas.
Os castigos (mais duros) permitem controlar o comportamento indesejado da criança?
Não. Os castigos corporais, por exemplo, são ineficazes na educação das crianças, verificando-se que frequentemente as crianças voltam a repetir o comportamento alvo de punição. Os castigos são estratégias centradas nas necessidades dos pais, que desconsideram as necessidades das crianças, e que ensinam às crianças que a violência é uma forma aceitável de resolução de conflitos. Além do impacto negativo que têm no desenvolvimento das crianças, os castigos não contribuem para ensinar comportamentos positivos e tendem a reforçar comportamentos de agressividade e violência.
Os castigos têm impacto negativo no desenvolvimento da criança?
Sim. Desde a década de 90, que a investigação tem demonstrado efeitos negativos do castigo físico no desenvolvimento das crianças, em especial, relacionados com a saúde mental, aprendizagem, violência interpessoal e relação pais-filhos. Ao contrário do efeito esperado, o castigo corporal parece estar associado a uma menor capacidade cognitiva, resultados académicos mais baixos, dificuldades de aprendizagem e agravamento de comportamentos agressivos e de desobediência.
Os castigos são úteis na educação das crianças?
Não. Os castigos são ineficazes na resolução de problemas ou na redução de comportamentos considerados desadequados, contribuem para agravar comportamentos menos desejáveis, nomeadamente a legitimação da violência, e afetam a relação pais-filhos de forma negativa.
Educar sem castigar é possível?
Sim. Educar uma criança é difícil. Não é por acaso que, por vezes, alguns pais referem “perdi a cabeça” ou “já não sei o que fazer”. Os desafios são diários e exigem ser consciente (reconhecer as necessidades e dar segurança), sensível (compreender e respeitar), positivo (ouvir, negociar e incentivar) e consistente (ter e manter rotinas, regras e limites claros).
Concretizando, seguem algumas sugestões para educar sem castigar:
- Desenvolver uma relação positiva e de afeto. Contrariando outro dito popular, o “mimo” não estraga, isto é, o afeto e a manifestação de afeto são condições para a relação positiva entre pais e filhos e, por isso, condição para o desenvolvimento positivo da criança. Brincar, elogiar, abraçar e confortar são exemplos de importantes manifestações de afeto.
- Estabelecer regras e limites claros. A existência de rotinas, regras e limites claros não limita o afeto ou a atenção às necessidades de cada criança. Pelo contrário, é garantia de segurança e conforto ao guiarem o comportamento. Por este motivo, é fundamental que as crianças saibam o que se espera delas bem como compreendam os “porquês”. Conversar e negociar a regra ou a rotina é uma boa forma de prevenir comportamentos considerados indesejáveis e ensinar comportamentos positivos na relação com o outro.
- Ser exemplo. O comportamento que esperamos ensinar aos nossos filhos deve ser o comportamento do adulto. A modelagem, isto é, ensinar através do exemplo, é uma excelente estratégia a usar na educação. Por exemplo, se espera que o seu filho diga “Bom dia!” quando chega à escola ou a casa, deve fazê-lo também.
- Encontrar as soluções. O diálogo e a negociação são formas positivas de resolver problemas ou dificuldades. Conversar sobre o comportamento e os seus efeitos, definir em conjunto uma consequência ajustada à ação e encontrar uma forma de reparação do dano causado são exemplos de estratégias positivas a adotar.
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