O Psicólogo Responde: Os castigos mais duros têm impacto bom ou mau no desenvolvimento mental da criança?
Castigo

O Psicólogo Responde: Os castigos mais duros têm impacto bom ou mau no desenvolvimento mental da criança?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Marisa Carvalho
Psicóloga e presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia da Educação da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Quantas vezes ouvimos “Uma palmada bem dada, resolvia” ou “Se fosse meu filho, levava uma palmada”? Ainda hoje, é comummente aceite e reforçada a ideia de que o castigo, em especial “uma palmada na hora certa é educativa”. Neste contexto, espera-se que o castigo reduza ou elimine o comportamento indesejado da criança. Muito embora se perceba uma redução na adoção de práticas educativas inadequadas, no âmbito da campanha “Nem mais uma palmada”, levada a cabo pelo Instituto de Apoio à Criança em 2022, verificou-se que cerca de 3 em cada 10 pessoas ainda consideram poder usar-se castigos corporais em crianças como prática educativa legítima face a comportamentos considerados desadequados ou desrespeito pelos outros. Contudo, levantam-se questões relacionadas com a eficácia e efeitos destas práticas. Vejamos algumas delas.

Os castigos (mais duros) permitem controlar o comportamento indesejado da criança?

Não. Os castigos corporais, por exemplo, são ineficazes na educação das crianças, verificando-se que frequentemente as crianças voltam a repetir o comportamento alvo de punição. Os castigos são estratégias centradas nas necessidades dos pais, que desconsideram as necessidades das crianças, e que ensinam às crianças que a violência é uma forma aceitável de resolução de conflitos. Além do impacto negativo que têm no desenvolvimento das crianças, os castigos não contribuem para ensinar comportamentos positivos e tendem a reforçar comportamentos de agressividade e violência.

Os castigos têm impacto negativo no desenvolvimento da criança?

Sim. Desde a década de 90, que a investigação tem demonstrado efeitos negativos do castigo físico no desenvolvimento das crianças, em especial, relacionados com a saúde mental, aprendizagem, violência interpessoal e relação pais-filhos. Ao contrário do efeito esperado, o castigo corporal parece estar associado a uma menor capacidade cognitiva, resultados académicos mais baixos, dificuldades de aprendizagem e agravamento de comportamentos agressivos e de desobediência.

Os castigos são úteis na educação das crianças?

Não. Os castigos são ineficazes na resolução de problemas ou na redução de comportamentos considerados desadequados, contribuem para agravar comportamentos menos desejáveis, nomeadamente a legitimação da violência, e afetam a relação pais-filhos de forma negativa. 

Educar sem castigar é possível?

Sim. Educar uma criança é difícil. Não é por acaso que, por vezes, alguns pais referem “perdi a cabeça” ou “já não sei o que fazer”. Os desafios são diários e exigem ser consciente (reconhecer as necessidades e dar segurança), sensível (compreender e respeitar), positivo (ouvir, negociar e incentivar) e consistente (ter e manter rotinas, regras e limites claros).

Concretizando, seguem algumas sugestões para educar sem castigar:

  • Desenvolver uma relação positiva e de afeto. Contrariando outro dito popular, o “mimo” não estraga, isto é, o afeto e a manifestação de afeto são condições para a relação positiva entre pais e filhos e, por isso, condição para o desenvolvimento positivo da criança. Brincar, elogiar, abraçar e confortar são exemplos de importantes manifestações de afeto.
     
  • Estabelecer regras e limites claros. A existência de rotinas, regras e limites claros não limita o afeto ou a atenção às necessidades de cada criança. Pelo contrário, é garantia de segurança e conforto ao guiarem o comportamento. Por este motivo, é fundamental que as crianças saibam o que se espera delas bem como compreendam os “porquês”. Conversar e negociar a regra ou a rotina é uma boa forma de prevenir comportamentos considerados indesejáveis e ensinar comportamentos positivos na relação com o outro.
     
  • Ser exemplo. O comportamento que esperamos ensinar aos nossos filhos deve ser o comportamento do adulto. A modelagem, isto é, ensinar através do exemplo, é uma excelente estratégia a usar na educação. Por exemplo, se espera que o seu filho diga “Bom dia!” quando chega à escola ou a casa, deve fazê-lo também.
     
  • Encontrar as soluções. O diálogo e a negociação são formas positivas de resolver problemas ou dificuldades. Conversar sobre o comportamento e os seus efeitos, definir em conjunto uma consequência ajustada à ação e encontrar uma forma de reparação do dano causado são exemplos de estratégias positivas a adotar.

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