
O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt
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De onde vem esta importância que damos ao corpo?
A relação com o corpo e a importância que hoje lhe damos não surge do nada, está antes inscrita na história da própria humanidade.
No início, ainda nas savanas, o corpo era o principal elemento de adaptação. A sua resistência, força, solidez e agilidade eram fundamentais à sobrevivência.
Na Antiguidade, o corpo era um espaço sagrado que acolhia a inteligência, o saber e a cidadania. Cuidar do corpo era considerado um dever de um “bom cidadão” e a atividade física era uma grande parte da educação. Um corpo escultural representava por isso o trabalho e a dedicação a essa causa de se tornar melhor pessoa e, no limite, mais próximo dos deuses.
Na Idade Média o corpo separa-se da alma e esta só poderia ser suficientemente pura se a vida fosse de privação e sacrifício do corpo. A resistência à tentação das necessidades do corpo (ex: descanso, comida ou sexo) eram o caminho da salvação.
Depois, e até ao século XIX, foi a razão e o seu primado que ganharam relevância. O pensamento era o referencial para a existência – “Penso logo existo”. O corpo não passou apenas para segundo plano, foi mesmo separado e negligenciado. Viver os seus prazeres e necessidades não era apenas pecado, mas sinal de inferioridade intelectual.
O século XX trouxe o corpo para o centro da vida pública. A imagem corporal, sobretudo das mulheres, foi explorada e mercantilizada por diferentes indústrias, através, por exemplo, da publicidade ou do cinema.
E agora? Como vemos o corpo e qual o valor que lhe damos?
Agora, seguimos no curso já iniciado nos meados do século XX, com uma “pequena” diferença – agora não olhamos apenas os corpos de modelos ou de pessoas distantes e “irreais”. Agora esses corpos admirados são os colegas da escola, os amigos dos amigos, são pessoas como eu. Agora a comparação acontece mais cedo, é mais próxima e por isso mais poderosa e perigosa. O corpo é mais um dos elementos da linguagem com que comunicamos. Mostrar o corpo, em todas as suas formas na comunicação com o mundo, passou a ser normal, aceite e banalizado.
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Quando a relação com o corpo se torna um problema
Cada vez se usa mais o corpo para comunicar e pouco, muito pouco, se faz para o educar, compreender, cuidar. E quanto menos compreendermos como funciona, menos entendemos as suas necessidades e maior será a probabilidade de o tratarmos mal.
E é aqui que começam os problemas. E um deles pode ser uma relação com a imagem que, por ser distorcida, pode tornar-se problemática.
Se o corpo passa a ser um elemento de comunicação, de integração e pertença, então para poder fazer parte, e não ser rejeitado é imperativo usá-lo como tal. E a obsessão começa
quando deixa de ser “UM” e passa a ser “O” elemento mais importante nessa comunicação consigo, com o outro ou com o mundo.
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Quais os sinais de alerta?
Durante a adolescência o corpo altera-se. Por vezes rápido demais trazendo dificuldades na gestão dessas mudanças. Outras vezes, rápido de menos (crescem menos, ou têm o período mais tarde) trazendo complexos ou impacto na autoestima.
Essas reações cabem na trajetória do desenvolvimento e podem diluir-se no tempo de forma mais harmoniosa se ajudar o seu/sua filho/a na sua relação com o corpo:
- Educar: estimule alguma atividade física. Pode ser qualquer desporto, dança, patinagem, ou simplesmente caminhar ao ar livre.
- Compreender: explique como o corpo se desenvolve em diferentes ritmos, como funciona e quais as necessidades às quais temos mesmo que responder – o descanso, a nutrição, o movimento.
- Cuidar: lembre diferentes formas de cuidar do corpo. Desde o cuidado com a pele, ao tipo de comida que ingere, mas também ao afeto que dá e recebe dos outros.
Há outras reações que podem ser mais preocupantes e constituir sinais de alerta. Para os detetar coloque as seguintes questões e fale sobre elas em família:
- Quanto tempo passa falar (bem ou mal) do seu corpo ou de outros?
- Na hora de comprar roupa ou escolher o que vestir, qual é o seu estado de humor?
- Como reage quando recebe comentários de outras pessoas acerca do seu corpo?
- As roupas que usa escondem ou mostram o corpo de forma ostensiva?
- Qual é a sua relação com a comida? É regular e consistente ou parece comer de forma mais impulsiva?
Ao recolher as respostas a estas questões de todas as pessoas da família (e talvez alguns amigos) vai notar se há um padrão que aponta para uma relação negativa ou problemática com o corpo. Fique com mais atenção e se, para além disso perceber que o seu/sua filho/a fica emocionalmente agitado/a, ou se começa a alterar as suas rotinas ou atividades, então é altura de contactar um especialista e pedir ajuda.
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