Salta da cama! São sete da manhã e aquele alarme persiste. Que irritante! Parece que ainda agora caiu na cama em exaustão. Ainda meio a dormir sai disparado para a casa de banho para fazer a higiene pessoal, segue para à pressa para um café a queimar e o relógio num tic tac sem parar. no telemóvel as notícias preocupantes que aparecem em “loop” sempre que fazemos “scroll” até parecer que está tudo louco.
Dirige-se ao carro, não sabe da chave; onde raio terá ficado? A mente “a mil”, a antecipar-se à nossa capacidade de organizar emoções. A irritação que sobe e consome agravada pelo trânsito que não anda, os miúdos que vão chegar atrasados à escola e o prazo para entregar o projeto no trabalho que era “para ontem” e irá fazer com que o “chefe” lhe faça a vida negra ou o despeça.
Chega a casa no fim do dia e a descarga é sobre todos aqueles que não têm qualquer responsabilidade. A sensação de estar a explodir, com tudo e com todos, soltando um “só apetece desaparecer!” em exaustão. Na manhã seguinte:
“Salta da cama! São sete da manhã e aquele alarme persiste.”.
Esta descrição repetitiva é-lhe familiar? Será a nossa realidade imutável? Não haverá algo que possamos fazer?
A conjuntura atual inerente a uma grande quantidade de estímulos, num pós-pandemia, entre guerras, com polarização política e alterações climáticas, sobrecarrega-nos e agrava a pressão na execução das nossas tarefas. E isso potencia níveis de stress sem precedentes numa sociedade que desumaniza enquanto exige resultados imediatos.
A irritação esporádica pode estar ligada a estímulos como o mastigar de boca aberta, um giz a sibilar num quadro de ardósia, o ranger dos dentes, ou aquela pessoa com aquele tique específico. Numa outra perspetiva, a irritabilidade pode estar também associada a uma fase da vida em que temos de lidar com uma época de exames, um curto prazo para a entrega de um projeto importante, ou enquanto aguardamos os resultados de um exame médico ou de uma entrevista de emprego.
De uma forma mais persistente, pode estar mesmo associada a uma determinada situação clínica que nos deixa ainda mais sensíveis e reativos perante os mais variados estímulos. E, nessa perspetiva, a irritação pode assim, estar associada a uma saúde psicológica precária e até a uma condição clínica que pode envolver um quadro de depressão, ansiedade, dependência, trauma, burnout, entre outros.
Consequentemente, sem se ter perceção, procuram-se “escapes”, dando preferência aos que aparentemente “resolvem” de forma rápida e eficaz este estado emocional desagradável. Alguns culturalmente enraizados, acessíveis e até promovidos pelos pares, como uma resolução tipo “bebe aí um copo e não penses mais nisso, que eu pago esta rodada”. Com todas as consequências que daí advêm.
Mas será esta a forma mais correta de lidar com os problemas ou uma forma de os agravar?
Resolução
Pare, escute (se), olhe (para si) e reflita.
Se sentir que tudo o irrita de forma recorrente, não reduza a “é só uma fase”.
Maslow afirmava que uma pessoa para mudar tem de começar por ter consciência de si própria, desde as suas necessidades mais básicas até ao que permite a sua autorrealização pessoal e profissional. É importante começar por aceitar a nossa condição e a nós próprios, fazer a pergunta certa e procurar as respostas mais ajustadas para a nossa autorregulação e bem-estar.
Numa sociedade sem contemplações, os que têm recursos de adaptação menos adaptativos são os que mais sofrem. As estratégias de adaptação, também designadas por “coping”.
Para não andarmos irritados, o que poderemos fazer?
- Mudar rotinas: tente alterar hábitos diários que sente que o prejudicam e condicionam no tempo despendido.
- Respirar: Procure respirar e focar-se no momento. Repetidamente inspirar pelo nariz lentamente, com a barriga e expirar ainda mais lentamente pela boca.
- Imaginação guiada: foco em imagens mentais de paisagens agradáveis e no momento presente.
- Relaxamento muscular progressivo: contração e relaxamento de diferentes grupos musculares passando para outras partes do corpo, pescoço, mãos, braços, entre outros, com a atenção dirigida para as sensações físicas geradas.
- Yoga, meditação ou mindfulness são também opções a ter em conta.
- Sono reparador: evite ecrãs a partir da hora de jantar. A exposição prolongada inibe a libertação de melatonina, que promove o sono. Uma boa noite de sono com cerca de 7 horas pode fazer maravilhas para melhorar o(s) seu dia(s). Ponha o alarme mais cedo e saia logo de cama (sem ceder ao telemóvel)!
- Atividade física: não tem de ir correr a maratona, mas porque não criar uma rotina diária de 20 minutos de caminhada ou de uma corrida? Pondere inscrever-se num ginásio e “obrigue-se” a mudar de hábitos.
- Alimentação saudável: a alimentação está diretamente ligada à nossa qualidade de vida; uma alimentação equilibrada com os nutrientes certos.
- Sol: há alturas do ano em que estamos mais propensos a alterações de humor. Isto deve-se à alteração dos níveis de serotonina. 15 a 20 minutos de exposição solar em horas de menores índices UV promovem a produção de vitamina D e esta a libertação de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar.
- Cultura e artes: ler estimula a capacidade cognitiva, a criatividade o bem-estar. Ouça música. Os estudos indicam que ouvir aquelas músicas que gostamos promove a libertação de dopamina, o neurotransmissor fundamental para o nosso bom funcionamento cognitivo e regulação emocional.
- Estímulos positivos: procurar fontes de informação credíveis que transmitam conteúdo de qualidade e cuja informação não se baseie em dramatizações em repetições da mesma notícia; procurar meios de comunicação que informam de forma séria.
- Vida social ativa: evite as redes sociais digitais e envolva-se em atividades sociais com a rede de pessoas com quem se sente bem; afaste-se de quem alimenta toxicidade.
- Não adie: deixe a procrastinação para outro dia e faça hoje e que o fará sentir-se “vivo” e com a sensação de menos um problema para resolver. Adiar uma questão hoje gera maior stress amanhã.
- Tome controlo da sua própria vida: o pouco que podemos controlar são as nossas decisões e, como tal, devemos decidir pelo nosso bem-estar e sentir que temos controlo nas decisões que nos proporcionam bem-estar e aceitar que não podemos controlar o que nos rodeia.
- Procure um especialista: a mudança vem de nós, mas um especialista pode ajudar a decidir quais os passos certos. Poder tomar decisões é também uma forma de sentir que temos o poder de mudar a nossa vida. Um psicólogo pode ajudar.
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