NOTA DO EDITOR | As opiniões expressas neste comentário são apenas dos autores. A CNN está a publicar o trabalho de The Conversation, uma colaboração entre jornalistas e académicos para proporcionar análise e comentário jornalístico. O conteúdo é produzido em exclusivo por The Conversation
A morte da rainha Isabel II suscitou manifestações públicas de pesar em todo o mundo – desde ajuntamentos públicos no Palácio de Buckingham, em Londres, e condolências de líderes mundiais, a indivíduos que expressam nas redes sociais o que ela significava para eles.
Claro que a grande maioria das pessoas que sofre ou sente a morte da rainha nunca a terá conhecido pessoalmente.
Será então esta expressão de luto por alguém que não conhecemos diferente de chorar por alguém de quem éramos próximos?
Há algumas semelhanças e algumas diferenças. Existe também uma divisão na forma como a rainha é lembrada, o que pode potencialmente complicar o processo de luto.
Em que é que esta dor é semelhante?
Fazer o luto por alguém tem a ver com refletirmos sobre a nossa ligação de uma vida e a afeição que sentíamos por alguém que já não existe fisicamente.
Mesmo que a rainha não tenha feito parte da nossa família imediata, muitos de nós "crescemos" com ela.
Durante o seu reinado de 70 anos, ela fez parte das nossas vidas – parte da vida dos nossos avós, da vida dos nossos pais e agora da nossa. Pense nisso como ligações intergeracionais. Nós, coletivamente e através das gerações, sentimos como se a conhecêssemos.
Globalmente, também temos andado a preparar-nos para perdê-la. A idade avançada, os problemas de saúde e planos para o que acontece depois da morte da monarca têm sido alvo de muita cobertura mediática.
Portanto, esta "familiaridade" significa que o tipo de dor que estamos a ver agora pode ser muito semelhante a ter alguém nas nossas vidas, e depois perdê-la.
Em que é que esta dor é diferente?
Mas o luto por uma figura pública que não conhecemos, como a rainha, pode ser bem diferente.
Falta-nos a ligação próxima com aquele indivíduo. Muitos não têm histórias pessoais, ou experiências partilhadas. Não temos essas memórias entrelaçadas nas quais refletir. Como essa pessoa está fora de alcance, é difícil criar uma imagem de quem essa pessoa realmente era e o que significa para nós.
Em vez de refletirmos sobre uma relação individual com um ente querido, após a morte de uma figura pública, contamos com experiências comunitárias para uma espécie de luto coletivo que determina a forma como partilhamos a nossa dor online.
Um luto contestado
Como a maioria de nós não conhecia pessoalmente a rainha, a nossa perceção dela – os seus atributos, a sua personalidade – não se baseia em factos.
Por exemplo, a forma como uma pessoa se lembra dela pode ser afetada pela sua idade, pelas suas opiniões políticas, ou se as suas vidas foram moldadas pelo colonialismo.
Qual é o papel dos meios de comunicação social?
Os meios de comunicação desempenham um papel fundamental na forma como fazemos o luto.
Atualizações em tempo real e cobertura constante, como vimos em torno da morte da rainha, significa que temos estado a preparar-nos para a notícia da sua morte. Depois, chegaram as notícias.
Mas este lugar na primeira fila no desenrolar dos eventos e a manifestação de tristeza pública que se seguiu pode ser, para alguns, um "gatilho".
Para as pessoas que perderam um ente querido – recentemente ou mesmo há anos – esta cobertura mediática pode desencadear memórias do que aconteceu quando o seu familiar ou amigo morreu.
As restrições da covid podem ter-lhes roubado a oportunidade de prestar cuidados em fim de vida ou de assistir a um funeral.
Então este ciclo noticioso de 24 horas, e ser atualizado em cada passo da doença da rainha e agora da morte, pode reavivar as nossas próprias experiências de perda. Temos de ser cautelosos com essas reações variadas.
Por isso, há uma batalha a ser travada nas redes sociais pela forma como é recordada – no Reino Unido, na Commonwealth e em boa parte do mundo. Essa batalha também pode complicar o luto quando as pessoas partilham diferentes reações à sua morte.
Levanta questões sobre se podemos sofrer, ou sobre quem pode expressar a sua dor, ou mesmo se discordamos se o luto é apropriado.
Temos de dar espaço a todas estas reações diferentes à sua perda.