O funeral da rainha

18 set 2022, 23:57

O mundo acorreu em peso a Londres. Em vésperas do funeral da Rainha Isabel II, o coração do Reino Unido palpita entre a solenidade do momento histórico e agitação provocada pelo aparato de decisores políticos e representantes diplomáticos, chefes de estado e chefes de governo, governadores-gerais e famílias reais. A estes juntam-se os milhares de britânicos movidos pelo sentido de homenagem e os turistas atraídos pelo acontecimento. Londres tornou-se intransitável, com estradas cortadas e acessos condicionados, multidões em filas a transbordar os passeios, helicópteros a rasgar os céus, colunas de carros apressados a abrir caminho, sirenes de passagem incessantes noite fora. Sobressaltos do frenesim de uma cidade que não dorme - está à espera.

As atenções viram-se assim para a Abadia de Westminster, onde há mais de 70 anos era coroada uma jovem Isabel, num mundo de ontem que testemunhou a confluência dos tempos para a monarca que viria a ver tudo - desde o final do imperialismo britânico ao final do europeísmo britânico, um Reino Unido “orgulhosamente só” navegando pela vontade de uma influência, entretanto naufragada. O Reino Unido de Carlos III é também por isso esse que procura identidade no mundo de hoje em transição, entre as palpitações internas e os desafios externos. 

Nada que, no adeus a Isabel II, tenha demovido milhares de enfrentarem as horas e o frio, as noites ao relento em longas filas de espera para uma última vénia a quem os serviu depois de tanto tempo. Para quase todos, o tempo de todas as suas vidas. E milhares, possivelmente milhões, vão encher as ruas outra vez no maior desafio de segurança do Reino Unido, dizem, desde a Segunda Guerra Mundial. Também aí há memória e legado - das provações de ontem que construíram o imaginário nacional à abundância dos tributos de hoje que fortalecem o sentimento de pertença. 

E ainda que venha a ser por pouco tempo, como se a realidade tivesse sido suspensa, a orgulhosa ilha britânica encerra uma era para o mundo inteiro assistir. O peso do momento é mais do que palpável: está no aceno e nos aplausos de despedida à Rainha que as próximas horas vão trazer.

Colunistas

Mais Colunistas

Patrocinados