Cinco mensagens que o Papa Francisco deixou em Lisboa para os jovens (e não só) de todo o mundo

6 ago 2023, 22:31
Papa Francisco no Parque Tejo para a Missa do Envio (Lusa)

A condenação dos abusos sexuais, a inclusão, os perigos do mundo virtual, a necessidade de políticas para as pessoas e, por fim, um apelo à ação: "Não tenham medo"

O Papa Francisco esteve cinco dias em Lisboa e, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), participou em diversos eventos, visitou escolas, universidades e centros sociais, proferiu homílias e discursos para milhares de pessoas. Entre as muitas ideias de Francisco, destacamos cinco:

Condenação dos abusos sexuais e encontro com as vítimas: Francisco “pediu perdão, com vergonha”

Esta foi a primeira visita do Papa Francisco a Portugal depois de, em fevereiro, ser revelado o demolidor relatório da Comissão Independente para o Estudos dos Abusos Sexuais a Crianças na Igreja Católica Portuguesa, com testemunhos que dão voz a mais de 4.800 vítimas. A expectativa era grande: de que forma Francisco iria referir o tema? Não foi preciso esperar muito, logo na quarta-feira, dirigindo-se à comunidade eclesiástica no Mosteiro dos Jerónimos, o Papa referiu-se a um “grito angustiado” que deve ser ouvido por todos, em particular pela Igreja Católica, apelando  à reconciliação das vítimas com a instituição, num caminho “purificação humilde e contínua”.

 Ainda nesse dia, e como já tinha sido anunciado, Francisco encontrou-se com treze das vítimas portuguesas. Foi, nas palavras de quem participou, um momento emocionante. “Havia, de facto, uma disponibilidade emocional muito grande, sem pressas, sem atenção ao tempo e, por isso, cada pessoa teve o seu momento, a sua oportunidade de partilhar aquilo que entendeu, foi escutada", contou a psicóloga Rute Agulhas. Francisco escutou e, no final, “pediu perdão, com vergonha, em seu nome pessoal e em nome da Igreja. E encorajou todos a continuar o seu caminho, apesar das cicatrizes que permanecem". 

Na Igreja cabem "todos, todos, todos": o apelo à inclusão

"Rapazes e raparigas, somos amados tal como somos, sem maquilhagem, entendem isto?" Na cerimónia de acolhimento, o primeiro encontro do Papa Francisco com os jovens que participaram na JMJ, que aconteceu ao final do dia de quinta-feira, Francisco quis transmistir essencialmente duas mensagens: primeiro que cada pessoa é amada por Deus tal como é e, depois, que "na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos". "Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos às falsidades e a palavras vazias: na Igreja há espaço para todos e, quando não houver, por favor façamos com que haja, mesmo para quem erra, para quem cai, para quem sente dificuldade", disse. E, dirigindo-se aos jovens: "Repitam comigo. Quero que digam na vossa própria língua: todos, todos, todos." 

A ilusão do mundo virtual e o perigo das redes sociais

Tal como Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, já tinha feito na missa de abertura da JMJ, o Papa Francisco alertou os jovens para o perigo que pode vir do “mundo virtual” que tanto significado tem para os jovens mas que é apenas uma ilusão: “Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. São as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que nos atraem e prometem felicidade mostram se depois pelo que são: coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam o vazio interior."

A saúde mental, a solidão, a ansiedade, a depressão, a angústia provocada pelo medo do futuro, pela incerteza das guerras e da catástrofe ambiental - todos estes foram temas recorrentes ao longo desta JMJ, sobretudo trazidos pelos testemunhos dos jovens. Francisco instou os jovens a procurarem os verdadeiros sentimentos - em Deus e nos que os rodeiam - e a serem curiosos, a fazerem muitas perguntas: "A inquietude é o melhor remédio contra a habituação, aquela normalidade rasteira que anestesia a alma", disse. 

Onde a religião e a política se interligam: a importância de governar para as pessoas

No primeiro discurso em Portugal, no Centro Cultural de Belém, o Papa Francisco lançou o seu olhar ao mundo em que vivemos e identificou alguns dos seus grandes problemas, como as guerras e as crises climáticas e migratórias. "As grandes questões hoje, como sabemos, são globais" e, por isso, exigem uma ação mais eficaz e concertada por parte dos poderes políticos, apelou. 

“O mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira: precisa do seu papel de construtora de pontes e de pacificadora do Leste europeu, no Mediterrâneo, na África e no Médio Oriente", disse, apontando ainda o dedo às “derivas totalitaristas” que “usam e descartam” a vida humana. "Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios?", questionou. Estes problemas afetam também os jovens que "desanimam, com a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade de encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo". O futuro, para ser melhor, não precisa só de fé, precisa de medidas políticas e económicas - macro e micro.

"Não tenham medo": a esperança no futuro

Foi uma das frases que Francisco mais repetiu ao dirigir-se aos jovens: "Não tenham medo". Repetiu-a, este domingo, várias vezes, na homília da última missa da JMJ perante 1,5 milhões de pessoas. "A vós, jovens, que cultivais sonhos grandes, mas frequentemente ofuscados pelo medo de não os ver realizados; avós, jovens, que às vezes pensais que não ides conseguir; a vós, jovens, tentados neste tempo a desanimar, a julgar-vos inadequados ou a esconder a vossa dor disfarçando-a com um sorriso; a vós, jovens, que quereis mudar o mundo e lutais pela justiça e pela paz; a vós, jovens, que investis o melhor do vosso esforço e imaginação ficando porém com a sensação de que não bastam (...) precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz: Não tenham medo."

O convite é feito à ação - não tenham medo de agir, de seguir em frente com os vossos ideais e as vossas crenças - para que as palavras aqui ditas não sejam esquecidas assim que a JMJ termine e cada um regresse à sua casa. 

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