JMJ junta 200 mil jovens no Parque Eduardo VII e Manuel Clemente pede-lhes que larguem os telemóveis e enfrentem a realidade

1 ago 2023, 22:22

Está oficialmente aberta a Jornada Mundial da Juventude. Na quinta-feira os jovens voltam ao Parque Eduardo VII para o primeiro encontro com o Papa Francisco

"A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor." A mensagem do cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, aos milhares de jovens à sua frente, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, não podia ser mais clara.

"É verdade que hoje muita coisa vos pode deter, caros amigos, com a possibilidade de substituirmos a realidade verdadeira, que só se atinge a caminho dos outros, como realmente são, pela aparência virtual dum mundo à escolha. Um mundo à escolha diante dum ecrã e dependente de um clique que o mude por outro”, sublinhou Manuel Clemente na missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). "Vivemos mediaticamente e já não saberíamos viver doutro modo (…) mas não nos dispensamos de caminhar por nós mesmos, de contactar e verificar directamente a realidade que nos toca, a nós e a todos."

O convite fica feito: desliguem os telemóveis, levantem-se e andem, como fez Maria, e olhem à vossa volta. E a verdade é que, se antes da missa, muitos jovens diziam que sentiam-se como se estivessem num festival de música, quando se ouviram os acordes da orquestra e as vozes do coro da JMJ, o ambiente de festa deu lugar a uma certa acalmia e a maioria dos participantes guardou o telemóvel. Ainda que nem todos conseguissem estar suficientemente concentrados na missa, fosse por estarem muito longe ou por não perceberem português, é inegável que, entre aplausos e cânticos, sentiu-se uma certa união entre aquelas pessoas vindas de tantos países diferentes - por exemplo, quando quase todo o parque silenciou e se ajoelhou precisamente no momento da comunhão, na qual participaram 2.200 voluntários leigos que se foram espalhando pelo recinto, quase desde o início da cerimónia, para poderem estar no meio da multidão no momento certo.

Maria não se ajoelhou. Grávida de quase seis meses, Maria esteve durante toda a cerimónia sentada na relva, numa zona reservada às forças da segurança, enquanto ao seu lado o marido, Daniel, cumpria os rituais. Mas mesmo com dores nas costas e todo o desconforto da barriga, Maria sorria no final da missa. "Queria mesmo vir a uma Jornada Mundial da Juventude antes da bebé nascer", conta. Vieram do Reino Unido integrados num grupo de 100 peregrinos da missão Jesus Youth, mas acabaram por se afastar do grupo para Maria poder ficar melhor instalada. "Não existe um espaço específico para grávidas, mas os polícias foram muito simpáticos, deixaram-me passar e ficar aqui neste espaço, não tive que ficar lá no meio", conta. E garante estar preparada para viver a JMJ até ao fim.

Daniel e Maria vieram do Reino Unido

À tarde, a polícia estimava que fossem estar cerca de 200 mil peregrinos no parque. Os jovens encheram o relvado e espalharam-se pelas colinas, deixando poucos espaços vazios. Muitos deles não tinham qualquer visão do palco e, por culpa das árvores e das bancadas instaladas - para os convidados VIP e para a comunicação social -,  tinham até pouca visão dos ecrãs gigantes espalhados no recinto. Ao início, a polícia teve mesmo que colocar mais grades em alguns locais, houve uns empurrões, umas pessoas que se sentiram mal e tiveram que ser assistidas pelas equipas da INEM. É difícil imaginar como vai estar o espaço na quinta e na sexta-feira, quando o Papa Francisco participar nas cerimónias. Em alguns aspetos esta missa foi também uma espécie de ensaio para o que ainda virá.

Depois da comunhão, muitos dos jovens começaram a dispersar. No final, Manuel Clemente pediu a todos que “anunciem o Evangelho" e desejou “boa jornada” em várias línguas. A saída fez-se ordeiramente. Começaram a abrir-se algumas clareiras no parque, alguns jovens ficaram deitados no relvado, evidenciando algum cansaço, enquanto um último grupo musical brasileiro subia ao palco para fechar a noite.

À saída da missa, Marcelo Rebelo de Sousa, que é católico, dizia que se “concretizou um sonho” e que, enquanto Presidente da República, estava “muito feliz”: "Foi um momento único na vida de todos os nós”, disse, em declarações aos jornalistas. Está oficialmente aberta a Jornada Mundial da Juventude. Amanhã o Papa Francisco chega a Lisboa e na quinta-feira os jovens voltam ao Parque Eduardo VII.

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