"Nunca imaginei que ia estar mesmo a poucos metros do Papa." Jovens de 22 países vão atuar no altar-palco da JMJ

1 ago 2023, 18:00
A maestra Joana Carneiro num ensaio do coro e da orquestra da JMJ (DR)

O Ensemble23 vai atuar nas cerimónias de Acolhimento, Via Sacra e Vigília, no Parque Eduardo VII e no Parque Tejo. A ele juntam-se um coro e uma orquestra e artistas como Carminho ou Mariza

Álvaro tem 26 anos é cantor e pianista e vem da Venezuela. Desde que há dez anos descobriu o que era a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que sonha com o momento de participar mas até hoje nunca tinha conseguido. "Para nós é muito difícil, temos poucos recursos", conta. Mas, quando soube que o encontro mundial de jovens com o Papa se iria realizar em Lisboa, decidiu que tinha de vir, seja de que forma fosse. "Comecei a poupar e a procurar na internet possibilidades de voluntariado. Foi assim que descobri esta audição para jovens artistas de todo o mundo. Pensei logo: Isto é para mim." Enviou a candidatura online e fez uma audição por videochamada. "Estava nervosíssimo. Mas quando soube que tinha sido aceite fiquei tão feliz!"

Álvaro chegou a Portugal há seis semanas para integrar o Ensemble23, um grupo de 50 jovens vindos de 22 países diferentes, representantes de todos os continentes. Têm estado em residência artística e o trabalho tem sido intenso, com ensaios quase todos os dias, oito horas, às vezes mais. "Já chegámos a ter 14 horas de ensaio num dia", diz o jovem venezuelano. Mas não se queixa. "Estou a adorar tudo nesta experiência, tenho aprendido imenso com todas estas pessoas tão diferentes. A paixão pela música e a vontade de servir a Igreja juntou-nos aqui e tem sido ótimo."

O Ensemble23 é um grupo formado especificamente para atuar em três dos eventos centrais da JMJ: o Acolhimento (na quinta-feira) e a Via Sacra (na sexta-feira), no Parque Eduardo VII; e a Vigília, sábado, no Parque Tejo. "O nosso objetivo é que em cima dos palcos já esteja um bocadinho daquilo que a jornada é, que é este encontro de culturas. Estes jovens com maneiras tão diferentes de trabalhar e de olhar para as artes têm vindo a trabalhar todos juntos, tem sido um processo muito bonito", conta a encenadora Matilde Trocado, diretora artística da JMJ. "É um desafio muito grande, mas está a ser muito bom, apesar de todo o trabalho. Tenho o privilégio de estar a trabalhar com este grupo de jovens que veio de todo o lado com uma dose de motivação e entusiasmo que é muito contagiante."

Além do grupo de jovens, os três eventos vão contar também com a participação da Orquestra e do Coro da JMJ, dirigidos por Joana Carneiro e Maria de Fátima Nunes, respetivamente. O Coro JMJ é formado por 200 coralistas de todas as dioceses do país, escolhidos através de audições. A orquestra JMJ é formada por cerca de 100 músicos convidados, profissionais das várias orquestras e bandas filarmónicas do país, alunos mais velhos de escolas de música e conservatórios, e estudantes universitários. O agrupamento “Mãos que Cantam” junta-se ao coro vai interpretar todo o repertório em tempo real em Língua Gestual Portuguesa.

Ensaio do coro e da orquestra da JMJ (DR)

"São eventos muitos diferentes", explica Matilde Trocado. "O Acolhimento é uma festa. É a primeira vez que os jovens se encontram com o Papa e é tudo o que se espera de uma cerimónia de boas-vindas, há muitas bandeiras, muita alegria." No espetáculo vão participar artistas como Mariza e Tiago Bettencourt. Buba Espinho traz consigo o Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento para dar voz à melodia tradicional do cancioneiro alentejano “Nossa Senhora do Carmo”. E Héber Marques "aceitou o desafio de compor uma música para a cerimónia", conta Matilde Trocado: vai apresentar o tema "Um dia de sol".

A Vigília é "geralmente um momento muito intenso para os jovens, porque acontece no final da semana, à noite". A vigília terá uma primeira parte, "mais artística" - que conta com a participação da fadista Carminho - "que serve para preparar a segunda parte, que é a Adoração do Santíssimo".

Mas, de todos, o evento que está a ser mais desafiante para os jovens artistas é a Via Sacra. "É o momento mais profundo porque é a narrativa da Paixão de Jesus. Mas também é o nosso evento mais disruptivo, mais fora da caixa", garante Matilde Trocado.

O padre João Goulão, jesuíta que integrou a equipa criativa deste evento, explica que, desde o início, havia o objetivo que "isto fosse uma experiência espiritual e que toda a gente, na medida do possível, estivesse a acompanhar a Via Sacra e pudesse estar imersa nesta experiência. Por isso, era muito importante que houvesse algum elemento para o qual toda a gente estivesse sempre a olhar e que pudesse ir acompanhando, porque essa parte física, do percurso, é muito importante na Via Sacra. Uma vez que isso seria complicado numa apresentação horizontal, decidimos criar um movimento vertical, para ser visível por todos". Foi assim que nasceu aquele palco vertical, que os jovens escalam, aparecendo em varandins a grande altitude. 

Além disso, foi feito um trabalho dramatúrgico para que a narrativa da Via Sacra se interligasse com as temáticas que dizem respeito aos jovens. Através do Dicastério para a Família foi realizado um inquérito para saber quais as grandes fragilidades que os jovens identificam no mundo. "Não queríamos que fosse uma coisa muito centrada na nossa experiência portuguesa, queríamos ouvir os jovens de todo o mundo", diz o padre João Goulão. Chegou-se assim a 14 fragilidades, cada uma correspondendo a uma estação da Via Sacra. Da violência à solidão, passando pela ilusão das redes sociais, há muitas fragilidades colocadas em palco.

"O texto liga a Paixão de Jesus com a experiência de Jesus que nos acompanha em todas as situações limites que vivemos todos os dias, sobretudo os jovens. Cada uma das estações vai refletir um bocadinho aquilo do que são os dramas dos jovens de hoje, mas sempre com esta mensagem: levanta-te e continua a caminhar, porque está acompanhado." Se o lema da JMJ é a frase: "Maria levantou-se e saiu apressadamente " (Lc 1, 39), aqui os jovens dizem: "Senhor, ensina-nos a nós, jovens, a levantar e andar em frente, mesmo quando a vida é difícil".

"Queríamos aliar a experiência estética à experiência espiritual", explica o padre João Goulão. "As coreografias traduzem de uma forma muito plástica aquilo que vão sendo as feridas, as telas desenhadas pelo padre Nuno Branco também tentam ir deixando graficamente as imagens do que se vai passando. A ideia é ficar com um mapa do percurso que fizemos com Jesus, deste os temas mais da terra e do sangue, atravessando todo o imaginário da luz, até que chegamos à morte de Jesus, abrindo-se uma grande fenda. Mas este rasgar provocado pela morte abre para a ressurreição. A vida não acaba na morte, isto não é uma experiência de desgraça total."

Álvaro e Jasmim, jovens que integram o Ensemble23

O evento acontece ao fim da tarde, com o sol a cair por detrás do altar-palco do Parque Eduardo VII. O Papa Francisco estará centrado no centro do palco, a orquestra e o coro à esquerda, os jovens a dançar à sua frente ou elevados pelo palco acima, carregando a cruz. "Vai ser muito bonito", antevê João Goulão.

"Nunca estive perto de nenhum Papa, e só o facto de poder estar perto do representante do apóstolo Pedro é extraordinário, não tenho palavras. Nunca imaginei que ia estar mesmo a tão poucos metros do Papa", diz, Álvaro. Jasmim Castro, bailarina portuguesa de 18 anos (acabou de saber que entrou para Escola Superior de Dança) não podia concordar mais: "Eu gosto muito de dançar, é a minha forma de comunicação, e estar a mostrar Jesus e a juventude através do corpo e do movimento é algo surreal para mim. Quando eu me mexo, Jesus está a dançar comigo."

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