O mapa da destruição russa: estas são as cidades-mártir da Ucrânia

9 abr 2022, 19:10
A mão de um dos corpos de civis encontrados mortos em Bucha (Sergei Supinsky / AFP)

É um mapa de horror, destruição, sofrimento, vidas desfeitas. Se Kiev sempre foi o principal alvo dos russos, certo é que a estratégia de centrar atenções no sul e no leste se torna evidente quando se reúnem os episódios que têm chocado o mundo

Bucha, Hostomel e Irpin

Os cadáveres no chão chocaram os altos representantes europeus, como Ursula von der Leyen, durante a visita. Bucha, nos arredores de Kiev, é um dos pontos onde a destruição é inegável. Mais de 400 pessoas, sobretudo civis, perderam a vida com a invasão russa, obrigando à abertura de valas comuns. Imagens que têm sido encaradas como provas dos crimes de guerra cometidos. Mas que acabaram por se revelar a ponta do iceberg.

A retirada das tropas russas dos arredores de Kiev permitiu ao mundo confrontar-se com o mais duro impacto da guerra: a morte de civis. Os nomes das cidades, vilas e aldeias atingidas sucedem-se. Bucha e Hostomel são as mais referidas. Em todas as ruas, um deserto de escombros, tanques e munições.

Ainda a guerra estava numa fase inicial e já Irpin, nos arredores da capital, era notícia pelo nível de destruição. Estimam-se mais de 300 mortes de civis. Entre eles, os que foram apanhados por um ataque que atingiu um corredor com cidadãos ucranianos que procuravam abandonar a cidade, rumo a um pouso mais calmo.

Soldado ucraniano inspeciona terreno em Bucha (Narciso Contreras/Anadolu Agency/Getty Images)

Borodyanka

O mundo estava a descobrir os contornos do massacre em Bucha e já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, avisava que o cenário em Borodyanka, a cerca de 50 quilómetros de Kiev, seria pior. Assim que as ambulâncias começaram a chegar à cidade, as equipas de apoio confrontaram-se com um rastro de destruição e morte: corpos de mãos atadas, prédios que caíram por inteiro. Para chegar a Borodyanka é preciso fazer vários quilómetros por uma estrada de terra pelo meio da floresta, porque as pontes da estrada principal foram destruídas. O autarca local chegou a falar em mais de 200 civis soterrados nos escombros. Cerca de cinco mil ucranianos resistiram e contam agora como os soldados russos matavam indiscriminadamente.

Destroços de um edifício residencial em Borodyanka (Madeleine Kelly/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Makariv

Também a cerca de 50 quilómetros de Kiev, em Makariv, foram encontrados mais de 130 corpos. Alguns deles apresentavam sinais de tortura. O governo ucraniano garante que foram executados pelo exército russo. Nesta cidade, não foram poupadas casas, jardins de infância ou mesmo o hospital. Os habitantes que resistiram contam agora episódios de interrogatórios porta-a-porta e de execuções sem qualquer critério.

O corpo de um homem e a sua bicicleta cobertos em Makariv (Sergei Supinsky/AFP)

Chernihiv

A ajuda humanitária começou a chegar a Chernihiv na passada quinta-feira, depois da cidade no norte da Ucrânia, junto da fronteira com a Bielorrússia, ter passado semanas cercada e isolada pelas forças russas. Agora, Chernihiv está livre mas completamente destruída: as autoridades locais estimam que cerca de 70% das infraestruturas tenham sido atingidas. Os serviços básicos, como eletricidade e água, não foram restabelecidos. Há ruas completamente preenchidas por escombros. A comida começa agora a ser distribuída, depois de sucessivas falhas no abastecimento da cidade. Os balanços dão conta de valas comuns. No exterior da morgue, os caixões de madeira alinham-se. Estimam-se 700 mortes, entre civis e militares, atingidos pelos ataques. E há famílias, desesperadas, à procura do nome dos seus parentes nas placas de madeira dos cemitérios improvisados.

Residentes procuram as campas de familiares em Chernihiv (Sergei Supinsky/AFP)

Kramatorsk

A guerra não abranda. E a prova disso é o mais recente ataque, nesta sexta-feira, a uma estação de comboios da cidade de Kramatorsk, na região de Donetsk. Para Zelensky, é a prova de que o “mal” russo “não tem limites”. Mais de cinquenta civis acabaram por morrer. Outra centena ficou ferida, incluindo crianças, como aquela que protagoniza uma fotografia que está a correr o mundo, ao entrar num hospital nos braços de um soldado. A Rússia volta a defender-se, dizendo que não utiliza o tipo de armamento que foi usado neste ataque. As imagens da destruição chocaram o mundo. A comunidade internacional voltou a reagir, considerando que esta é mais uma prova de um crime de guerra. Marcelo Rebelo de Sousa juntou-se aos que condenaram o ataque, falando num “terrível bombardeamento do agressor russo a populações civis"

Vestígio de sangue numa carruagem de comboio em Kramatosk (Fadel Senna/AFP)

Mariupol

Foi a primeira a ganhar o estatuto de cidade-mártir. Mariupol é uma das provas mais claras da estratégia russa de investir no leste e sul da Ucrânia. Depois de semanas de cerco, sem acesso a água, comida ou eletricidade, a cidade livrou-se das forças russas. Mas a destruição que ficou para trás impressiona, com cerca de 160 mil pessoas a tentar sobreviver em condições quase inimagináveis. Os cadáveres sucedem-se nas ruas, abrem-se valas comuns para as centenas de mortos. No balanço contam-se pelo menos 300 mortos, civis, apanhados no ataque ao teatro de Mariupol onde estavam abrigados. A fuga é agora uma prioridade, com Zaporizhzhia como o principal destino.

Edifícios residenciais danificados são uma constante em Mariupol (by Leon Klein/Anadolu Agency/Getty Images)

Mykolaiv

Em Mykolaiv, no sul da Ucrânia, os ataques russos têm sido uma constante. E, a cada investida, é engrossado o número de mortes. Uma zona comercial, bairros residenciais, um edifício administrativo ou um hospital psiquiátrico foram alguns dos alvos. O balanço só não é mais negro porque, poucos minutos antes do ataque ao hospital psiquiátrica, os pacientes foram retirados do edifício. E os receios da população (russófona) aumentam a cada dia que passa, porque esta é uma cidade estratégica para os russos, permitindo-lhes partir depois para Odessa.

Um rocket russo intercetado pelas forças ucranianas numa rua de Mykolaiv (Andre Luis Alves/Anadolu Agency / Getty Images)

Kharkiv

Em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, pode dizer-se que não há um prédio que não tenha sido danificado pela ofensiva russa. A cidade, a cerca de 40 quilómetros da fronteira com a Rússia, ainda não viu os bombardeamentos cessar. Tem sido um dos alvos frequentes desde que a guerra começou, a 24 de fevereiro, pelo seu papel estratégico. As explosões têm destruído edifícios em bairros residenciais, provocando dezenas de mortes. Há ainda quem resista na maior estação de metro, que hoje dá abrigo a mais de 700 pessoas. Outros civis têm tentado fugir mas, para os comboios, nem sempre é possível arranjar bilhete, tamanha é a procura.

Um dos muitos edifícios danificados em Kharkiv, uma das cidades mais bombardeadas (Diego Herrera Carcedo/Anadolu Agency/Getty Images)

Este mapa mostra as prioridades russas

Ao identificar as cidades atacadas, percebe-se o foco russo no sul e leste da Ucrânia

 

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