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Oiça, Roberto Martinez: nem já o Pitágoras consegue aguentar a gritaria da hipotenusa

27 jun, 16:04

Rui Santos envia uma Mensagem a Roberto Martínez e pede-lhe para não encher mais a cabeça dos jogadores com tantos delírios táticos

Caro Roberto Martínez,

Não lhe vou dizer agora o quanto aprecio a sua verve diplomática e o facto de ter feito um esforço para falar português e interiorizar alguns sinais da identidade nacional. 

Um esforço notável que merece o meu aplauso e, creio, da esmagadora maioria dos portugueses. 

Não é disso no entanto que, por aqui, agora tratamos. 

O que tratamos aqui é o desempenho, até agora, da Seleção portuguesa no Europeu. 

Você, Roberto, sabe que partiu para a Alemanha com uma bagagem de peso. 

As expectativas eram a ainda são muito altas (esta derrota colocou algum gelo no optimismo e no entusiasmo, o que talvez não seja totalmente negativo) e o Roberto transportou consigo a responsabilidade de levar no avião aquela que é considerado o melhor plantel ao serviço das seleções nacionais, em Europeus e Mundiais. 

Qualidade na quantidade e quantidade na qualidade. 

A sua convocatória já tinha dado sinais de que para si o mais importante era ter um grupo unido, identificado com as suas lógicas e dinâmicas. 

Um grupo fechado, a funcionar do centro Ronaldo para a periferia, e daí a quase obsessão de dar minutos a todos, e até José Sá (excluindo Rui Patrício) foi metido nesta lógica nos jogos de preparação, antes da partida para a Alemanha. 

Até se entende que um selecionador seja um gestor. E até se percebe que o fenómeno Cristiano impõe algumas condicionantes, no meio de tantos outros egos. 

Não estou a dizer que essa gestão seja fácil ou despicienda. 

Mas o que se vê em campo são os jogadores carregados de táticas, têm a cabeça cheia de instruções, e às tantas bloqueiam, com tanta informação que precisam de processar: são as  tangentes mais a soma dos catetos e o quadrado da hipotenusa — num delírio tão grande que até o Pitágoras entra em parafuso. 

Se simplificar e soltar os jogadores, dando-lhes a informação mais essencial e basilar, vai ver que a coisa funciona melhor. 

Deixe o Pitágoras em paz, é uma canseira e já nem a hipotenusa se aguenta com tanta “gritaria”. 

Estamos ainda a tempo de fazer um grande Europeu, mas, por favor, simplifique. Não vai conseguir satisfazer todos os jogadores, na sua tábua de minutos. Coloque os melhores e tome decisões. Acredite que não vai agradar a todos e os portugueses estão à espera que, para além da cordialidade, seja um líder capaz de tomar decisões.  

O Europeu começa na segunda-feira.  

Vamos a isto! 

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