Espécie recém-descoberta faz jus ao seu nome: A. miraculum

CNN , Amanda Schupak
29 jun, 15:00
Nova espécie de planta descoberta em Centinela, na cordillheira dos Andes, batizada Amalophyllon miraculum (John L. Clark)

Nas encostas ocidentais dos Andes, no Equador, John L. Clark, investigador botânico do Jardim Botânico Marie Selby, na Flórida, encontrou o que classifica de milagre.

Numa área de floresta nublada anteriormente exuberante conhecida como Centinela, devastada pelo desmatamento, em 2022 Clark avistou uma pequena planta de 5 centímetros de altura com delicadas pétalas brancas e folhas pontiagudas e iridescentes.

O facto de poder vê-la, ali aninhada numa rocha coberta de musgo, num pedaço remanescente de terra intocada, era impressionante. Que fosse uma espécie nunca antes documentada era ainda melhor. Mas a melhor parte de tudo foi a esperança que isso trouxe a Clark.

“Esta área foi considerada apenas um terreno baldio agrícola”, diz. A flor diminuta conta outra história.

“Muitas das coisas que pensávamos terem desaparecido ainda estão lá. E então, além do que pensávamos ter desaparecido, encontrámos isto”, adianta Clark, principal autor de um artigo que descreve a descoberta, publicado a 11 de junho na revista especializada PhytoKeys.

De volta ao laboratório, Clark e sua equipa confirmaram que a plantinha era uma espécie nova para a ciência, e ele e sua equipa batizaram-na de Amalophyllon miraculum.

As folhas profundamente serrilhadas e a iridescência verde-púrpura da planta de 5 centímetros de altura destacam-se nos fragmentos florestais que permanecem após anos de desmatamento generalizado na região de Centinela, nos Andes (John L. Clark)

“Encontrar espécies existentes por descrever numa área degradada que outros podem ignorar torna a investigação especialmente emocionante”, diz Laurence Skog, curador emérito de botânica do Museu Nacional de História Natural da Instituição Smithsonian, em Washington D.C., que não esteve envolvido na investigação. “Que outras áreas do mundo estamos a negligenciar e precisamos de visitar para fazer novas descobertas?”

Nas décadas após a II Guerra Mundial, o oeste do Equador perdeu mais de 95% das suas florestas abaixo dos 1.000 metros de altitude, de acordo com Martin Schaefer, chefe da Fundação de Conservação Jocotoco, que colaborou no novo estudo.

Primeiro vieram os madeireiros, depois o crescimento das cidades e o desmatamento para criação de gado, plantações de óleo de palma e banana. Na década de 1980, o desmatamento atingiu Centinela, situada numa cordilheira andina.

“A situação já era terrível, restando poucos fragmentos florestais”, diz Schaefer. “Cada um desses fragmentos florestais protege espécies altamente ameaçadas e espécies não encontradas em qualquer outro lugar.”

A devastação foi documentada num estudo de 1991 chamado “Extinção Biológica no Oeste do Equador”. Um ponto quente de biodiversidade aparentemente tinha-se extinguido. O renomado naturalista E.O. Wilson cunhou o termo “extinção Centinelana” para se referir à perda de espécies inteiras antes mesmo de serem conhecidas e descritas cientificamente devido à perda generalizada de habitats.

Mas nos pedaços de floresta que restam – principalmente graças aos proprietários de terras que optaram por preservar o habitat selvagem nas suas propriedades – a vida, ao que parece, persiste.

A minúscula planta agarra-se às rochas cobertas de musgo na antiga floresta nublada. "É um milagre que estas florestas ainda existam. Foi por isso que decidimos chamar-lhe miraculum", diz o investigador botânico John L. Clark (John L. Clark)

A investigação de Clark concentra-se principalmente em plantas com flores tropicais e subtropicais da família Gesneriaceae, sendo por isso especialista em identificá-las na natureza. Com uma combinação de olhar atento e sorte, viu uma pequena flor agarrada a uma rocha coberta de musgo perto de uma cascata de água. As folhas profundamente serrilhadas da planta e a iridescência verde-púrpura fizeram com que se destacasse imediatamente.

“Disse ao meu assistente: ‘Meu deus, segura a câmera aqui. Tens de gravar isto, porque isto é incrível'”, conta Clark. (A gravação está na página do Instagram de Clark. Para um olho destreinado, é quase impossível ver a planta que o deixa tão entusiasmado.)

“É um milagre ainda existirem florestas aqui. Foi por isso que decidimos chamar-lhe miraculum”, diz Clark, atribuindo créditos aos agricultores que optaram por não abater as árvores nas suas terras. “São heróis.”

A organização sem fins lucrativos Jocotoco trabalha com proprietários de terras para ajudá-los a obter financiamento governamental para a preservação das florestas nas suas propriedades. Investigações botânicas recentes, como a de Clark, impulsionaram a fundação a expandir-se para Centinela.

“Até agora, algumas das nossas reservas tornaram-se as maiores florestas contíguas das suas províncias”, diz Schaefer, que trabalha no Equador desde 2002. “São como a arca de Noé, garantindo a sobrevivência de milhares de espécies. É isso que faremos também por Centinela.”

Clark diz que está animado com o apoio. A fundação normalmente apregoa a preservação do habitat de pássaros e outras espécies carismáticas, mas em Centinela está a promover a conservação da floresta em benefício das plantas — como a Amalophyllon miraculum.

Talvez o futuro reserve mais milagres. “A natureza cura-se – se lhe permitirmos”, diz Schaefer.

Amanda Schupak é jornalista de ciência e saúde na cidade de Nova Iorque.

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