Prigozhin quebra o silêncio, após dois dias sem dar sinais de vida: "Ninguém do Grupo Wagner aceitou assinar qualquer contrato"

26 jun 2023, 16:16

Líder do Grupo Wagner publicou um áudio no Telegram onde apresenta os motivos para a rebelião do último sábado, assegura que só recuou para “evitar um banho de sangue dos soldados russos” e alerta que o motim “colocou a nu as falhas de segurança” da Rússia

Depois de praticamente 48 horas sem dar sinais de vida, Yevgeny Prigozhin quebrou o silêncio para garantir que "ninguém do Grupo Wagner aceitou assinar qualquer contrato" e reforçar quais foram os principais motivos que o levaram a liderar a rebelião do último sábado.

“Não marchámos para depor a liderança russa. (…) Não demonstrámos hostilidade, mas fomos atingidos por mísseis e helicópteros. Foi este o gatilho. (…) O objetivo da marcha era evitar a destruição do grupo Wagner. Estava condenado a desaparecer a 1 de julho”, disse. 

"Durante a noite, fizemos 780 quilómetros. Ficámos a 200 e poucos quilómetros de Moscovo”, garantiu, apesar não haver qualquer evidência de que as suas forças tenham estado tão perto da capital russa.

Prigozhin assegurou que "nem um único soldado no chão foi morto” e lamentou “terem sido forçados a atacar aeronaves", mas justificou que “essas aeronaves lançaram bombas e lançaram ataques com mísseis".

O líder do Grupo Wagner acrescentou ainda que a marcha teve também por objetivo "levar à justiça aqueles que, por causa das suas ações não profissionais, cometeram um grande número de erros durante a operação especial militar" na Ucrânia.

Ainda no mesmo áudio, Prigozhin disse que a marcha parou quando o destacamento "fez um reconhecimento da área e era óbvio que, naquele momento, muito sangue seria derramado”. “Sentimos que demonstrar o que íamos fazer era suficiente", justificou.

"Nesse momento, Alexander Lukashenko [presidente da Bielorrússia] estendeu a mão e ofereceu-se para encontrar soluções para o futuro trabalho do Grupo Wagner PMC dentro do quadro legal", acrescentou.

Prigozhin disse que o ministro da Defesa russo tinha planos para acabar com o Grupo Wagner a 1 de julho.

"Ninguém aceitou assinar um contrato com o Ministério da Defesa, pois todos conhecem muito bem a situação atual e sabem, pela sua experiência durante a operação militar especial, que isso levará a uma perda total da capacidade de combate", disse.

Admitiu, contudo, que alguns combatentes assinaram contratos com o Ministério da Defesa, mas alegou que foi apenas um número reduzido. "Aqueles combatentes que decidiram que estavam prontos para passar para o Ministério da Defesa fizeram-no. Mas esse é um número mínimo, estimado em 1 a 2%. Todos os argumentos para manter o Grupo Wagner foram apresentados, mas nenhum foi implementado", assegurou.

Prigozhin não dava sinais de vida desde sábado à noite, altura em que deixou território russo, através da Bielorrússia, depois de um suposto acordo moderado pelo presidente do país vizinho, Alexander Lukashenko, que terá posto fim à rebelião armada.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, Lukashenko sugeriu o acordo ao presidente russo, Vladimir Putin, numa conversa telefónica que mantiveram no sábado de manhã.

Vários desentendimentos entre o líder do Grupo Wagner e as chefias militares russas, que se foram agravando ao longo da guerra, transformaram-se num motim que levou os mercenários a deixarem a Ucrânia na noite de sexta-feira para se apoderarem de um quartel-general militar numa cidade do sul da Rússia.

Após percorrerem, no sábado, centenas de quilómetros em direção a Moscovo, aparentemente sem oposição para além de alguns ataques aéreos a que foram ripostando, os mercenários cessaram a marcha a cerca de 200 quilómetros da capital russa.

O Kremlin afirmou ter feito um acordo para que Prigozhin se mudasse para a Bielorrússia e que fosse amnistiado, juntamente com os seus soldados. 

Não houve confirmação do seu paradeiro, embora um canal de notícias russo na rede social Telegram tenha informado que Prigozhin foi visto num hotel na capital bielorrussa, Minsk.

No sábado, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, qualificou de rebelião a ação do grupo, afirmando tratar-se de uma “ameaça mortal” ao Estado russo e uma traição, garantindo que não iria deixar acontecer uma “guerra civil”.

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