"Porquê Lukashenko?" As dúvidas sobre a ajuda do presidente bielorrusso (e o que não bate certo sobre Prigozhin e o Grupo Wagner)

CNN , Análise de Nathan Hodge
26 jun 2023, 08:33
Alexander Lukashenko (Associated Press)

Há quase três anos, o presidente russo, Vladimir Putin, apoiou o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, quando o ditador mais antigo da Europa enfrentava uma onda de protestos de rua.

Agora, Lukashenko parece ter apoiado Putin, se acreditarmos no que nos dizem o Kremlin e o serviço de imprensa da presidência bielorrussa.

Uma rápida recapitulação: No sábado, uma grande crise abalou as fundações do Estado russo, quando as forças leais ao chefe mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, marcharam em direção a Moscovo. Depois, deu-se uma reviravolta abrupta - Prigozhin cancelou o seu avanço, alegando que os seus mercenários tinham chegado a 124 milhas da capital, mas que estavam a dar meia volta para evitar derramar sangue russo.

De acordo com o serviço de imprensa da presidência bielorrussa, a decisão foi tomada na sequência de uma intervenção inesperada do próprio Lukashenko. O suposto acordo alcançado com Prigozhin permitiria a partida do chefe do Wagner para a Bielorrússia; o processo criminal contra o chefe dos mercenários seria arquivado; e os combatentes Wagner seriam integrados em estruturas militares formais através da assinatura de contratos com o Ministério da Defesa russo.

Mas isto, vale a pena sublinhar, são apenas as linhas gerais do acordo. Prigozhin - cujo paradeiro é atualmente desconhecido - não comentou o suposto acordo. E a versão do Kremlin e da Bielorrússia sobre a mediação de Lukashenko parece ser pouco credível.

"Provavelmente perguntar-me-ão - porquê Lukashenko?" disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, no sábado. "O facto é que Alexander Grigoryevich (Lukashenko) conhece Prigozhin pessoalmente há muito tempo, há cerca de 20 anos. E foi a sua proposta pessoal que foi acordada com o Presidente Putin. Estamos gratos ao Presidente da Bielorrússia por estes esforços".

Peskov afirmou que esses esforços "conseguiram resolver a situação sem mais perdas, sem aumentar o nível de tensão".

No entanto, a aparente intervenção de Lukashenko levanta mais questões do que respostas.

Para começar, Lukashenko é claramente visto como o parceiro mais fraco na relação com Putin. E a Bielorrússia depende da Rússia para obter ajuda: No auge da confrontação de Lukashenko com os manifestantes, Putin concedeu um empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares. E a Bielorrússia tem sido um trampolim para as operações militares russas na Ucrânia, algo que isolou Lukashenko ainda mais do Ocidente e espoletou novas sanções contra a economia do país.

Então, o que é que Lukashenko tem a ganhar com isto? Parece difícil imaginar Prigozhin a colher batatas alegremente ao lado do líder bielorrusso, um antigo chefe de uma quinta. E porque é que Putin - que, até este fim de semana, era o árbitro fiável das disputas entre elites na Rússia - não foi capaz de fazer ele próprio esse acordo? Delegar a Lukashenko a resolução da crise prejudica ainda mais a imagem de Putin como um homem de ação decisivo.

Os primeiros pormenores de que dispomos, ao que parece, não batem certo. E a esta incerteza juntam-se outras questões: O que é que vai acontecer à "marca" Wagner? Os soldados rasos de Prigozhin serão complacentes e deixar-se-ão absorver pelo exército russo? Continuarão a ser leais ao seu chefe? E o que acontecerá às forças Wagner que operam noutras partes do mundo, de África ao Médio Oriente?

Prigozhin - se e quando vier à superfície - pode dar-nos algumas pistas.

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