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Chéquia

«Alterações já serão visíveis», promete José Mourinho

22 set 2000, 16:55

Treinador do Benfica considera que «uma mudança radical seria uma loucura» As ideias de José Mourinho para o Benfica já serão visíveis amanhã, diante do Boavista, promete o novo treinador. «Uma mudança radical seria uma loucura», admite, mas há «alterações de princípios de jogo» que já serão notados pelos adeptos. Poborsky mostrou disponibilidade para jogar no meio, adiantou o treinador.

José Mourinho garante não estar nada nervoso com a estreia como treinador do Benfica, já amanhã, no Estádio do Bessa. O novo técnico dos encarnados promete já algumas alterações de jogadores e mecanismos mas considera uma mudança radical «uma loucura». No entanto, admite também que adora o risco envolvido na sua missão. 

Os primeiros dois dias como treinador «serviram para cimentar a ideia» que construiu nos últimos tempos, enquanto «observador» do futebol português e do Benfica: «trata-se de um grupo com bastante potencial evolutivo», elogiou Mourinho. «Vim encontrar um grupo extremamente disponível para o trabalho, gente aberta ao diálogo, ambiciosa, disciplinada, com vontade de apreender o mais rapidamente possível as ideias do novo treinador.» 

Com apenas três treinos antes do seu primeiro jogo à frente da equipa, José Mourinho considera que o resultado do trabalho já realizado é positivo. «O Benfica deu para já dois pequenos passos. No final dos dois treinos de ontem os jogadores eram melhores do que antes desses treinos e no final do treino de hoje são melhores do que eram antes do treino. Passo a passo, dia a dia, semana a semana, o grupo de bons jogadores transformar-se-á numa boa equipa de futebol.» 

Embora não pareça mostrar muita disponibilidade para falar em prazos ou objectivos, Mourinho deixa implícita a ideia óbvia de que o Benfica não vai estar a seu gosto tão cedo. Não, especialmente, já amanhã, no Bessa. A equipa que jogará «não pode ser muito diferente» da que Heynckes tem utilizado, «por uma questão de coerência», frisa o treinador.  

«Por ser conhecedor dos mecanismos que os jogadores precisam para se entenderem, só poderá haver pequenas diferenças em alguns pormenores de jogo. Uma mudança radical seria uma autêntica loucura.» A própria disposição táctica, embora com alguns acertos, também não pode ser objecto de grandes alterações. «Para mim um bom sistema táctico é um em que os jogadores se sintam cómodos, não um que lhes crie problemas. Tento não massacrar os jogadores com informação, mas na sequência dos treinos há princípios de jogo que já foram alterados.» 

E o novo treinador do Benfica entende que essas pequenas alterações já serão visíveis diante do Boavista. «O adepto mais conhecedor verá claramente, o menos conhecedor verá menos mas é profundamente sensível para a atitude em campo e também terá oportunidade de constatar alterações», avisa. «Não quero dizer que o passado signifique incorrecção», acrescenta de pronto. «Tenho um profundo respeito por quem trabalhou aqui, mas cada cabeça sua sentença e não abdico de que o meu grupo sinta a pouco e pouco algumas mudanças cautelosas.» 

Poborsky praticamente certo no meio 

Outra mudança já no Bessa diz respeito aos jogadores que vão constituir o onze titular, embora essa seja questão que Mourinho não valoriza. «O Benfica não tem 10 bons jogadores e 10 passarinhos, tem vinte bons jogadores. Olhando para todos com a mesma confiança, qualquer que seja a minha escolha não deve ser surpresa nenhuma ou modificação de grande dimensão. Quero que os jogadores pensem da mesma forma, o colectivo deve sobrepor-se aos interesses individuais e se alguém quiser provar o contrário terá de o fazer sozinho», avisa. 

Os treinos de ontem (o de hoje decorreu à porta fechada) deixaram antever a possibilidade de Fernando Meira e Sérgio Nunes actuarem no centro da defesa, o que implicaria que Ronaldo e Paulo Madeira ficassem no banco. «Se o Benfica tivesse jogado sempre com a mesma dupla de centrais seria fácil dizer se vou trocar ou não, mas este ano já vi jogar o Fernando com o Paulo, o Ronaldo com o Paulo, o Fernando com o Ronaldo», lembrava Mourinho, recordando que na última partida o Benfica começou com três defesas, sem falar na ausência de Marchena na Selecção olímpica espanhola. «Nos encontros em que os jogadores souberem antes a equipa eu divulgo-a sem problemas, mas como ainda não sabem quero que sejam os primeiros a saber.» 

Mas se na defesa as indicações de ontem não foram conclusivas, no ataque parece não haver dúvidas de que vão actuar cinco jogadores - Carlitos à direita, Sabry à esquerda, Van Hooijdonk na frente e Poborsky e Maniche no apoio. A principal novidade é a passagem do checo da direita para o centro do terreno, alteração que Mourinho admitiu como uma possibilidade.  

«Desde o dia em que cheguei tenho tido muita coisa para fazer e parte desse trabalho foi falar com os jogadores individualmente ou em pequenos grupos, para os informar dos meus conceitos de polivalência e ver a disponibilidade deles. O Poborsky foi claro comigo, disse-me que tanto pode jogar a extremo, mais no meio, fazendo o flanco direito todo só com três defesas, como faz na Selecção checa, ou atrás do ponta-de-lança. Por isso, é possível que venha a jogar nessa posição.» 

Disponibilidade para voar 

A indicação de José Mourinho para o cargo de treinador do Benfica suscitou diversas reacções, mas uma que se repetiu com frequência foi o sentimento de desconfiança perante um treinador que até aqui foi sempre adjunto. 

Mourinho sabe que está dependente de resultados, tem o espectro de eleições à porta, mas nada disto o preocupa. «Adoro o risco. Quem tem medo, quem não sente potencial psicológico fica em casa. Quem se sente com confiança, capacidade técnica e psicológica para uma situação como estas, assume. Gostamos de responsabilidades, tal como os jogadores, pelo menos foi o que senti da parte deles, e ao incutir-lhes asas para voar senti muita disponibilidade da parte deles para isso. Preferia ter mais tempo para trabalhar, ter tido oito semanas como os outros para preparar a equipa, mas encanta-me jogar já amanhã. Vou dormir como um passarinho.» 

O Boavista é o adversário de estreia, uma das equipas mais perigosas do futebol português. «Sobre o Boavista, como sobre qualquer adversário que nós enfrentemos, não me arrancarão muitas palavras. O que posso dizer é que é um grande clube, com uma grande equipa de futebol e um grande treinador. Logicamente, por isso tudo será um jogo difícil, mas apenas mais um jogo de campeonato. Não vejo que seja particularmente especial para mim e para o Mozer por ser a nossa estreia, como não vejo consequências determinantes para o futuro. Vamos entrar para ganhar, o Boavista também o vai fazer, e ao contrário de alguns jogos que são como monólogos, em que só um fala e o outro fica a ouvir, tenho a certeza que vai ser um diálogo forte.»

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