Líderes da Iniciativa Liberal e do Bloco de Esquerda tentaram desconstruir os programas um do outro
Procuraram ambos encontrar as causas para a crise na habitação em Portugal. Para Mariana Mortágua, a culpa é clara: “é o mercado a funcionar”. Para aumentar a oferta, o Bloco de Esquerda quer que a nova construção tenha 25% dedicada a habitação acessível.
A bloquista reforçou que "não há nenhuma regra que impeça as construtoras de construir". Defendeu antes que estas empresas encontraram "formas mais rentáveis" de desenvolver a sua atividade, virando-se para "o luxo e a construção de hotéis".
O liberal Rui Rocha insistiu que a culpa não está nos estrangeiros. E que, para aumentar a oferta de casas em Portugal, tem outros caminhos: "queremos que as casas vazias do Estado estejam ao serviço dos portugueses", assim como a redução dos prazos e regras de licenciamento.
Rocha lembrou que a proposta do Bloco para impedir a venda de casas a residentes não habituais não seria possível ao abrigo dos tratados europeus. Mortágua encontrou a solução: se Malta e Dinamarca têm exceções, Portugal também poderia.
Controlo estatal de empresas estratégicas: contas muito diferentes
Uma das propostas do Bloco passa por usar a Caixa Geral de Depósitos para aplicar juros mais baixos e suportar os créditos à habitação. Mortágua lembrou os lucros do banco público, "à custa das margens bancárias e dos juros nos créditos à habitação". Assim, a medida bloquista poderia ter "um efeito de arrastamento de mercado".
Rui Rocha, em contraste, vincou que quer privatizar a CGD, para evitar ter o "Estado a dar ordens a bancos para descomprometer o mercado daquilo que são as suas regras". O Estado, disse, devia focar-se antes na saúde, na educação ou na justiça.
A CGD foi o mote para outra proposta do Bloco, de "nacionalização" de empresas estratégicas para o país. "Controlo público", rematou Mortágua. Para Rui Rocha, este plano teria um custo de “30 mil milhões”.
Número desmentido por Mortágua, que vincou que no programa eleitoral do partido estão apenas uma posição de controlo dos CTT que custa 60 milhões de euros, 60 milhões para a gestão global de sistema da REN e outros 450 para uma posição de controlo desta última empresa.
“São menos de metade do que a borla de 2,2 mil milhões de euros que o Dr. Rui Rocha quer dar à banca, cortando metade dos impostos”, atirou Mortágua, para falar de IRC.
IRC e IRS: as desvantagens
E foi com impostos que o debate avançou. "Queremos baixar o IRC para que empresas grandes se fixem em Portugal, tragam tecnologia, produtividade e salários mais baixos para os portugueses", disse Rui Rocha. Falou num custo de “cinco mil milhões de euros”.
"Há 1.500 milhões de euros que automaticamente regressam", justificou, porque "passa a estar no bolso dos portugueses e não no bolso do Estado".
"Fiquei surpreendida por saber que a IL quer desviar uma parte dos impostos para mais impostos indiretos", atacou Mortágua, após um "momento de propaganda e comício" do adversário.
No IRS, Mortágua disse que a proposta do IL, que custa 3.500 milhões de euros, é "inconstitucional", ao eliminar a progressividade. Rocha respondeu que é "falso", porque há "isenções que garantem a progressividade".
Saúde: “anestesiada” ou a “passar cheques ao privado”?
Rui Rocha argumentou que foi devido a um "enviesamento ideológico" que se deu uma reversão das parcerias público-privadas na saúde, com um forte papel do Bloco de Esquerda.
"O BE anestesia na saúde e bloqueia a economia, traz prejuízo aos portugueses", resumiu.
Na resposta, Mortágua lembrou que a presidente do "maior grupo privado de saúde" foi à apresentação do programa eleitoral da IL para "anunciar ao mundo que a saúde é o grande negócio do século XXI".
"A IL tem uma regra 2 por 1: por cada dois profissionais de saúde que se reforma, entra um. E quer entregar o dinheiro ao privado, para ficarmos com um sistema mais caro, como é o alemão", atirou, resumindo a IL como um partido que “passa cheques ao privado”.