Tanto Inês de Sousa Real como Rui Tavares defendem a aposta nas energias renováveis, mas a exploração do lítio e da energia nuclear evidenciaram as diferenças que separam os dois partidos assumidamente ecológicos
Apesar de discordarem na exploração do lítio e da energia nuclear, Inês de Sousa Real e Rui Tavares estão disponíveis para dar as mãos numa "ecogeringonça", contra "a chantagem do voto útil" do PS.
Isso mesmo ficou claro no debate desta quarta-feira, transmitido pela RTP3, no qual o porta-voz do Livre afirmou que o PAN "seria bem-vindo" à ecogeringonça que tem vindo a defender.
É que, apesar das questões energéticas que os separam, tanto o Livre como o PAN recusam "a chantagem do voto útil" do PS, com Rui Tavares e lembrar que os socialistas apelaram a isso mesmo há dois anos "e hoje pagamos o preço disso".
Tanto Inês de Sousa Real como Rui Tavares defendem a aposta nas energias renováveis, com o porta-voz do Livre a sublinhar a importância do hidrogénio verde, que descreve como "a energia do futuro". Rui Tavares não tem dúvidas de que Portugal "tem potencial" para explorar esta energia, propondo mesmo a criação de uma entidade que intitula de "Hidrogénio de Portugal", à semelhança da "Águas de Portugal".
Mas a exploração do lítio e da energia nuclear evidenciou as diferenças entre os dois partidos assumidamente ecológicos. Enquanto Rui Tavares admite ter algumas "reservas sobre a exploração" do lítio, defendendo, ainda assim, "alguma exploração pontual nas minas que já existem", Inês de Sousa Real considera que tanto a exploração do lítio como da energia nuclear (que o Livre defende) "traz problemas ambientais que não devem ser descurados". Sobre o lítio em concreto, o PAN assume-se "contra zonas de exploração que vão afetar a rota do Lobo Ibérico", ou sejas, as minas de exploração já existentes.
Apesar da abertura do Livre para aceitar o PAN numa ecogeringonça, Rui Tavares não esquece que o partido de Inês de Sousa Real deu a mão ao Governo Regional da Madeira, acusando-o mesmo de "incoerência" por se associar a um governo que pauta pelo "desordenamento do território" e pelos "maus-tratos a animais".
O porta-voz do Livre lembra que o PAN nunca anunciou o apoio ao PSD durante a campanha para as eleições legislativas regionais. Já o Livre "diz sempre ao que vem", contrapõe, vincando que o partido sempre se assumiu contra "o jardinismo de Albuquerque".
Em resposta, Inês de Sousa Real argumenta que "o PAN é uma força política útil à democracia" e diz mesmo que "Miguel Albuquerque foi afastado pela ação responsável do PAN", na sequência das buscas na Madeira por suspeitas de corrupção.
Inês de Sousa Real sublinha que o PAN é um partido "de causas", não se subjugando ao espetro político da esquerda à direita. "Seria muito fácil sentarmo-nos à mesa com quem concorda connosco", atira, acrescentando que o verdadeiro "desafio" a que o PAN se propõe é precisamente o contrário: "Sentarmo-nos com quem não concordamos e fazer avançar as nossas causas."
Em matéria de impostos, o Livre defende "um sistema fiscal progressivo", assente na lógica de que "quem recebe mais, ajuda a pagar quem recebe menos", esclarece Rui Tavares. Já Inês de Sousa Real especifica que "o PAN tem pugnado pela máxima de taxar quem mais lucra e mais polui", e vai mais longe, defendendo que as empresas intervencionadas pelo Estado e que obtenham lucros extraordinários também devem ser taxadas.
"Os 300 milhões de euros que atualmente estão a servir para dar borlas fiscais a quem mais polui e lucra, que são os combustíveis fósseis, no entender do PAN davam por exemplo para pagar quatro milhões de passes gratuitos", exemplifica.