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Snipers, serviços secretos e operações especiais. Como Portugal se preparou para proteger Zelensky

28 mai, 07:00
Volodymyr Zelensky (AP)

Volodymyr Zelensky vem a Portugal semanas depois de vários oficiais de segurança ucranianos terem sido detidos por estarem a planear matar o presidente ucraniano

É uma operação complexa que envolve planeamento ao mais alto nível: dos serviços secretos à força aérea, passando pela elite da polícia portuguesa, a visita de Volodymyr Zelensky a Portugal, esta terça-feira, mobiliza uma operação de larga escala para garantir a segurança do presidente em território nacional. Para os especialistas, a ameaça existe e pode estar bem mais próxima do presidente ucraniano do que se possa pensar.

A preparação da visita do presidente começou semanas antes de Zelensky levantar sair do seu próprio país. Os primeiros passos da organização da visita passam pelos analistas dos Serviços de Informações de Segurança (SIS), que produzem um relatório de análise de risco para ser entregue ao secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o embaixador Vizeu Pinheiro, que define o grau de risco da visita. Entre a informação está a análise ao risco apresentado por indivíduos identificados como agentes da Federação Russa.

Muitos estão sinalizados pelo SIS e são “discretamente seguidos” pelos “agentes de contrainformação” portugueses, sabe a CNN Portugal. “É um jogo muito complexo”, explica o tenente-coronel João Alvelos, especialista em segurança do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), que acrescenta que nos últimos dois anos as movimentações dos “adidos diplomáticos russos” em Portugal têm merecido particular atenção dos serviços secretos. Mas as autoridades também estão a considerar os perigos de segurança que podem surgir junto da própria diáspora ucraniana, que poderá querer aproveitar para ver o presidente do seu país, nesta que é a sua primeira visita a Portugal. Fonte da comunidade ucraniana garantiu à CNN Portugal que não haverá qualquer encontro com o presidente.

“A morte do presidente ucraniano pelas mãos de um ucraniano pró-russo seria uma das melhores coisas que poderia acontecer ao Kremlin. Isso tem de ser incluído na equação e seria uma das minhas maiores preocupações. Existem muitos ucranianos pró-russos em Portugal”, afirma o tenente-coronel João Alvelos.

Recorde-se que no passado dia 15 de maio o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, ficou gravemente ferido após ter sido baleado repetidamente por um homem que se encontrava numa multidão a aguardar por ele. A situação gera ainda mais preocupação após algumas das principais figuras políticas russas terem colocado em causa a legitimidade de Volodymyr Zelensky enquanto presidente, uma vez que o seu mandato acabou no dia 20 de maio, mas devido à lei marcial pode manter-se no poder até a guerra acabar. Dias antes vários membros da sua equipa de segurança foram detidos por estarem a preparar uma tentativa de assassinato contra o presidente.

“Este tipo de medidas não se anunciam com muita antecedência e revestem-se de medidas de segurança muitíssimo restritas. É preciso não esquecer que o porta-voz do Kremlin veio afirmar que Volodymyr Zelensky continua a ser um alvo legítimo para a Rússia”, sublinha o major-general Isidro de Morais Pereira.

Assim que o avião de Volodymyr Zelensky atravessar a fronteira a responsabilidade da sua segurança passa para Portugal e é aí que entra a Força Aérea Portuguesa. No espaço aéreo português, o avião que transporta o líder ucraniano vai ser protegido pelos F-16M até chegar ao aeroporto escolhido para receber o presidente. Todos os horários e detalhes das rotas são acertados ao pormenor entre os dois países para garantir que tudo corre dentro da normalidade.

“Desde que o presidente entre em território nacional ou em áreas da jurisdição nacional a responsabilidade é nossa. Portanto, no plano aéreo cabe a responsabilidade à força aérea, no plano terrestre às forças de segurança”, afirma o major-general Agostinho Costa, acrescentando que a polícia fará o policiamento em quatro níveis diferentes.

O percurso do presidente ucraniano vai ser mantido em segredo e vai ter vários itinerários alternativos, com diversas rotas de emergência, por onde a viatura do presidente poderá escapar em caso de necessidade. Junto de Volodymyr Zelensky vão estar membros da sua equipa de segurança, mas também homens do Corpo de Segurança Pessoal da PSP. Estes polícias passam por um rigoroso curso de 14 semanas e são responsáveis por garantir a segurança pessoal de todos membros dos órgãos de soberania, de altas entidades nacionais ou estrangeiras em visita a Portugal e aos membros do corpo diplomático acreditado no país.

Mas a abrir caminho vão polícias de trânsito, que se certificam de que a rota não está obstruída e que não existem ameaças ou situações suspeitas pelo caminho. Pontos vulneráveis da rota, como viadutos, são previamente ocupados pelas autoridades para garantir que tudo decorre sem incidentes. À semelhança do que aconteceu durante a visita do líder da Igreja Católica, a Divisão de Trânsito também vai estar destacada para facilitar a circulação nas artérias percorridas pelo presidente ucraniano.

“Vão existir vários trajetos, mas também várias alternativas. Vão existir itinerários de emergência e de evacuação. Ao longo de todo o caminho vão estar presentes agentes uniformizados e à civil, de forma a mitigar todos os elos da ameaça”, esclarece o tenente-coronel João Alvelos.

Em zonas estratégicas do percurso do presidente são destacados elementos da elite da polícia portuguesa. A Unidade Especial da Polícia vai empregar agentes do Corpo de Intervenção, que geralmente fazem controlo de multidões em situações de violência, mas também vai colocar no terreno os homens do Grupo de Operações Especiais. Estes polícias são responsáveis pela última fase da proteção ao presidente ucraniano, “caso tudo corra mal” e só são utilizados caso seja necessário neutralizar uma ameaça real. Por este motivo, estes operacionais vão estar “discretamente destacados”.

Entre estes polícias vão estar snipers no topo de alguns edifícios. Com um elevado campo de visão, o trabalho dos atiradores é estar atento a potenciais ameaças que possam aparecer no terreno.

A Guarda Nacional Republicana também poderá ter um papel a desempenhar na preparação da segurança do chefe de Estado ucraniano. As autoridades podem definir como necessária a presença de drones para controlar remotamente aquilo que se passa no terreno. Por outro lado, podem optar precisamente pelo oposto e estabelecer áreas consideradas como “no-fly zones” para drones e destacar sistemas antidrones capazes de detetar e inativar os dispositivos.

Ao que a CNN Portugal conseguiu apurar, a PSP vai também ter no terreno elementos do Centro de Inativação de Explosivos e Segurança em Subsolo, responsáveis por desarmadilhar explosivos, e operacionais do Grupo Operacional Cinotécnico, agentes treinados para trabalhar em conjunto com cães-polícias.

De acordo com o Observador, que cita uma fonte policial sob anonimato, as autoridades encaram esta visita oficial como sendo mais complexa do ponto de vista da operação policial do que a de outros chefes de Estado. 

“Temos sempre de planear para o cenário mais provável, mas acautelando o cenário mais perigoso. Há sempre essa possibilidade, mas diria que a probabilidade de um atentado contra Volodymyr Zelensky é baixa, apesar do extremar de posições que existe”, considera o major-general Agostinho Costa, especialista em segurança.

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