Muitos fabricantes de armas europeus que nos últimos anos se viram obrigados a reduzir as operações ou a fecharem portas deparam-se agora com um grande aumento da procura por armamento e, sobretudo, por cargas explosiva
À medida que a Ucrânia se confronta com cada vez mais desafios no terreno, nomeadamente com a intensificação dos ataques russos em Kharkiv, a União Europeia trava uma nova batalha consigo mesma: a escassez de explosivos essenciais para munições e mísseis, como TNT, HMX ou RDX.
Segundo a Economist, apesar da Lei de Apoio à Produção de Munições (ASAP), aprovada pela União Europeia (UE) em julho do ano passado para mobilizar 500 milhões de euros do orçamento comunitário para a produção de munições terra-terra e de artilharia, bem como de mísseis, a verdade é que a Europa está longe de atingir a meta a que se propôs de produzir dois milhões de munições por ano até ao final de 2025 - e isto por causa da escassez de explosivos, segundo a mesma revista.
É que, escreve a Economist, cada munição de artilharia - 155 mm, por exemplo - contém 10,8 kg de uma carga explosiva como TNT, HMX ou RDX. Além disso, também são necessárias cargas adicionais de propulsores para lançar os projéteis ao longo de dezenas de quilómetros.
Mas isto depende das munições: algumas, como os mísseis Storm Shadow, requerem quantidades ainda maiores de explosivos. Só a ogiva deste míssil, por exemplo, pesa cerca de 450 kg.
Ora, com o decurso da guerra na Ucrânia, muitos fabricantes de armas europeus que nos últimos anos se viram obrigados a reduzir as operações ou a fecharem portas, deparam-se agora com um grande aumento da procura por armamento e, sobretudo, por cargas explosivas. O Reino Unido, por exemplo, fechou a sua última fábrica de explosivos em 2008. O último grande produtor de TNT situa-se agora no norte da Polónia.
Além disso, poucas empresas produzem materiais de alta energia, conforme exigido pelos padrões da NATO. Uma delas é a Chemring Nobel, em Saetre, Noruega. Outra é a Eurenco, em França, que gere uma instalação de igual dimensão em Karlskoga, Suécia. O número de encomendas de ambas as empresas aumentou desde a invasão russa da Ucrânia, tanto que a Eurenco não aceita mais encomendas até 2030 e a Chemring está a funcionar a todo o vapor, não tendo mãos a medir.
Atraídas pelos fundos da ASAP, as empresas estão a investir dinheiro na expansão da capacidade de produção de explosivos. Apesar disso, Christian Mölling, do Conselho Alemão dos Negócios Estrangeiros, estima, em declarações à Economist, que construir uma fábrica do zero pode demorar entre três a sete anos - e dá um exemplo: a alemã Rheinmetal, que produz munições, está a construir uma fábrica de explosivos na Hungria que só deverá começar a produzir em 2027. Segundo o especialista, a demora neste processo deve-se, entre outros fatores, ao “emaranhado de regulamentações ambientais e de segurança” que devem ser respeitadas.
Além disso, também há a questão da falta de mão de obra, aponta a Economist, que escreve que os fabricantes se queixam da "falta de trabalhadores qualificados em toda a cadeia da indústria".
Neste contexto, algumas empresas de fabrico de munições estão a procurar cargas explosivas como TNT fora da UE, nomeadamente na Índia e no Japão, Ainda assim, alguns especialistas admitem à Economist que a qualidade desses explosivos seja aquém do desejado, podendo vir a danificar os equipamentos.