Em 2023 verificaram-se "238.474 dias de trabalho perdidos por doença, dos quais 21.359 por acidente em serviço ou doença profissional e destes, pelo menos, 3.685 dias de ausência ocorreram na sequência de episódios de violência sofridos pelos profissionais de saúde"
Perante um Serviço Nacional de Saúde mais frágil, há um problema cada vez mais comum: a violência sobre os profissionais de saúde. O alerta parte do ex-diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, que no relatório que entregou à ministra diz que a "violência afeta a qualidade dos serviços, impedindo que as instituições se tornem devidamente sustentáveis, na medida em que tem repercussões na organização e nas relações de trabalho, assim como, no empenho dos trabalhadores e na sua produtividade, em razão do absentismo por doença, da insatisfação e desmotivação profissional".
Adiantando que os dados constantes no Portal da Transparência do SNS, consultados a 2 de maio de 2024, em 2023 verificaram-se "238.474 dias de trabalho perdidos por doença, dos quais 21.359 por acidente em serviço ou doença profissional e destes, pelo menos, 3.685 dias de ausência ocorreram na sequência de episódios de violência sofridos pelos profissionais de saúde".
Assim, acrescenta que, atendendo aos dados do mesmo Portal da Transparência, se sabe que “em 2023 foram executados 5083,2 milhões de euros em despesa com pessoal, o que corresponde a uma despesa média diária per capita de 161,65€ (para um universo de 149.579 profissionais existentes em 31 de dezembro de 2023 e aplicando a fórmula [(Despesas com pessoal / número total de profissionais) / (48 semanas*35 horas semanais)] x 7 horas diárias)".
Por isso, concluiu Fernando Araújo: "Se nos focarmos nos 3.685 dias de ausência ao serviço devido a episódios de violência, apuramos um custo de improdutividade laboral de, aproximadamente, 595.673€ (161,65€ x 3685 dias), valor que ascende a aproximadamente 3,5 milhões de euros, se considerarmos a totalidade dos dias de ausência enquadrados como acidentes em serviço e a mais de 35 milhões de euros, se centrarmos a nossa atenção nas ausências ao serviço por doença", alertando ainda para o facto destes valores poderem ser "significativamente agravados, se fossem englobados os custos associados a um conjunto de externalidades negativas resultantes destas ausências ao trabalho, apesar de alguns serem de natureza intangível".
O antigo diretor-executivo do SNS defende que sejam tomadas medidas de proteção imediatas, como alguns hospitais serem integrados na lista de estruturas que são consideradas essenciais pelo Estado, tendo obrigatoriamente de ter maior proteção de ataques físicos e ciberataques. "Um dos desafios mais significativos dos próximos anos é, porventura, o da segurança das instituições do SNS, em especial, o seu principal ativo, os recursos humanos, mas também os seus equipamentos e instalações, razão pela qual algumas das instituições do SNS deveriam ser consideradas como infraestruturas críticas nacionais".