Pepe é não é perfeito nem santo, é complexo. E foi o melhor em campo
Daquele dia em que o Éder nos deu a maior alegria futebolística das nossas vidas hei de lembrar-me sempre do Pepe a vomitar no fim do jogo com a França, escrevi na altura um breve texto sobre isso, o título era "E agora vamos falar de Pepe, que vomitou (grande Pepe, incrível Pepe)", na entrada desse texto eu dizia que "isto que hão de ler não é voyeurismo, é heroísmo - do Pepe" e a meio do texto eu justificava o porquê de escrever um texto desses, "não se escreve deliberadamente sobre alguém a vomitar", pois não, nunca o tinha feito antes disso e nunca o fiz depois, nem sequer vomitei mais, prefiro mandar o vómito para dentro do que deixá-lo sair para o mundo (não me peçam para elaborar sobre isso, por favor), só aceito vomitar nas condições do Pepe, se for num ato pós-heroico, que são atos que eu não tenho mas o Pepe sim - o Pepe vomitou no fim daquele jogo toda a dor que aguentou para ajudar a vencer, enquanto os outros jogadores corriam de felicidade o Pepe vomitava de alívio, deitou fora o sacrifício e a seguir fomos nós todos a deitar fora uma alegria que nem sabíamos ter, foram dias de festa, isso sim, a alegria, a alegria é de se deitar cá para fora sempre que a houver, vomitar alegria até soa bem (soa?), a alegria eu não a mando para dentro e não a mande você também.
Posto isto: tudo o que ouvi de espanto sobre o jogaço do Pepe contra a Turquia só me espanta por ainda causar espanto, o Pepe não é imaculado, não é sua santidade O Pepe, já se comportou mal demasiadas vezes dentro de um relvado, já agrediu de maneira inaceitável um companheiro de profissão, o Pepe por vezes manifesta instintos violentos, sabemos todos disso e nada desculpa comportamentos desses, o Pepe que viva com isso e que responda por isso sempre que passar dos limites que não devia, mas depois o Pepe é aquele homem sacrificial e tentacular dentro de campo, quando perdeu velocidade para cobrir o terreno todo compensou com inteligência para cobrir os espaços, correr bem é sempre melhor que correr muito, e depois o Pepe dá-se sempre ao jogo, não se esconde dele, não é cobarde, não se amedronta, é duro e manhoso, às vezes projeto no Pepe a ideia de que não há gente que é só boa ou má, há é gente que é capaz de ser boa e que o é quando quer e gente que é capaz de ser má e que o é quando o pretende e essas duas gentes são por vezes a mesma única gente - o Pepe é um futebolista que nos haverá de fazer falta mesmo que não tenhamos falta de todas as coisas que ele faz. Melhor em campo.