Já há poucos profissionais de saúde no SNS e este ano saem mais cinco mil. O alerta "crítico" que Fernando Araújo deixa ao Governo

22 mai, 14:55
Saúde

Ex-diretor-executivo do SNS entregou o relatório de atividades realizadas ao longo do seu mandato, conforme solicitado pela ministra Ana Paula Martins. A CNN Portugal teve acesso ao documento, que deixa um alerta importante

É “crítico” cativar médicos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O alerta foi deixado por Fernando Araújo, ex-diretor-executivo do SNS, que estima que cerca de cinco mil profissionais devem reformar-se este ano.

"Para 2024 é previsível que possam existir cerca de cinco mil aposentações (profissionais que atingem a idade para aposentação)", avança o relatório de atividades entregue na terça-feira ao Ministério da Saúde.

De acordo com o documento ao qual a CNN Portugal teve acesso, espera-se a reforma de 1.901 médicos este ano, a par da de 699 enfermeiros e de 1.158 assistentes operacionais. Além disso, 171 de técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica deverão também reformar-se, bem como 794 assistentes técnicos, 139 técnicos superiores, 37 farmacêuticos e cerca de 198 nas outras profissões.

O SNS carece de “um efetivo reforço dos seus ativos humanos” para “acompanhar a maior exigência na prestação de cuidados, com uma população cada vez mais envelhecida e com mais comorbilidades associadas, que exige mais cuidados, e equipas mais diferenciadas”. E a direção-executiva alerta: “É crítico conseguir cativar médicos recém-especialistas e médicos que estejam fora do SNS (em Portugal ou no estrangeiro), para dar resposta às necessidades em saúde” - em especial com a generalização do modelo ULS a todo o território, que “torna fundamental o preenchimento e alargamento do quadro de pessoal do SNS, de modo a que se possa diminuir e suprir as atuais lacunas sentidas”.

É assim esperado um crescimento do número de profissionais “constituído sobretudo pela entrada de profissionais que têm participação na prestação direta de cuidados de saúde”, que deve representar 98% do total de entradas. “Em particular, estão incluídos neste conjunto o grupo profissional médico (especialistas e internos em formação geral ou específica), grupo de enfermagem, técnicos superiores de saúde, tais como médico dentista, psicólogo, nutricionista, assistente social, farmacêutico e técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica”, acrescenta.

Uma “grande aposta” da reestruturação do SNS deve ser, refere o documento, “o reforço de utentes com médico de família”, com vista a assegurar os “cuidados de saúde primários, numa ótica cada vez maior de integração do utente”. A par destes, “um dos maiores crescimentos previstos para o ano de 2024” é o do número de enfermeiros. Hoje, o país conta com cerca de 50.900 enfermeiros, o que atribui a Portugal “um rácio de enfermeiros por 1000 habitantes, bastante inferior à média europeia”.

A direção-executiva sublinha também a necessidade de investir nos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e nos técnicos superiores de saúde, como os farmacêuticos, dentistas e psicólogos. Esta é, reconhece, uma área em que o SNS “não conseguiu investir adequadamente na contratação”. “Esta falta de técnicos inibe muitas vezes a concretização da melhoria de prestação de cuidados, nomeadamente na integração dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica que são adquiridos externamente”, lê-se.

O documento reconhece o "grande desafio à eficiência na gestão dos recursos" que é o reforços dos quadros dos profissionais. "Constitui em grande parte condição indispensável ao sucesso do modelo ULS”, admite, ainda assim.

O ex-diretor-executivo, Fernando Araújo, foi esta quarta-feira ouvido no Parlamento, onde confirmou a entrega do relatório de atividades solicitado pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, relativo às atividades levadas a cabo enquanto esteve em funções. "Apesar de nos terem dado 60 dias para entregar o relatório sobre o SNS, realizámos a tarefa em metade do tempo", disse, sendo que a entrega do documento efetivou a saída de Fernando Araújo do cargo, que agora pertence a António Gandra d'Almeida.

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