"Agarro-me à Vida". Luísa foi sem-abrigo e percorreu Gondomar à chuva, colada ao ex-ministro da Habitação, sem contar a Pedro Nuno a história dela

7 mar, 16:10
Pedro Nuno Santos em Marco de Canaveses (Lusa)

Em Gondomar, mesmo com chuva, Pedro Nuno tem alguém que lhe dá o braço para agradecer, apesar das demoras numa pasta que ele tutelou: a Habitação. No Marco de Canaveses, "terra de ferroviários", chega a outra pasta: pedem-lhe para manter "o país dentro dos carris e a alta velocidade". Neste dia, Pedro Nuno foca o apelo ao voto das mulheres. E não abre o jogo sobre negociações à esquerda. Deixa sim um aviso

Luísa Patrão vem protegida pelo guarda-chuva. "Vale muito a pena apanhar a molha." Vale muito a pena ficar à espera de Pedro Nuno Santos durante uma hora no Largo do Souto, em Gondomar. A mulher está aqui para "agradecer ao PS". Na vida dela, as prioridades são simples: "Primeiro o PS, depois o F.C.Porto." Não muda em nenhum. "Não sou vira-casacas."

E o que tem para agradecer? "A minha casinha, que o PS me deu." À medida que a conversa se desenrola, Luísa decide revelar o seu passado. "Estive dois anos na rua." Um divórcio e o desemprego atiraram-na para longas noites enfiada num carro. "Agora até tenho uma gatinha, que também veio da rua, a Vida. Agarro-me a ela. Falamos uma com a outra."

É uma força como a dela que Luísa quer transmitir a Pedro Nuno Santos, numa fase em que os números podem parecer pouco animadores. E é vê-la, minutos depois, durante metros, de braço agarrado ao ex-ministro da Habitação, o homem que tutelava a pasta que durante dois anos tanta falta fazia a Luísa.

Luísa Patrão ao lado de Pedro Nuno Santos (CNN Portugal)

Luísa fica até ao fim. E contou-lhe a sua história? "Não, só desejei força. A esperança é a última a morrer." É a mão desta mulher a última que Pedro Nuno Santos agarra, já dentro do carro, na despedida de Gondomar.

Primeiro os reformados: o "cadastro" do PSD nos cortes

A agenda tem de ser alterada devido à chuva forte. O que era uma visita a uma feira transforma-se numa arruada. "Ele está a chegar, vamos encostando ali." A caravana socialista atrasa-se, procura alternativas. E quando Pedro Nuno Santos chega, já a chuva dá tréguas. O povo que o espera fecha os guarda-chuvas e segue.

O candidato tira partido das arcadas para se proteger, para um contacto com as lojas, com a população. Até que se cruza com um idoso que acaba por dar voz à mensagem que o próprio Pedro Nuno tem guardada para Gondomar. Diz-lhe que é "o único que dá dinheiro aos reformados, o Passos [Coelho] não". 

Manifestações de apoio nas ruas de Gondomar (Lusa)

Minutos depois, já no conforto de um auditório praticamente lotado, Pedro Nuno Santos aproveita para criticar o "cadastro" que é o passado de cortes à direita. “Não fazemos promessas na campanha para depois cortar. Esse é o cadastro que eles têm", diz.

O apelo ao voto volta a ser feito com os reformados e as mulheres no horizonte. O socialista fala para a "maioria invisível" que diz não estar representada nas televisões, nas redes sociais ou nas sondagens. Quem é essa maioria? As "pessoas que tiverem votado no PS em 2022", concretiza.

Pedro Nuno Santos diz ter "muito trabalho" até ao dia das eleições. E na segunda-feira, como vai ser se não houver maioria? "Primeiro temos domingo." Não quer abrir o jogo sobre negociações com Mariana Mortágua e Paulo Raimundo. Mas há um aviso: "Há muitos avanços que muitos partidos querem que só vão acontecer se o PS vencer."

Chuva obriga a um comício improvisado (Lusa)
Detalhe da passagem por Gondomar (Lusa)

Depois as mulheres: "Não são um acessório"

No almoço, um regresso ao Marco de Canaveses, depois de aqui ter iniciado na segunda-feira uma viagem de comboio. Pedro Nuno agradece aos ferroviários, "exemplo de gente de trabalho que nunca desistiu".

Mas vem aqui mais para falar a uma das grandes apostas do PS na conquista do voto: as mulheres. Em dia nacional de luto nacional contra a violência doméstica, o socialista quer vincar que "há muito trabalho" para fazer no sentido de evitar este crime e para assegurar a igualdade.

"As mulheres não são uma nota de rodapé nos discursos do PS, não são acessório para as campanhas. São o centro da nossa intervenção política por respeito", vinca. Como são as cuidadoras dos mais frágeis, "na hora de progredir na carreira, as mulheres ficam sempre para trás", assinala.

"Há muito caminho a fazer para as mulheres e com as mulheres em Portugal. No dia 10 de março também vamos votar a forma como vemos as mulheres em Portugal", reforça.
Discurso focado nas mulheres para apelar ao voto (Lusa)

Elogios rasgados de Assis. "Lutar sempre, desistir nunca"

A energia de Pedro Nuno também é alimentada pelos elogios que recebe neste almoço no Marco de Canaveses, com cerca de 800 pessoas. A autarca socialista, Cristina Vieira, lembra "o maior projeto de habitação pública" no concelho", que "o IC35 saiu do papel" ou o impacto do passe social. Tudo com o dedo do ex-ministro. Num "concelho de ferroviários", "precisamos que mantenhas o país dentro dos carris e a alta velocidade".

Mas é Francisco Assis quem vem elogiar a personalidade do candidato, naquela que é "a primeira" de "muitas campanhas" que espera fazer em conjunto. "Conseguiu uma coisa que provavelmente mais ninguém conseguiria nas atuais circunstâncias: mobilizar o povo do PS e a esquerda democrática em Portugal", diz.

Como? Pela sua "frontalidade", "coragem", "determinação" e "decência".

Francisco Assis volta a marcar presença na campanha socialista (Lusa)

"Foi sempre leal, mas nunca foi subserviente. Esteve sempre com o PS, mas por vezes a sua voz foi incómoda", lembra Assis, uma das vozes mais críticas da geringonça de António Costa, onde o candidato era o principal mediador.

Francisco Assis admite que a batalha é difícil mas aponta Pedro Nuno como "um homem que não se deixa vencer por nada". Nem pelas críticas dos adversários: "Nunca o vi perder a cabeça em nenhum momento, e ele foi vítima de todos os ataques inimagináveis."

"Quem fez o discurso do medo foram os nossos adversários. Nós fizemos sempre o discurso de confiança, esperança, voltado para o futuro." No discurso, Assis toma o lema do clube de hóquei da terra para o PS: "Lutar sempre, desistir nunca."

Está tudo de barriga cheia para o grande momento do dia: a arruada de Santa Catarina, no Porto. À mesmíssima hora, o principal rival - Luís Montenegro e a Aliança Democrática - passa pela mesma artéria para medirem forças.

Energia recuperada no Marco de Canaveses (Lusa)

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