FC Porto-Sporting: quatro ideias táticas que explicam o clássico

29 abr, 00:20
FC Porto-Sporting (LUSA)

João Pacheco, treinador e analista de futebol, desmonta o jogo grande em momentos chave

FC Porto e Sporting apresentaram-se em campo fiéis ao seu estilo e estruturas de jogo, embora com algumas surpresas nos onzes iniciais. Do lado da equipa da casa, a ausência de Pepe (jogou Zé Pedro) e a estreia a titular do jovem Martim Fernandes. Do outro lado, a opção por Paulinho na frente em vez de Gyökeres e utilização de Gonçalo Inácio na lateral esquerda.

1. FC Porto esperava o momento certo para pressionar (o que o levou ao golo)

Um dos aspetos muito importantes quando se defronta o Sporting e se pretende anular o seu jogo posicional é a forma como se aborda a sua construção a três. Ao longo dos anos várias têm sido a estratégias que Sérgio Conceição preparou para este momento. Desta vez optou por um bloco médio/alto, nem sempre tão pressionante como noutros jogos, aguardando os momentos certos para saltar mais alto na pressão, como por exemplo quando havia passe atrasado para o guarda-redes (movimento na origem do primeiro golo).

Foi fundamental o trabalho dos médios, juntamente com Evanílson, para anular a construção adversária e a ligação com os seus médios. Evanílson bem no centro, tirando linhas de passe a Coates, sem saltar muito na pressão, mas posicionando-se de forma a condicionar.

Depois, houve um grande trabalho por parte dos médios neste momento, para controlarem os médios adversário e os centrais de fora do Sporting: Nico González e Pepê condicionaram alternadamente St. Juste e Diomande quando tinham a bola e encostavam alternadamente num médio do Sporting, juntamente com Varela que encostava no outro. Com estes quatro jogadores (Evanílson, Nico González, Pepê e Varela) muito próximos e coordenados, o FC Porto evitava a entrada da bola nos médios sportinguistas, controlando um dos seus pontos fortes.

Francisco Conceição e Galeno, preocupados com Gonçalo Inácio e Catamo, entravam na linha defensiva (Galeno principalmente) se fosse necessário.

2. Sporting não tinha jogo entre-linhas e perdia a bola

O Sporting, ainda que conseguisse ter alguma bola na zona de construção, não conseguia fazer fluir o seu jogo.  Tinha dificuldades em ligar com os médios e não encontrava jogo entre-linhas. Por isso ia jogando sobretudo pelos corredores, mais vezes pelo lado esquerdo (com Daniel Bragança a abrir) e tentando alguns movimentos à profundidade, embora sem sucesso. Perdia, aliás, algumas bolas quando tentava ligar o seu jogo, o que permitia ao FC Porto ataques rápidos com perigo.

No lado oposto, durante a construção de jogo portista, o Sporting apostava neste momento num 4x4x2, que vem sendo a opção de Ruben Amorim várias vezes, tentando pressionar muito alto. Trincão, junto com Paulinho, na primeira linha de pressão, muito rápidos e intensos sobre os centrais adversários. Os médios surgiam muito altos a encostarem em Nico González e Varela, para não os deixarem receber. Catamo surgia numa linha mais alta na pressão, deixando neste momento uma linha de quatro atrás. A pressão era muito intensa e conseguia condicionar a construção mais curta do FC Porto.

3. Em vantagem, FC Porto atraiu a pressão do Sporting para jogar direto (e voltou a marcar)

Por seu lado, o Porto respondia com os laterais muito baixos neste momento, como forma de ligação, e ia tentando atrair a pressão do Sporting para depois jogar direto para os seus avançados: a partir daí aproveitava as linhas altas do seu adversário e os espaços.

O Sporting, portanto, ainda que tenha tido sucesso na grande maioria das ações de pressão, acabou por sofrer o segundo golo num momento destes, quando o Porto conseguiu sair de uma pressão intensa e depois aproveitar bem os espaços livres para chegar à finalização.

4. Alterações de Ruben Amorim equilibraram o jogo e Gyökeres trouxe profundidade

A equipa portista com vantagem no marcador e com maior controlo do jogo. Não foi por isso surpresa que o Sporting tenha não só mexido ao intervalo (entrada Gyökeres), como foi mexendo mais vezes e mais cedo ao longo da segunda parte. A equipa foi crescendo com as substituições, ficando sucessivamente mais próxima das suas dinâmicas mais fortes.

Ainda que a segunda parte se tenha iniciado com o mesmo equilíbrio e mais controlo do FC Porto, o Sporting ia tentando esticar mais o seu jogo (com muita profundidade de Gyökeres), que o FC Porto ia controlando bem. Na procura de novas soluções, o Sporting tentou ser mais ofensivo, dar mais consistência à sua construção e ligação de jogo. Com o tempo foi conseguindo ter mais bola, empurrando a equipa portista para trás (que também ia gerindo a vantagem) e jogando mais tempo no meio-campo adversário.

Ia defendendo bem e tentando sair em contra-ataque, e quando já poucos esperavam uma alteração do resultado, esta maior qualidade com bola do Sporting acabou por levar ao golo. Logo de seguida, num movimento de pressão, chegou ao empate. Um jogo controlado pelo FC Porto a maior parte do tempo, mas no qual não podemos fugir do lado individual e da capacidade de Gyökeres para mudar resultados.

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