"Boa tarde! Ah, está ao telefone". À festa de Pedro Nuno em Setúbal só veio quem recebeu o convite

5 mar, 21:00

Em Setúbal, há quem conte beijos. Tal como o PS conta conseguir o deputado adicional que este distrito passa a eleger. Ao fim da tarde, as ruas praticamente desertas dificultam a tarefa. Há multidão, sim, mas estes já sabem bem onde vão votar. Pedro Nuno Santos anda neste dias a apelar ao voto útil no PS. Mas isso não esvazia a esquerda? Ele diz que não. Até porque, por aqui, há quem goste dele precisamente por ser "mais à esquerda". Se tem tido telefonemas com Mortágua ou com Raimundo, não revela nada. A festa rija está guardada para Lisboa: António Costa volta à campanha

Há dias em que saímos à rua para comprar produtos para o cabelo e acabamos a dar dois beijinhos a um candidato a primeiro-ministro. Este é o dia para Margarida Taquelim, apanhada em Setúbal pela arruada de Pedro Nuno Santos. "É um homem muito jeitoso". E um palminho de cara sempre ajuda a decidir o sentido de voto.

As ruas do centro de histórico de Setúbal são bem apertadas. E o PS sabe bem disso quando quer mostrar mobilização. As gentes apertam-se, parecem mais. Mas há sempre alternativas para fugir à confusão e voltar a encontrar a dianteira da caravana. É ver Luísa Quintas e as amigas a furar nas artérias paralelas, para conseguir um beijo do secretário-geral do PS. Uma e outra vez.

"O meu voto vai para o PS,s não tenho dúvida. Já me deu um beijinho e um cumprimento. Já tenho o dia feito". Mas a verdade é que não tem. Alguns metros mais à frente: "já levei mais dois beijinhos". Na terceira vez em que nos cruzamos com ela: "agora foi um aperto de mão".

"Já lhe espetei dois grandes beijos", junta a amiga Fátima Canas, que quer "muito, muito" que o PS, o partido em que milita, vença estas eleições. Haver mais um deputado por Setúbal nestas legislativas, concorda, pode ajudar às contas.

Luísa foi encontrando alternativas para se cruzar, uma e outra vez, com Pedro Nuno Santos (CNN Portugal)

Tentativas de aproximação

Antes de passar a caravana, as ruas estão praticamente desertas. As lojas ainda têm as portas abertas, embora o fim do turno se aproxime. É para aí que Pedro Nuno Santos é aconselhado a ir por Ana Catarina Mendes, cabeça de lista pelo distrito. Ele tenta, com dificuldades, dada a mancha humana entre estreitas paredes. E, quando se aproxima de uma porta aberta, nem sempre consegue o que quer.

"Boa tarde! Ah, está ao telefone". Esta lojista não para o trabalho. Ele segue em frente. Ouve-se, na fanfarra, o "cheira bem, cheira a Lisboa". E de Lisboa vieram muitos para encher Setúbal. Em terra de choco, pôs-se a sardinha com carreira alfacinha toda no assador: Duarte Cordeiro, Pedro Marques, João Gomes Cravinho, Edite Estrela, Carlos Pereira ou Ricardo Mourinho Félix.

Ana Catarina Mendes acompanha o secretário-geral na arruada e dá-lhe dicas para convencer na terra (Lusa)

E, se há dois anos, António Costa tem Setúbal a mirá-lo pelas janelas, do mesmo não se pode gabar Pedro Nuno Santos. É que, basta olhar para cima, para as janelas de onde vêm os confetis, para perceber que os rostos são sempre os mesmos.

Outro rosto que se repete na arruada é o de Sara Aboobakar, que tinha agradecido a Costa o trabalho na pandemia e feito um pedido para estar na tomada de posse do Governo. Costa apontou o nome dela e cumpriu a promessa. Agora, só há agradecimento: “Eu vim agradecer ao PS pelo trabalho que tem feito, nomeadamente nos manuais escolares e no passe gratuito para os estudantes. Eu espero que as pessoas, no dia 10 de março, não se esqueçam disto e votem no PS”.

No final da arruada, usa um megafone para um discurso breve (Lusa)

No final da arruada, Pedro Nuno Santos sobe um canteiro, de megafone na mão, para prometer "trabalhar até às eleições" e insistir na mobilização. António e Rosário Narra olham espantados para a confusão que os apanha. "Passamos por aqui, mas não é a minha festa. Até gosto do indivíduo, porque é um pouco mais à esquerda", diz o homem.

Algo que o próprio Pedro Nuno não descarta, minutos antes, quando questionado pelos jornalistas: considera que apelar ao voto útil, como tem feito nos últimos dias, não é esvaziar a esquerda. Não quer é revelar se já tem tido telefonemas com Mariana Mortágua e Paulo Raimundo.

Da defesa ao ataque: Costa contra Portas

O dia de Pedro Nuno Santos nasce à defesa. Afinal, o principal adversário, Luís Montenegro, tinha vindo dizer que o socialista não tinha a "estabilidade emocional" necessária para governar.

"Lamentável": a resposta chega ao fim da manhã, no final de mais uma visita às obras de um novo hospital, desta vez em Sintra.“Eu cá tenho respeito pelos meus adversários todos e quero um país que não se divida”.

Pedro Nuno Santos volta a usar capacetes, para ver obras em mais um hospital (Lusa)

O que não quer dizer que não passe ao ataque. Face ao clima de incerteza, desafia o presidente do PSD a explicar "onde é que a AD e o PSD vão cortar se as previsões que fazem não se verificarem”.

Cenários macroeconómicos que, já num encontro com sindicalistas em Lisboa, diz não terem "adesão à previsão de nenhuma organização internacional". Já o PS, contrasta, é "o partido que defende e representa os trabalhadores, mas sempre no quadro de concertação social”.volta 

À tarde, durante um momento de pausa da caravana, os jornalistas recebem uma mensagem a informar que António Costa voltará a marcar presença na campanha, no comício da Aula Magna, em Lisboa. É interpretado como um nome para responder à Aliança Democrática, que nesta mesma noite recebe o sexto convidado de honra: Paulo Portas. Será essa, esperam os socialistas, a grande festa do dia.

Num encontro com sindicalistas ligados ao PS, volta a lançar um repto a Montenegro (Lusa)

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