Em Setúbal, há quem conte beijos. Tal como o PS conta conseguir o deputado adicional que este distrito passa a eleger. Ao fim da tarde, as ruas praticamente desertas dificultam a tarefa. Há multidão, sim, mas estes já sabem bem onde vão votar. Pedro Nuno Santos anda neste dias a apelar ao voto útil no PS. Mas isso não esvazia a esquerda? Ele diz que não. Até porque, por aqui, há quem goste dele precisamente por ser "mais à esquerda". Se tem tido telefonemas com Mortágua ou com Raimundo, não revela nada. A festa rija está guardada para Lisboa: António Costa volta à campanha
Há dias em que saímos à rua para comprar produtos para o cabelo e acabamos a dar dois beijinhos a um candidato a primeiro-ministro. Este é o dia para Margarida Taquelim, apanhada em Setúbal pela arruada de Pedro Nuno Santos. "É um homem muito jeitoso". E um palminho de cara sempre ajuda a decidir o sentido de voto.
As ruas do centro de histórico de Setúbal são bem apertadas. E o PS sabe bem disso quando quer mostrar mobilização. As gentes apertam-se, parecem mais. Mas há sempre alternativas para fugir à confusão e voltar a encontrar a dianteira da caravana. É ver Luísa Quintas e as amigas a furar nas artérias paralelas, para conseguir um beijo do secretário-geral do PS. Uma e outra vez.
"O meu voto vai para o PS,s não tenho dúvida. Já me deu um beijinho e um cumprimento. Já tenho o dia feito". Mas a verdade é que não tem. Alguns metros mais à frente: "já levei mais dois beijinhos". Na terceira vez em que nos cruzamos com ela: "agora foi um aperto de mão".
"Já lhe espetei dois grandes beijos", junta a amiga Fátima Canas, que quer "muito, muito" que o PS, o partido em que milita, vença estas eleições. Haver mais um deputado por Setúbal nestas legislativas, concorda, pode ajudar às contas.
Tentativas de aproximação
Antes de passar a caravana, as ruas estão praticamente desertas. As lojas ainda têm as portas abertas, embora o fim do turno se aproxime. É para aí que Pedro Nuno Santos é aconselhado a ir por Ana Catarina Mendes, cabeça de lista pelo distrito. Ele tenta, com dificuldades, dada a mancha humana entre estreitas paredes. E, quando se aproxima de uma porta aberta, nem sempre consegue o que quer.
"Boa tarde! Ah, está ao telefone". Esta lojista não para o trabalho. Ele segue em frente. Ouve-se, na fanfarra, o "cheira bem, cheira a Lisboa". E de Lisboa vieram muitos para encher Setúbal. Em terra de choco, pôs-se a sardinha com carreira alfacinha toda no assador: Duarte Cordeiro, Pedro Marques, João Gomes Cravinho, Edite Estrela, Carlos Pereira ou Ricardo Mourinho Félix.
E, se há dois anos, António Costa tem Setúbal a mirá-lo pelas janelas, do mesmo não se pode gabar Pedro Nuno Santos. É que, basta olhar para cima, para as janelas de onde vêm os confetis, para perceber que os rostos são sempre os mesmos.
Outro rosto que se repete na arruada é o de Sara Aboobakar, que tinha agradecido a Costa o trabalho na pandemia e feito um pedido para estar na tomada de posse do Governo. Costa apontou o nome dela e cumpriu a promessa. Agora, só há agradecimento: “Eu vim agradecer ao PS pelo trabalho que tem feito, nomeadamente nos manuais escolares e no passe gratuito para os estudantes. Eu espero que as pessoas, no dia 10 de março, não se esqueçam disto e votem no PS”.
No final da arruada, Pedro Nuno Santos sobe um canteiro, de megafone na mão, para prometer "trabalhar até às eleições" e insistir na mobilização. António e Rosário Narra olham espantados para a confusão que os apanha. "Passamos por aqui, mas não é a minha festa. Até gosto do indivíduo, porque é um pouco mais à esquerda", diz o homem.
Algo que o próprio Pedro Nuno não descarta, minutos antes, quando questionado pelos jornalistas: considera que apelar ao voto útil, como tem feito nos últimos dias, não é esvaziar a esquerda. Não quer é revelar se já tem tido telefonemas com Mariana Mortágua e Paulo Raimundo.
Da defesa ao ataque: Costa contra Portas
O dia de Pedro Nuno Santos nasce à defesa. Afinal, o principal adversário, Luís Montenegro, tinha vindo dizer que o socialista não tinha a "estabilidade emocional" necessária para governar.
"Lamentável": a resposta chega ao fim da manhã, no final de mais uma visita às obras de um novo hospital, desta vez em Sintra.“Eu cá tenho respeito pelos meus adversários todos e quero um país que não se divida”.
O que não quer dizer que não passe ao ataque. Face ao clima de incerteza, desafia o presidente do PSD a explicar "onde é que a AD e o PSD vão cortar se as previsões que fazem não se verificarem”.
Cenários macroeconómicos que, já num encontro com sindicalistas em Lisboa, diz não terem "adesão à previsão de nenhuma organização internacional". Já o PS, contrasta, é "o partido que defende e representa os trabalhadores, mas sempre no quadro de concertação social”.volta
À tarde, durante um momento de pausa da caravana, os jornalistas recebem uma mensagem a informar que António Costa voltará a marcar presença na campanha, no comício da Aula Magna, em Lisboa. É interpretado como um nome para responder à Aliança Democrática, que nesta mesma noite recebe o sexto convidado de honra: Paulo Portas. Será essa, esperam os socialistas, a grande festa do dia.