"Tem ali um grande espadarte". Sermão de S. Pedro Nuno das varandas aos peixes beijoqueiros

3 mar, 19:05

Lá vai uma. Lá vão duas. Três arruadas para Pedro Nuno Santos. Sempre em território de conforto para os socialistas. Depois de António Costa ter entrado na campanha, o sucessor copia-lhe agora os gestos. Nas varandas, nas despedidas empoleirado no carro. Ainda assim, há quem diga que ele "não tem o carisma" de outros líderes do PS, que vai ter de estender as redes à esquerda. Pedro Nuno Santos não é unânime. Tanto que em Guimarães se dá o primeiro incidente da campanha: um homem atirou palavrões e um vaso com terra na direção da caravana socialista. A reação é feita com "serenidade" e "respeito por quem pensa diferente". Em Vizela, houve confetis. E um cravo que se fez beijo

Que grande gaita! Uma gaita tão grande que enche as Caxinas. É de João Rodrigues. "Isto é um instrumento nobre e a campanha precisa de fôlego para animar". Vem aí Pedro Nuno Santos. O mar de gente abre-se para ele. E seguem na onda socialista.

João Rodrigues ajuda a animar a arruada nas Caxinas (CNN Portugal)

É uma estrela que vem à terra. Um santo, daqueles a quem se beija e abraça, sabe-se lá quando volta aqui se não houver milagre no dia 10. Há quem conte os beijos que já lhe deu. Ele fura a bolha dos jornalistas, sabe que cada voto conta. Mesmo quando se percorre terra favorável.

Pedro Nuno levado em ombros, animado pela receção (Lusa)

O povo é do mar e sabe a quem o PS tem de esticar as redes para a maioria. "O PS devia coligar-se com a esquerda". Palavra de José António Terroso, com a cadela ao colo. "É a Tuxa, também é do PS. Aqui 90% é do PS".

José António Terroso faz questão de vincar que as Caxinas são um bastião socialista (CNN Portugal)

Alexandre Lopes rejeita que tenham de ser os socialistas a tomar a iniciativa. "Se alguém tem de estender as redes são os outros ao PS". Este líder agrada-o. "Mas é o carisma de Mário Soares? Não. Já António Costa é uma figura emblemática. Estou convencido de que o Pedro Nuno daqui a quatro ou cinco anos estará diferente".

Pelas Caxinas, a memória de António Costa é boa. O nome vem naturalmente, sem ser preciso puxar. Ontem entrou na campanha, hoje está na coreografia de gestos que o sucessor fez em cada uma das três arruadas do dia. Nos beijos, nas subidas às varandas, nos momentos em que é levado em ombros, na despedida demorada empoleirado no carro.

A primeira varanda a que Pedro Nuno sobe é de Olívia Santos, reformada, depois de muitos anos no setor têxtil. "Deus queira que ele ganhe. Foi um gosto tê-lo aqui em casa. Também já gostava do António Costa". Um aceno do alto, o primeiro do longo dia. 

Esta é a primeira varanda de Pedro Nuno. Costa, quando passou nas Caxinas, fez o mesmo (CNN Portugal)

Um peixe grande em terra

São Pedro dá uma trégua ao Pedro Nuno. “Isto é impressionante. Vocês podem testemunhar a força com que as pessoas estão, a vontade que têm. Era impossível ser melhor, é extraordinário”, reage. A arruada faz-se entre as pingas da chuva. Tal como Conceição Felgueiras, do alto da sua baixa estatura, vai furando a multidão, para ficar perto do secretário-geral socialista. "O PS não tem medo de nada. Aqui está ganho, no resto vai-se a ver".

Manuel Pizarro, ministro da Saúde, integra a arruada (Lusa)

O cardume socialista vai alimentando a multidão. Há Manuel Pizarro, ministro da Saúde. Há Francisco Assis, cabeça de lista pelo Porto. Mas o mulherio está aqui para ver o líder. É Céu Salazar, que se dedica à renda de bilros, quem o garante. "Veja lá como elas se aproximam para tirar uma foto perto dele". Ri-se. Ri-se muito.

Hoje, nas Caxinas, a pescaria foi boa. "Tem ali um grande espadarte". Segue-se um palavrão usado como vírgula. A mão esquerda de Céu em direção ao céu, com o punho fechado. "Estamos aqui para o ajudar". E o povo - não só o mulherio - vibra quando Pedro Nuno critica a "arrogância" dos que achavam que iam ganhar (boca para a AD) e quando diz que "este país que se fez no mar, que se construiu no mar, nunca vai esquecer quem se faz ao mar todos os dias".

Pedro Nuno empoleirou-se no carro para a despedida. Fez lembrar Costa (Lusa)

Palavrões, muitos palavrões. E um vaso atirado da varanda: o primeiro incidente

É de uma outra varanda, desta vez em Guimarães, que nasce o primeiro incidente da campanha socialista. Já lá vamos. Porque há muita arruada feita quando ele acontece.

"Bandeiras de Portugal já não tenho, já foram todas. Mas tenho do PS, que é o que mais importa". A Juventude Socialista não tem mãos a medir. Maria do Carmo Coutinho conseguiu arranjar uma bandeira do partido. Quando Pedro Nuno Santos mergulha no povo, ela não contém o grito. "Vão-me matar o homem". Fura a confusão, sempre na tentativa de um beijo. "Quando foi o Costa, sim, dei-lhe um beijo".

Maria do Carmo apanhada no meio da confusão socialista (CNN Portugal)

Spoiler: desta vez, Maria do Carmo não consegue. Mas era vê-la, a defender o novo secretário-geral, a gritar "badalhoco, badalhoco, badalhoco" quando acontece o primeiro momento de tensão da campanha. Já tinha havido alguns descontentes a mandar bocas, mas aqui a coisa escala.

Na varanda, um homem grita palavrões, mostra os dedos do meio das mãos, agarra o genital por cima das calças de fato de treino à passagem da caravana. A multidão socialista procura abafá-lo. Pedro Nuno Santos segue, com José Luís Carneiro ao lado. Mas o homem não desiste. Vários minutos a afrontar quem passa. Até que atira um vaso de flores, cheio de terra.

É este homem quem mostra fúria à caravana socialista. Longos minutos, até atirar um vaso (Lusa)
Minutos depois, o secretário-geral do PS sobe a outra varanda para falar em vitória (Lusa)

Noutra varanda, um pouco mais à frente, um pouco mais imponente, Pedro Nuno volta a ver o povo do alto. "Vamos ganhar, vamos ganhar". E põe as mãos cruzadas sobre o peito em agradecimento. As mesmas mãos que, já vai o carro do candidato em movimento, se segura às de uma idosa que fez questão de estar ao pé dele até ao fim.

Na despedida de Guimarães, no interior do carro, mantém a mão dada a uma idosa (Lusa)

Um cravo que se fez beijo

Diz-se que não há duas sem três. Vizela confirma-o. O som dos bombos abafa as palavras, aos jornalistas, sobre o sucedido em Guimarães. Pedro Nuno reage "com serenidade, respeito por quem pensa diferente. A democracia é isso - visões diferentes que devem ser partilhadas com serenidade, tranquilidade, com respeito pelos outros. É sempre isso que nós fazemos, é uma das nossas conquistas - a democracia, o direito a escolher quem queremos".

Mais abraços na terceira arruada deste domingo (Lusa)

E, por este bastião, o povo parece já ter escolhido bem quem quer. O presidente da câmara, Victor Hugo Salgado, lembra a maioria absoluta de 2022. Parte para os ataques à AD. "Cortou-nos os feriados", grita o senhor Clemente na primeira fila. E volta-se a Luís Montenegro. "Se ele perder as eleições, acham que ele vai para Espinho?". "Não, vai para o Chega", responde a multidão.

José Luís Carneiro, cabeça de lista por Braga, aproveita o palco para entregar um cravo a Pedro Nuno Santos. É de uma idosa que não conseguiu chegar ao candidato. "Todos sabemos o que significa". No meio de tanto beijo, há sempre quem fique em falta. "Vamos trabalhar até ao último dia, para Portugal ter uma grande vitória", garante o secretário-geral socialista.

O PS quer os confetis de Vizela espalhados pelo país.

Vizela voltou a ter confetis, tal como nas passagens de António Costa (CNN Portugal)

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