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Influencer. Advogados contratam ex-ministro com quem tinham interesses: "Está coberto o que lhe vamos pagar" 

17 jun, 19:59

Escutas apanharam conversas de Matos Fernandes poucos meses depois de ter deixado de ser ministro

Para o Ministério Público não há coincidências – e, sim, eventuais crimes de corrupção, prevaricação, entre outros. João Pedro Matos Fernandes foi trabalhar, mal deixou de ser ministro do Ambiente, para a Abreu Advogados – depois de ter participado na aprovação de legislação na área dos resíduos que beneficiou clientes daquela sociedade. Numa escuta da operação Influencer, a que a CNN Portugal teve acesso, o sócio da Abreu José Eduardo Martins “diz que o Matos Fernandes vai trabalhar para ele e que inclusivamente já tem coberto o que lhe vai pagar em avenças”.

A escuta é de 14 de junho de 2022, escassos meses depois de Matos Fernandes ter saído do Governo, e o interlocutor de José Eduardo Martins no telefonema era Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, que estava sob escuta por causa do caso Data Center.    

Segundo o Ministério Público, no processo a que a CNN Portugal teve acesso, “investiga-se nos autos a prática de crimes de corrupção, de prevaricação, sendo suspeito, entre outros, João Pedro Matos Fernandes...". 

Seis meses depois de ter deixado o executivo, Matos Fernandes já era motivo de preocupação para o Governo. A 31 de outubro de 2022, João Galamba, então secretário de Estado do Ambiente e Energia, ligou a Hugo Mendes, secretário de Estado adjunto e das Comunicações: "Hugo Santos Mendes pergunta a Galamba se o Matos Fernandes está a colaborar com a Copenhagen Offshore; e Galamba diz que acha que sim”. Mendes diz a Galamba para ter “cuidado com isso, que uma coisa é ele lixar-se, outra coisa é nós lixarmo-nos todos com isso, porque se vamos discriminar positivamente de alguma forma a Copenhagen Offshore e depois..."

A Copenhagen Partners é uma empresa ligada a outra que fez parte do consórcio H2 Sines, composto pela REN, EDP e Galp. Enquanto ministro, Matos Fernandes assumiu, na altura, o convite às empresas portuguesas para participarem. 

Mas para o Ministério Público as ligações ao escritório de advogados Abreu é ainda mais abrangente: "...João Pedro Matos Fernandes participou na aprovação de diversa legislação do setor dos resíduos (…) bem como em portarias que regulam as taxas devidas em matéria de gestão de resíduos (...). A Abreu Advogados faz assessoria a diversas empresas de resíduos e à associação das empresas de gestão de resíduos não perigosos."

Contactado pela CNN Portugal, o antigo ministro Matos Fernandes disse só reagir a todas as notícias quando tiver oportunidade de se pronunciar no inquérito. Não é para já arguido na operação Influencer.

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