NOTA DO EDITOR | Oona Hanson é educadora e coach de pais. É especialista em apoiar os pais a criarem filhos que tenham uma relação saudável com a comida e o seu corpo
Se é como a maioria das pessoas que fazem resoluções dietéticas de Ano Novo, provavelmente já está a ter dificuldades em cumpri-las. Mas não tem de se culpar.
As nossas mentes e corpos lutam ativamente contra os tipos de regras alimentares restritivas promovidas de forma tão agressiva em janeiro. Especialistas em psicologia e nutrição ensinaram-me que dar-nos um pouco de compaixão - e abandonar completamente a mentalidade de dieta - pode ser a melhor maneira de fazer deste um bom ano.
Restrições alimentares saem pela culatra
Há décadas que sabemos que as dietas não funcionam a longo prazo. Vários sistemas corporais tornam quase impossível manter a restrição e por boas razões. Reduzir a ingestão de alimentos é "indequado de uma perspetiva evolutiva", observa a médica Charlotte Markey, também professora de psicologia na Universidade Rutgers, Nova Jérsia, e autora de "The Body Image Book for Girls: Love Yourself and Grow Up Fearless" (título em inglês) e coautora de "Being You: The Body Image Book for Boys" (título em inglês).
As empresas de dietas ou as influencers de bem-estar podem sugerir que as pessoas se sintam mal por terem caído da carroça, mas a ciência da nutrição é clara: "A culpa não é sua", diz a dietista Shana Minei Spence, que escreve a newsletter “The Nutrition Tea” (título em inglês). É pouco provável que muitas pessoas consigam manter uma dieta, não por causa de uma falha pessoal, mas simplesmente "porque somos humanos", acrescenta.
Segundo Markey, quando nos concentramos e nos esforçamos muito para não comer algo, o nosso cérebro passa muito tempo a pensar nesse alimento proibido, o que aumenta a probabilidade de nos sentirmos atraídos por ele. O fenómeno, conhecido em psicologia como "processamento irónico", explica por que razão quanto mais controlo tentamos exercer sobre a comida, mais ela acaba por nos controlar.
A pressão em torno das resoluções de janeiro leva muitas pessoas a estabelecer objetivos irrealistas desde o início, algo que Spence observa: "Em vez de fazermos pequenas mudanças, queremos mudar completamente a forma como comemos e isto tem o que se chama um efeito de fruto proibido".
As dietas fazem falsas promessas
Tal como ninguém se deve sentir culpado por desistir de uma dieta, também ninguém se deve sentir louco por tentar fazer uma. O fascínio do recomeço de janeiro apenas contribui para mensagens sedutoras sobre reinvenção e autoaperfeiçoamento. A crença na transformação - e aquela explosão de confiança e otimismo que sentimos quando embarcamos numa resolução - pode levar-nos a um "pensamento mágico", observa Markey.
"Nós, enquanto sociedade, tendemos a ter uma abordagem de tudo ou nada. O Ano Novo é a época dos objetivos ou resoluções, por isso queremos mudar para o que pensamos ser 'para melhor' e queremos fazê-lo imediatamente", afirma Spence por e-mail.
Oferecer compaixão a nós mesmos pode ajudar-nos a ver como é libertador aceitar que "a dieta nunca vai funcionar", diz Markey.
Melhorar a alimentação sem fazer dieta
Saber que as dietas são ineficazes não significa que não possa melhorar a sua alimentação, mas isso exige que seja realista. "Não há absolutamente nada de errado em querer comer mais frutas e legumes. Mas a forma como o abordamos é importante", observa Markey. "É preciso ter em conta o quão habitual é o nosso comportamento; precisamos de fazer mudanças muito pequenas e muito graduais".
Spence recomenda que se pense em adição em vez de subtração quando se trata de melhorar a alimentação e sublinha que é essencial tornar essas mudanças agradáveis e fazê-lo de forma a aumentar e não a diminuir a variedade.
"Se o seu objetivo era ingerir mais legumes, isso não significa que tenha de comer apenas saladas e não apreciar outros alimentos", afirma. "Significa que pode pensar em como adicionar vegetais ao longo do dia, como em batidos ou em ovos de manhã, em sandes ao almoço, em cima da pizza ou talvez em molhos".
A ciência comportamental também apoia os ajustes alegres aos seus hábitos: "Faça com que seja algo divertido, algo que esteja a ser abordado com um sentido de interesse ou de curiosidade ou mesmo de aventura", aconselha Markey, sugerindo experimentar uma nova fruta ou legume sempre que se vai às compras.
Rejeitar as dietas tem benefícios
Fazer dieta é uma forma de alimentação desordenada e pode aumentar o risco de distúrbios alimentares, doenças mentais graves que estão a aumentar. Por isso, a eliminação das mentalidades de dieta do tipo "tudo ou nada" pode melhorar a nossa nutrição e beneficiar-nos de formas mais profundas.
"Não só é ineficaz fazer dieta, como é de facto muito negativo em termos de saúde física e mental", afirma Markey. "Quando encaramos a comida como algo a evitar ou mesmo a temer, deixamos de a apreciar, o que pode ter consequências realmente devastadoras, não só para os nossos hábitos alimentares, mas também para a nossa saúde mental".
Por isso, se vamos apontar o dedo da culpa nesta altura do ano, este deve ser apontado diretamente à cultura da dieta, que insinua que a comida deliciosa é algo que deve ser evitado ou comido apenas nas chamadas "cheat meals" ou como um "guilty pleasure".
Esta abordagem restrita da nutrição é incorreta e contraproducente: "Nunca nos devemos sentir culpados por gostarmos de certos alimentos. Estes devem ser agradáveis e ter um bom sabor, para além de fornecerem nutrientes. Os únicos alimentos que devem ser evitados são aqueles a que somos alérgicos, os que temos de evitar por razões médicas e os que não gostamos", afirmou Spence.
Rejeitar as mensagens de culpa e de restrição pode também beneficiar as nossas relações e com a comunidade. A forma como falamos e agimos em relação à comida afeta não só o nosso bem-estar, mas também o das pessoas que nos rodeiam, como os nossos filhos, amigos ou colegas. "Ao contrariar todas estas mensagens da cultura da dieta, podemos ajudar a mudar as normas", acrescenta Markey.