Esta dieta, combinada com exercício, reduz a (perigosa) gordura abdominal 

CNN , Sandee LaMotte
26 nov 2023, 11:00
Dieta Mediterrânica

A dieta consiste numa culinária simples e baseada em vegetais, com a maioria das refeições centradas em frutas, vegetais, cereais integrais, legumes e sementes, com alguns frutos secos e uma grande ênfase no azeite extra-virgem

Pessoas mais velhas que seguiram uma dieta mediterrânica de baixas calorias, e realizaram um mínimo de exercício físico até seis dias por semana, ganharam massa muscular e perderam uma quantidade significativa de gordura corporal ao longo de um ano, revela um novo estudo. Além disso, conseguiram manter grande parte destes resultados durante três anos.

"Este estudo demonstra que uma dieta mediterrânica controlada em calorias e combinada com exercício físico, não resulta apenas na perda de peso; também promove uma redistribuição da composição corporal, desde a gordura ao músculo", afirmou David Katz, especialista em medicina preventiva e de estilo de vida, que não esteve envolvido no estudo.

Além da perda geral de gordura corporal, os participantes no estudo também perderam a perigosa gordura abdominal visceral, associada ao desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.

"Embora os resultados do novo estudo não sejam surpreendentes, eles ampliam os benefícios da dieta e do exercício 'da simples perda de peso à mobilização da nociva gordura visceral'", apontou Katz, presidente e fundador da True Health Initiative, uma coligação global de especialistas dedicados à medicina, baseada em evidências relacionadas com o estilo de vida.

A gordura visceral não é visível. Ela encontra-se por detrás dos músculos do estômago, envolvendo os órgãos do abdómen. De acordo com a Cleveland Clinic, se a gordura visceral corresponder a cerca de 10% de massa gorda total do corpo, isso é normal e saudável. No entanto, um excesso de gordura visceral pode causar inflamação, contribuindo para doenças crónicas.

"Este estudo confirma que podemos alterar profundamente o nosso estado metabólico", considerou Walter Willett, investigador no domínio da nutrição, professor de epidemiologia e nutrição na Harvard T.H. Chan School of Public Health e professor de medicina na Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos.

"Agora precisamos de proporcionar um ambiente de apoio e recursos que ajudem as pessoas a fazer esta mudança, porque beneficiará tanto os indivíduos como a sociedade em geral", argumentou Willett, que não esteve envolvido no estudo.

Parte de um estudo maior

A investigação faz parte de um ensaio clínico aleatório de oito anos, realizado em Espanha, com 23 centros de investigação que testaram a forma como a dieta e o exercício podem reduzir o risco cardiovascular em homens e mulheres com idades compreendidas entre os 55 e os 75 anos. Todos os 6.874 participantes no estudo tinham excesso de peso ou eram obesos e sofriam de síndrome metabólica - tensão arterial elevada, níveis elevados de açúcar no sangue, colesterol alterado e excesso de gordura à volta da cintura.

O novo estudo, publicado na revista JAMA Network Open, examinou os resultados de um e três anos numa subpopulação de 1.521 pessoas que foram submetidas a exames para determinar os níveis de gordura abdominal visceral.

Foi pedido a metade do grupo que seguisse uma dieta mediterrânica com uma redução de 30% nas calorias e que limitasse a ingestão de açúcar adicionado, bolachas, pães e cereais refinados, manteiga, natas, carnes processadas e bebidas açucaradas. Além disso, o grupo de intervenção recebeu apoio, três vezes por mês, de nutricionistas, durante o primeiro ano, juntamente com formação sobre autocontrolo e estabelecimento de metas.

A esse mesmo grupo foi também pedido que, ao longo do tempo, aumentasse o seu exercício aeróbico, para caminhar 45 ou mais minutos por dia, juntamente com exercícios para melhorar a força, a flexibilidade e o equilíbrio, fundamentais para um bom envelhecimento.

"Quando se reduzem as calorias, perde-se massa magra e gorda.  O exercício ajuda a proteger a massa magra, especialmente se se adicionar treino de resistência para construir músculo. Geralmente, o ideal é perder gordura e manter o músculo", observou Katz, que liderou um estudo sobre como utilizar os alimentos como medicina preventiva.

Os restantes participantes receberam conselhos gerais durante sessões de grupo duas vezes por ano e serviram como grupo de controlo para o estudo.

"Teria sido muito mais informativo se o grupo de controlo tivesse recebido um apoio semelhante, mesmo que contivesse apenas conselhos genéricos", considerou Gunter Kuhnle, professor de ciências alimentares e nutricionais na Universidade de Reading, no Reino Unido, que não esteve envolvido no estudo.

"Motivação e cumprimento são muito importantes em estudos que investigam mudanças de comportamento, e a conceção do estudo claramente favoreceu a intervenção", argumentou Kuhnle.

Resultados modestos, mas significativos

Ao fim de um ano, as pessoas do grupo de intervenção que seguiram a dieta mediterrânica de baixas calorias e praticaram exercício físico perderam uma modesta quantidade de gordura corporal, mas significativamente mais do que o grupo de controlo. No entanto, o grupo de intervenção recuperou alguma da gordura após dois ou três anos, à medida que o aconselhamento dietético e o apoio foram retirados. A menor quantidade de gordura corporal perdida pelo grupo de controlo permaneceu estável ao longo dos três anos.

No entanto, "apenas os participantes do grupo de intervenção diminuíram a quantidade de massa de gordura visceral em gramas," enquanto a massa gorda visceral permaneceu inalterada no grupo de controlo, de acordo com o estudo.

Ambos os grupos ganharam alguma massa muscular magra, mas o grupo de intervenção teve uma "composição corporal mais favorável", na medida em que perdeu mais gordura do que músculo, afirmam os autores.

"O que mais me impressiona é o acompanhamento de três anos", disse Christopher Gardner, professor investigador de medicina no Stanford Prevention Research Center na Califórnia, que lidera um grupo de pesquisa em estudos de nutrição e não esteve envolvido no estudo.

"Raramente temos estudos para citar que ultrapassem um ano", observou Gardner. "A magnitude das diferenças de três anos é modesta, e a tendência de 1 para 3 anos sugere que aos 6 anos os efeitos podem ser reduzidos a insignificantes." Ainda assim, acrescentou: "as diferenças estatisticamente significativas aos 3 anos são impressionantes!"

Dieta mediterrânica

Estudos revelaram que a premiada dieta mediterrânica pode reduzir o risco de diabetes, colesterol elevado, demência, perda de memória, depressão e cancro da mama. Esta dieta, que é mais um estilo de alimentação do que uma dieta restrita, também tem sido associada a ossos mais fortes, a um coração mais saudável e a uma vida mais longa.

A dieta consiste numa culinária simples e baseada em vegetais, com a maioria das refeições centradas em frutas, vegetais, cereais integrais, legumes e sementes, com alguns frutos secos e uma grande ênfase no azeite extra-virgem. As gorduras que não o azeite, como a manteiga, raramente são consumidas, se o forem, e o açúcar e os alimentos refinados são reservados para ocasiões especiais.

A carne vermelha é usada com moderação, normalmente apenas para dar sabor a um prato. É encorajado o consumo de peixe saudável e gordo, rico em ácidos gordos ómega-3, enquanto os ovos, os lacticínios e as aves são consumidos em porções muito mais pequenas do que na dieta ocidental tradicional.

As interações sociais durante as refeições e o exercício físico são os pilares básicos do estilo de alimentação mediterrânico. As mudanças no estilo de vida que fazem parte da dieta incluem comer com amigos e familiares, socializar durante as refeições, comer conscientemente os alimentos preferidos, bem como fazer movimentos e exercícios conscientes.

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