As crianças estão a começar a menstruar mais cedo. Eis o que isso significa para a saúde delas

CNN , Madeline Holcombe
15 jun, 09:00
Tampão

As gerações mais jovens estão a ter a primeira menstruação mais cedo e o tempo que leva para se tornarem regulares está a mudar – o que pode apontar para problemas de saúde posteriores, de acordo com um novo estudo.

“Entre os indivíduos nascidos entre 1950 e 2005, descobrimos que as gerações mais jovens iniciavam a primeira menstruação (menarca) mais cedo. E o tempo que leva para que a menstruação se torne regular também aumentou”, diz, em declarações por email, Zifan Wang, principal autor do estudo e investigador de pós-doutoramento na T.H. Chan School of Public Health, da Universidade de Harvard.

O estudo, publicado no final de maio, no JAMA Network Open, analisou dados de mais de 70.000 participantes que responderam a questionários como parte do Apple Women's Health Study, uma análise de longo prazo sobre ciclos menstruais que usa dados da aplicação para telemóvel Apple Health.

Os dados foram recolhidos digitalmente, contando com que as pessoas relatassem as informações por conta própria com base nas suas memórias sobre menstruação precoce, limitando assim os resultados, alerta Zifan Wang. Mas outras análises documentaram a tendência dos primeiros ciclos menstruais começarem em idades mais precoces ao longo do tempo.

No último estudo, os investigadores compararam as tendências nas idades das primeiras menstruações e quanto tempo levou para a menstruação se tornar regular por faixas etárias, explica Zifan Wang. E descobriram que as tendências eram ainda mais fortes em pessoas de grupos minoritários raciais e étnicos e/ou de estatuto socioeconómico mais baixo.

“Isto é importante porque a menarca precoce e os períodos irregulares podem sinalizar problemas físicos e psicossociais mais tarde na vida”, destaca Wang. “E estas tendências podem contribuir para o aumento de problemas de saúde no futuro e das desigualdades nos Estados Unidos”.

Um sinal vital

A menstruação é como um sinal vital, explica Eve Feinberg, professora associada de obstetrícia e ginecologia da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University, em Chicago. A especialista não esteve envolvida na pesquisa.

“Queremos ter certeza de que o corpo está regulado”, diz Feinberg. “E quando os ciclos não são regulares, geralmente é um sinal de que algo mais pode estar a acontecer”.

Cientistas e prestadores de cuidados de saúde já sabem que os períodos precoces e um tempo mais longo para a regulação dos ciclos estão associados a efeitos negativos na saúde, incluindo doenças cardiovasculares e cancro, sublinha Wang.

Quanto mais tempo as jovens têm ciclos menstruais irregulares, mais tempo podem ficar expostas a um desequilíbrio entre duas hormonas importantes: estrogénio e progesterona, explica Eve Feinberg.

O estrogénio dá o sinal para o crescimento, enquanto a progesterona dá sinal para que esse crescimento pare, acrescenta. Para prevenir doenças como o cancro do útero, são necessários ter sinais adequados para iniciar e interromper o crescimento.

Teoricamente, exposições mais longas ao estrogénio sem um bom equilíbrio de progesterona podem estar na origem de um aumento de cancros do endométrio e problemas de fertilidade no futuro, diz ainda a especialista, acrescentando que um período precoce, por si só, pode representar problemas.

Além disso, para uma criança de oito anos que está a passar pela puberdade, muitas vezes há uma desconexão entre a idade da mente e do corpo da criança, disse ainda.

De onde vêm essas tendências?

A próxima pergunta é: Porque é que essas tendências menstruais estão a mudar?

Períodos precoces podem estar associados a um índice de massa corporal durante a infância, diz Zifan Wang.

“Isto implica que a obesidade infantil, que tem vindo a aumentar nos EUA, pode estar a contribuir para que as pessoas menstruem mais cedo”, acrescenta.

A causa também pode ser outros fatores ambientais, como a nutrição ou a prevalência de microplásticos, acrescenta Feinberg, sublinhando que são necessárias mais investigações.

Estudos adicionais podem ajudar os médicos a aconselhar melhor as mulheres sobre a sua menstruação e reconhecer o impacto na saúde dos seus pacientes, diz Shruthi Mahalingaiah, um dos principais investigadores desta pesquisa, professor assistente de saúde ambiental, reprodutiva e da mulher na Escola de Saúde Pública T.H Chan, da Universidade de Harvard.

Os médicos devem avaliar crianças com menstruação precoce ou ciclos irregulares de longa duração para garantir que não haja um problema subjacente, sublinha Feinberg.

“Às vezes, só o uso de pílulas anticoncecionais em idades mais precoces para ajudar a proporcionar uma exposição mais precoce à progesterona pode proporcionar um pouco mais de controle do ciclo e possivelmente ser protetor”, diz Eve Feinberg. “Mas acho que a chave provavelmente é realmente perceber o que está por trás disto e atuar na raiz do problema.”

Patrocinados