Tem sido usada no sudeste da Ásia para tratar desconforto estomacal e outras condições inflamatórias. A sua utilização medicinal remonta a centenas de anos
Uma boa opção de tratamento para a indigestão pode já estar na sua prateleira de especiarias, de acordo com um novo estudo.
A investigação, publicada na revista médica BMJ, comparou a reação de mais de 150 pessoas com dispepsia, ou indigestão, ao medicamento omeprazol, à curcuma - que contém o composto curcumina - ou a uma combinação dos dois.
O omeprazol é um medicamento comum utilizado para tratar certos problemas do coração e do esófago, reduzindo o ácido no estômago, de acordo com o hospital Mayo Clinic, nos Estados Unidos.
Nos dias 28 e 56 de tratamento, as pessoas no estudo foram avaliadas quanto aos seus sintomas - que podem incluir dor de estômago, inchaço, náuseas ou uma sensação precoce de satisfação - utilizando a avaliação SODA (Severity of Dyspepsia Assessment), um questionário que classifica a gravidade da indigestão.
Os investigadores não encontraram diferenças significativas nos sintomas dos grupos que tomaram o medicamento, a curcuma ou a combinação dos dois, segundo o estudo.
"Para além dos efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, a curcumina/curcuma pode ser uma opção para o tratamento da dispepsia com uma eficácia comparável à do omeprazol", afirmou o autor principal do estudo, Krit Pongpirul, professor associado do departamento de medicina preventiva e social da Universidade de Chulalongkorn em Banguecoque, Tailândia.
A curcuma tem sido usada no sudeste da Ásia para tratar desconforto estomacal e outras condições inflamatórias, disse Pongpirul. A sua utilização medicinal remonta a centenas de anos, de acordo com um estudo de 2017.
Nos Estados Unidos, o seu principal uso medicinal tem sido como suplemento dietético anti-inflamatório e antioxidante para aliviar a osteoartrite e a síndrome do intestino irritável, acrescentou.
Mas este é o primeiro ensaio clínico que compara diretamente a curcumina/curcuma com o omeprazol no tratamento da dispepsia, sublinhou Pongpirul.
Dúvidas sobre o impacto da curcuma
Faz sentido que a pesquisa investigue o impacto do açafrão-da-terra na indigestão, porque o seu composto curcumina tem sido estudado numa grande variedade de condições inflamatórias, incluindo a doença inflamatória intestinal e a artrite, considerou Yuying Luo, gastroenterologista e professora assistente de gastroenterologia na Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai, em Nova Iorque.
Alguns estudos mostraram que a curcumina era útil em conjunto com outros medicamentos, observou.
Mas Luo tem algumas dúvidas sobre o novo estudo.
A escala que os investigadores utilizaram para medir os sintomas não é a mais comum para avaliar a melhoria da indigestão, justificou.
Luo também gostaria de ver quais seriam os resultados se os sintomas fossem medidos com mais frequência.
"Não creio que este estudo, por si só, seja suficiente para eu dizer: 'Eu recomendo isto'", defendeu. "Proceda com cautela."
Mas como há muitas pesquisas em curso sobre o impacto do composto em diferentes condições inflamatórias, mais entendimentos podem estar próximos, acrescentou Luo.
"A curcumina não vai a lado nenhum", brincou.
Deve começar a tomar curcuma?
Deve aumentar a curcuma na sua dieta para uma melhor digestão? Fale primeiro com o seu médico, aconselhou Luo.
Tem havido alguns estudos de caso de curcumina e lesão hepática, e é importante certificar-se de que a curcuma não interage mal com qualquer um dos outros medicamentos que esteja a tomar, salientou.
"Os consumidores devem estar cientes dos efeitos colaterais dos extratos de curcumina, como alergia e risco de sangramento, especialmente para aqueles que tomam medicamentos anticoagulantes ou antiplaquetários", disse Pongpirul.
Dito isto, a curcumina e a curcuma são "geralmente consideradas seguras quando consumidas nas quantidades tipicamente encontradas nos alimentos".
Normalmente, as especiarias de curcuma contêm cerca de 3% de curcumina, de acordo com um estudo de 2009.
A dose de 2 gramas administrada neste estudo é relativamente baixa em comparação com os extractos normalmente encontrados nos suplementos de curcumina, indicou Pongpirul.
Pode não ser necessário tomar a curcuma e o omeprazol juntos se apenas um ou outro funcionar de forma semelhante para reduzir o risco de efeitos colaterais.
Embora precise de ler mais estudos antes de começar a recomendar o açafrão-da-terra como tratamento, Luo disse que acha que faz sentido falar com o seu médico sobre se deve experimentá-lo para além dos seus medicamentos.
No entanto, ela acrescenta uma advertência: as pessoas que tentam estas alternativas devem dar-lhes duas a quatro semanas para ver qual é o impacto total.
"Se for útil, isso é maravilhoso", acrescentou Luo. "Se não, essa é a parte difícil do tratamento de distúrbios... nem todos os pacientes são iguais e têm a mesma resposta à medicação."
