Cinco pontos que ficam do congresso do PSD

19 dez 2021, 18:05
Congresso PSD (Estela Silva/LUSA)

Faltam 44 dias para os portugueses escolherem o próximo primeiro-ministro. O PSD sente-se preparado para vencer as eleições, principalmente se convencer o centro - uma das palavras mais ouvidas nestes três dias de congresso. O objetivo é claro: captar os votos dos indecisos

Há um mês, a conversa no PSD era outra: Rui Rio ou Paulo Rangel, qual deles iria enfrentar António Costa nas urnas? Passadas as eleições diretas - e o debate interno por elas provocadas - uma coisa é certa: a porta do Europarque, em Santa Maria da Feira, fechou-se este domingo com um PSD mais unido e mais convencido de que pode ganhar as legislativas do que aquele que aqui entrou na sexta-feira, e muito mais do que há umas semanas.

Talvez a sondagem revelada pela TVI/CNN Portugal, precisamente na última sexta-feira, tenha ajudado os militantes mais reticentes a acreditar que pode ser mesmo possível o PSD ganhar no dia 30 de janeiro. Se a oposição interna já se tinha "alinhado para não desalinhar", não sabemos, mas foi notório que este congresso correu a Rio melhor do que se esperava.

Esperavam-se as palavras de quatro nomes de peso - Luís Montenegro, Carlos Moedas, Miguel Pinto Luz e Paulo Rangel. Todos eles, durante o discurso, no segundo dia de congresso, declararam apoio a Rui Rio para vencer as eleições legislativas de 30 de janeiro. Pediram coragem e uma alternativa, e até prometeram fazer campanha ao lado do presidente do partido.

O líder laranja também falou, logo na sexta-feira e a fechar, no domingo. No primeiro dia, Rio apresentou um discurso mais interno. Pediu “ajuda, incentivo e lealdade” aos sociais-democratas e tentou convencê-los com os seus "êxitos eleitorais". Este domingo, preferiu um discurso virado para fora, para os portugueses, para o país e sobretudo para o Partido Socialista.

1. O PSD unido desafia Costa

O partido decidiu reunir-se e unir-se em torno de Rui Rio para enfrentar o PS e António Costa nas próximas eleições. Uma das grandes figuras do congresso foi mesmo Carlos Moedas, que "roubou", em outubro, a Câmara a Fernando Medina. O autarca esteve pouco tempo no Europarque, por "questões de agenda", mas entusiasmou a plateia como ninguém. Cheirava a vitória, pois claro, tendo Moedas dado como exemplo a sua, em Lisboa.

"Só ganhámos em Lisboa porque estávamos unidos como partido. Só ganhámos porque respondemos concretamente aos lisboetas, às pessoas e aos seus problemas".

Já o último opositor de Rui Rio nas diretas, Paulo Rangel, apresentou-se a uma sala cheia como um “modesto e simples militante de base”. Depois da disputa, houve a necessidade de clarificar que essa estava arrumada e que estava ali, no palco do Europarque, para alinhar com o atual líder.

"Dou e darei todo o meu apoio ao partido e ao presidente, nesta pré-campanha e nesta campanha eleitoral". 

A Rio, Rangel deixou um pedido, que foi sendo repetido ao longo dos três dias do congresso: "O PSD tem de ser a grande alternativa ao PS”. “O PSD tem, já nas próximas eleições legislativas, de ser o veículo, de ser o motor dessa esperança e dessa confiança", reforçou.

Mas este não foi o único pedido ou desafio deixado pelos opositores. Luís Montenegro 'aconselhou' Rui Rio a fazer o "teste do algodão" a António Costa, ou seja, exigir ao PS uma clarificação no que toca à viabilização de orçamentos do Estado no caso de um governo minoritário; depois, pediu ao atual presidente que faça com o primeiro-ministro aquilo que fez com ele, Montenegro, e Rangel, nas eleições internas. Ganhar.

"Já demonstrou cá dentro que consegue ser eficaz e aproveitar oportunidades para ganhar eleições diretas e eu que o diga. E que o diga também Paulo Rangel. Portanto, Rui Rio, o que queremos é que faça o mesmo a António Costa e ao Partido Socialista". 

E a resposta de Rio chegou mais tarde, em entrevista à CNN Portugal. O atual presidente garantiu que vai pressionar António Costa sobre um eventual apoio a um governo minoritário do PSD.

A "ideia" de Montenegro não foi a única de que gostou Rui Rio, que foi recebendo as manifestações de apoio de bom grado, com um sorriso no rosto, meio tapado pela máscara, mas visível no olhar. Aliás, na mesma entrevista à CNN Portugal, admitiu que tinha gostado da maioria dos discursos.

2. Miguel Pinto Luz, a exceção

De todos os opositores internos, Miguel Pinto Luz foi o único que não virou totalmente aliado. Subiu ao palco pronto a ultrapassar as divisões, mas, a cada frase, escancarava-se uma ferida em público. "Eu até sou rioísta. Sabem porquê? Porque eu sou do PSD", insistiu o vice-presidente da Câmara de Cascais.

Mas as críticas lá estavam: "Para ganharmos eleições e dar um novo rumo ao país, precisamos de juntar a gente do PSD, ao contrário de excluir, ao contrário de separar". 

"Sou do tempo em que havia debate de ideias, livre, descomprometido, sem corrermos o risco de sermos acusados de traição ou deslealdade", acrescentou. 

Este domingo, a sua lista ao Conselho Nacional ficou a poucos votos da lista de Rui Rio, mas as palavras cá fora voltaram a ser de elogio à "diversidade", em vez de alguma fratura interna.

3. Órgãos nacionais: Rio 2 - 1 Opositores

Nas eleições dos órgãos nacionais do partido, Rui Rio ganhou por uma espécie de 2-1. Paulo Mota Pinto, escolhido pelo líder, voltou a ser candidato à presidência da Mesa do Congresso e foi reeleito com 465 votos, contra Pedro Rodrigues, que alcançou apenas 342.

A lista de Rio para o Conselho Nacional do PSD, encabeçada por Pedro Roseta, também venceu as eleições, com 187 votos. Em segundo lugar ficou então Miguel Pinto Luz, com 161 votos, e Luís Montenegro ocupou o terceiro lugar, com 147. 

Mas Rio perdeu o Conselho de Jurisdição. Paulo Colaço venceu as eleições do "tribunal" do partido, conquistando 424 votos, e mantém-se assim como presidente. 

A lista de Rui Rio, encabeçada por um nome de peso como Nuno Morais Sarmento, saiu derrotada, com 390 votos. A CNN Portugal sabe que foi pedida uma recontagem, mas o resultado manteve-se.

4. "Estamos prontos a assegurar a diferença"

Em 13 páginas de discurso de encerramento, Rio lançou várias críticas à governação socialista e arranjou espaço para ir pasta a pasta. Prometeu ser "a diferença", ser o plano alternativo que tanto se falou nestes dias, mas sem "destruir" o que foi feito. 

Tal como anunciou em entrevista à CNN Portugal, Rio, já em jeito de campanha, levantou a ponta do véu sobre algumas das bandeiras que vão ser erguidas pelo PSD na campanha eleitoral. Mais emprego, melhores salários, desenvolvimento tecnológico, aumento da produtividade, não "sufocar em impostos" a classe média e reforçar o incentivo aos jovens agricultores. As medidas concretas ficam para depois.

Classificou a geringonça como "uma solução política de má memória" e está convicto que a governação socialista se esgotou. Por isso mesmo, acredita é tempo de mudar e prometeu um "novo Governo", "com coragem” para fazer “reformas nos diversos setores” e ainda cortar apoios sociais “a quem os usa para se furtar ao trabalho”.

"Um novo Executivo que se distinga da governação socialista que, durante os últimos seis anos, adiou o país, por subordinação às forças de esquerda mais extremistas e por uma confrangedora falta de coragem para enfrentar os reais problemas de Portugal".

Rio encara como "relevante" e "decisivo" o diálogo entre partidos, porque não partilha da "visão clubística" do PS, que "trata os adversários políticos quase como inimigos".

5. A importância do Centro

Faltam precisamente 44 dias para os portugueses escolherem o próximo primeiro-ministro. E, com Rio convencido de que pode ganhar, talvez por isso, neste congresso, "Centro" tenha sido uma das palavras mais repetidas. É nesta posição do espectro político que Rio quer o PSD, para conquistar os indecisos.

Nalguns momentos “mais à direita”, noutros “mais à esquerda”, para "corrigir os excessos" de quem se coloca mais nos extremos. 

O PSD está posicionado para a corrida e, este fim de semana, fechou a porta à disputa interna, pelo menos por agora. Carlos Moedas cresceu como figura do partido, Paulo Rangel e Luís Montenegro poderão estar à espreita de nova oportunidade. Mas ninguém ousa falar numa derrota a 30 de janeiro e nas possíveis consequências disso. Para já, o centrista Rui Rio está seguro.

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