Congresso do PSD: agora ao Centro, Rio tem novos aliados. Só falta convencer Costa

18 dez 2021, 22:20
Congresso PSD (Estela Silva/LUSA)

O presidente social-democrata está disposto a negociar uma viabilização de um governo minoritário de António Costa. Mas agora, após os novos apoios internos, já fala em reciprocidade. Este é o retrato do segundo dia de congresso, onde os grandes opositores viraram aliados

Rui Rio já tinha deixado o aviso: a tarde do segundo dia de Congresso prometia aquecer. Entre os delegados, sabia-se bem o motivo. Pelo palco passariam três das vozes mais críticas da estratégia do atual presidente: Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz e Paulo Rangel.

O que prometiam ser três abanões numa narrativa de unidade no partido acabaram por se transformar, afinal, na consolidação do líder social-democrata. Na primeira fila, Rio recebia as manifestações de apoio de bom grado, com um sorriso no rosto.

Luís Montenegro seria o primeiro, após uma disputa interna e dois anos de silêncio, a alinhar com Rio. No horizonte, as eleições legislativas de 30 de janeiro. “O meu propósito é ajudar. Ajudar o PSD, ajudar o seu líder Rui Rio e ajudar Portugal”. E a cada ajuda dada, a crítica encolhia.

Paulo Rangel, o último a discursar, apresentou-se como um “modesto e simples militante de base” após as diretas de novembro. O passado ficava definitivamente no passado. “Dou e darei todo o meu apoio ao partido e ao presidente, nesta pré-campanha e nesta campanha eleitoral”. E, se dúvidas havia, o partido falava a uma só voz.

O resistente de serviço

Miguel Pinto Luz subiu ao palco pronto a ultrapassar as divisões. Mas, a cada frase, escancarava-se uma ferida em público. Para os militantes, a existência de alas é uma realidade desde o primeiro minuto do partido. “Eu até sou rioísta. Sabem porquê? Porque eu sou do PSD”, insistiu o vice-presidente da Câmara de Cascais.

Mas, por muito que Pinto Luz se dissesse apoiante de Rio, não deixou de criticar as suas opções. “Para ganharmos eleições e dar um novo rumo ao país, precisamos de juntar a gente do PSD, ao contrário de excluir, ao contrário de separar”. Os nomes para as listas, muito alinhados com as afinidades de Rio, vieram para cima da mesa.

Mais uma crítica e, para alguns, a purga ainda é uma realidade: “Sou do tempo em que havia debate de ideias, livre, descomprometido, sem corrermos o risco de sermos acusados de traição ou deslealdade”. O tempo dirá.

Toma lá, dá cá

Apoio sim, mas não sem um preço. Para ter Luís Montenegro do seu lado, Rui Rio precisa de ter pulso firme com outro protagonista da vida política. Esse, sim, o seu maior rival: António Costa.

O antigo líder parlamentar do PSD quer “respostas concretas” do socialista na negociação que poderá resultar das próximas eleições. As contas são difíceis e o cenário de maioria absoluta, no PS ou no PSD, cada vez mais uma miragem.

A ideia de viabilizar um governo minoritário (e os seus orçamentos) sai deste congresso como um caminho de duas vias. “António Costa tem de garantir que fará o mesmo connosco”, avisa Montenegro. É o que chama o “teste do algodão”, que Rio terá de fazer ao atual primeiro-ministro.

Também David Justino, em direto na CNN Portugal, tinha pedido mais ou menos o mesmo: que o primeiro-ministro ponha "as cartas na mesa" e diga, de uma vez, o que pretende fazer nesse ou noutro cenário.

E a resposta de Rio havia de chegar mais tarde, também em entrevista à CNN Portugal. O atual presidente não garante que vá viabilizar um executivo minoritário de Costa. "Não estou a dizer que, se o PS ganhar, eu viabilizo o Governo. O que quero é que haja disponibilidade para negociar de uma forma séria", afirmou. No fundo, juntar o critério da reciprocidade na equação da governabilidade.

O território dos indecisos

Por muito que o diálogo com o PS seja uma realidade, no Congresso do PSD todos querem ganhar as próximas legislativas com a maior margem possível. Se for possível uma “geringonça de direita”, sem Chega à mistura, tanto melhor.

E é por isso que, nestes dias de trabalho, ‘Centro’ tem sido uma das palavras mais repetidas. É nesta posição do espectro político que Rio quer o PSD, para conquistar os indecisos que tanto votam à esquerda como à direita.

“Precisamente porque nos colocamos ao centro e, por isso mesmo, temos de estar sempre disponíveis para corrigir os excessos, sejam eles de direita ou de esquerda", definiu Rio logo na primeira noite de congresso.

Vários nomes, como o de Carlos Moedas, foram insistindo que, para conseguir um bom resultado, são necessárias duas coisas essenciais: a união interna do partido e propostas concretas, que façam os portugueses encarar o PSD como “alternativa”. “O PSD tem de ser a grande alternativa ao PS”, terminaria Paulo Rangel.

A 30 de janeiro, nas urnas, os portugueses dirão. Para já, dentro do PSD, pelo menos o discurso está bem ensaiado.

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