Rio mete o PSD ao centro e distingue-se do PS, “o partido do regime”

17 dez 2021, 23:12

Corrupção, compadrio, degradação do regime democrático e até referência à ditadura. Presidente do PSD atacou os socialistas e pediu “lealdade” para ganhar as eleições

Nalguns momentos “mais à direita”, noutros “mais à esquerda”. Para Rui Rio, o segredo do PSD é colocar-se ao centro, distinguindo-se, no entanto, do PS, que apelida de “o partido do regime”.

No discurso de abertura do congresso, esta sexta-feira, o presidente social-democrata utilizou palavras duras para atacar o que entende ser o atual estado do país e pediu, internamente, “ajuda, incentivo e lealdade” para ganhar as próximas eleições legislativas.

"Há momentos em que a social-democracia tem de ter respostas de perfil mais à direita, e outros em que o faz com uma postura mais à esquerda. E é assim que tem de ser, precisamente porque nos colocamos ao centro e, por isso mesmo, temos de estar sempre disponíveis para corrigir os excessos, sejam eles de direita ou de esquerda", afirmou, sublinhando que o PSD "não é ideologicamente amorfo".

Nessa colocação ao centro, Rui Rio parece não esquecer a ala mais à direita do seu partido, que derrotou recentemente nas eleições diretas. "Não somos liberais ao jeito do laissez faire, laissez passer, que minimiza ou até despreza o Estado, mas somos pela total e completa liberdade individual, quando ela não é limitadora dos direitos de todos e de cada um", referiu.

"Não somos iguais ao PS"

Para chegar o PSD ao centro, sem embater de frente contra o PS, Rio usou um dos seus temas preferidos, a descentralização, para se distanciar de António Costa.

Exemplificando com o chumbo da mudança do Tribunal Constitucional para Coimbra, que tanto defendeu, o presidente social-democrata começou a afastar-se do PS, "o partido do sistema", ou "o partido do regime", como tanto insistiu. 

"O PS enche a boca com a descentralização, faz discursos inflamados para agradar a quem reclama um país territorialmente justo e equilibrado, mas, na hora da verdade, os socialistas são sempre iguais a eles próprios. Na hora da verdade, o PS mete o rabo e o discurso entre as pernas e não tem coragem para honrar a sua própria palavra", criticou.

E continuou: "Nas palavras e na propaganda, o Partido Socialista é um encanto. Na ação, na coerência e na coragem, o PS é, quase sempre, uma desilusão."

Da sua parte, promete "transferir a gestão de uma parte significativa do Orçamento do Estado para as autarquias locais ou regionais" e "políticas de captação de investimento e de criação de postos de trabalho que assegurem oportunidades aos jovens do interior". E pouco espera do PS para isso.

"Se o país dele depender, pouco ou nada será feito, pelo que, naquilo que sozinhos possamos fazer, temos de agir. Não podemos deixar que pensem que somos iguais a eles - porque realmente, não somos", assegurou. Não pela única vez no discurso, já que, mais à frente, voltou a referir: "Somos diferentes".

"Degradação", "corrupção" e "compadrio"

Confessando-se "preocupado" com a "degradação" de vários setores do país, Rui Rio utilizou palavras duras para colar o PS de Costa à "rede de interesses", ao "compadrio" e à "corrupção".

"Não nos podemos admirar da degradação que o regime democrático tem sofrido e, por consequência, do seu crescente descrédito perante as pessoas. Não nos podemos surpreender com os elevados níveis de abstenção", disse, prometendo "coragem para afrontar" os interesses instalados. Porque, segundo Rio, subordinar o país a "interesses particulares", como defende que o PS está a fazer, "é um princípio das ditaduras".

E que propostas apresenta para mudar? Desde logo, a revisão da Constituição e a reforma do sistema eleitoral, com a diminuição "moderada" do número de deputados e uma limitação de mandatos para os mesmos, assim como o alargamento das legislaturas para cinco anos.

Para Rui Rio, a reforma da Justiça também é crucial, tendo atacado a "hipocrisia política" perante as "sucessivas e vergonhosas violações do segredo de justiça".

"O Governo de António Costa e Francisca Van Dunen notabilizou-se pelo imobilismo, pela propaganda - por vezes de forma demasiado ostensiva e descarada - e pelo processo indecente como foi nomeado o representante de Portugal na Procuradoria Europeia", destacou, resumindo tudo em "seis anos perdidos por uma governação socialista".

Mas as críticas não se ficaram pelo PS.

"Quando o PSD se mostrou aberto a cooperar numa reforma profunda da justiça, a resposta que obtivemos de todo o sistema partidário nacional foi o silêncio, a passividade e, até, a critica. É isto que temos de contrariar, porque somos diferentes, e porque estamos preocupados com a situação de degradação a que chegaram diversos setores da vida nacional", acrescentou.

Os êxitos eleitorais do PSD - sem referir o nome de Moedas

Antes, o discurso tinha servido também para lembrar a plateia dos "sucessivos êxitos eleitorais do PSD" deste mandato. Miguel Albuquerque na Madeira, José Manuel Bolieiro nos Açores e até a Presidência da República ("Fomos os primeiros" a apoiar Marcelo, regojizou-se). 

Só Carlos Moedas, que não apoiou oficialmente ninguém nas diretas, mas cujo almoço com Rangel na altura deu muito que falar, não foi diretamente referido: "Recuperámos, também, a governação da capital do país". Só assim, sem nomes.

Para a frente, Rio antevê outra vitória, agora nas legislativas. Se até agora defende que "os objetivos estão cumpridos para lá do prometido", é nesse caminho que pretende continuar, vencendo as próximas eleições e tornando-se primeiro-ministro. 

Para isso, terminou com um pequeno apelo interno: "Estou certo de que com a vossa ajuda, o vosso incentivo, e a lealdade de todos mais, conseguiremos, daqui por dois anos, repetir que os objetivos foram alcançados e que os portugueses escolheram a social democracia".

O resto do congresso deste fim de semana será um bom teste a essa lealdade.

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