Não beba antes de dormir a sesta no avião. Pode fazer-lhe mal agora e mais tarde

CNN , Madeline Holcombe
16 jun, 15:00
Beber no avião (Chalabala/iStockphoto/Getty Images via CNN Newsource)

O álcool pode ajudar a adormecer durante um voo. No entanto, de acordo com os especialistas, a qualidade do sono não é tão boa como a do sono sóbrio

O sinal de "apertar o cinto" está desligado e chegou a altura de dormir uma sesta durante o voo. Pega na almofada para o pescoço, na máscara para os olhos e num copo de vinho para se certificar de que está bem descansado do outro lado.

De acordo com uma nova investigação, esta tática não é assim tão boa ideia.

As cabines dos aviões são pressurizadas para manter 2.000 pés de altitude, o equivalente a 2.438 metros, o que significa que a pressão do ar e os níveis de oxigénio são inferiores aos que a maioria das pessoas experimenta na Terra. Combinando isso com o consumo de álcool e o sono, é mais provável que uma pessoa sofra uma queda acentuada da saturação de oxigénio no sangue, de acordo com um estudo publicado na revista Thorax.

"Por favor, não bebam álcool a bordo dos aviões", alerta a autora principal do estudo, Eva-Maria Elmenhorst, representante do departamento de sono e fatores humanos e líder do Grupo de Trabalho sobre Desempenho e Sono do Instituto DLR de Medicina Aeroespacial em Colónia, na Alemanha, num e-mail.

Para o efeito, os investigadores criaram um ambiente atmosférico semelhante ao de uma cabine de avião durante um voo. Durante duas noites, 48 adultos saudáveis dormiram durante quatro horas em dois ambientes diferentes - uma vez sem álcool e outra depois de beberem o equivalente a dois copos de vinho ou latas de cerveja, segundo o estudo.

De acordo com o mesmo, nas noites com álcool, os investigadores deram conta de uma diminuição da quantidade de oxigénio e de um aumento do ritmo cardíaco.

"A combinação do consumo de álcool com o sono em condições hipobáricas constitui um esforço considerável para o sistema cardíaco e pode levar a um agravamento dos sintomas em pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares", afirmam os investigadores.

O estudo é pequeno, mas fornece um ponto de partida a partir do qual os investigadores devem continuar a investigar a relação entre o sono, o voo e o álcool, sugere o cardiologista Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar na National Jewish Health na cidade norte-americana de Denver. O médico não esteve envolvido na pesquisa.

Muitas pessoas podem estar a beber a bordo para as ajudar a adormecer numa cabine muitas vezes desconfortável - mas fazê-lo tem um impacto negativo tanto na saúde a longo prazo como no objetivo imediato de descansar um pouco, avisam os especialistas.

O álcool dá-lhe sono, mas não um bom sono

Os autores do estudo não se limitaram a recolher dados sobre a tensão cardíaca. Também analisaram mais de perto a qualidade do sono dos participantes. Não era excelente.

O tempo de sono REM - a fase de movimento rápido dos olhos que pode ser importante para a consolidação da memória e para a recuperação do cérebro - foi mais curto para as pessoas que consumiram álcool nas condições do avião, aponta o estudo.

A descoberta não é uma surpresa, garante Freeman. O álcool pode ajudar a adormecer, mas, segundo explica, a qualidade do sono não é tão boa como a do sono sóbrio.

"Muitas pessoas já testemunharam que o ressonar e a apneia do sono são muito mais graves quando as pessoas bebem muito", afirma Freeman.

A quantidade de sono sob influência do álcool também tende a ser diferente, acrescenta Shalini Paruthi, professora adjunta da Escola de Medicina da Universidade de Saint Louis.

As pessoas costumam ter um sono mais fragmentado depois de beber, o que significa que acordam mais durante a noite e tendem a não dormir tanto tempo, esclarece Paruthi, porta-voz da Academia Americana de Medicina do Sono. A professora não esteve envolvida na investigação.

“Por vezes, as pessoas pensam apenas no efeito imediato de ‘vai fazer-me adormecer mais depressa’, mas esquecem-se de todos os outros efeitos do álcool", garante.

Tenha especial cuidado para não misturar medicamentos para o sono com o álcool, porque ambos são depressores e intensificam os seus efeitos sedativos quando tomados em conjunto, diz Freeman.

"Já vi, sem dúvida, pessoas a tomar comprimidos para dormir em combinação com álcool, o que é um problema grave", garante. "Depois, há muitas vezes uma emergência médica."

Como descansar antes do seu destino

Se possível, tente manter os ciclos naturais do seu corpo quando estiver a voar, sugere Freeman - embora isso nem sempre seja possível.

Isso pode ser feito através da escolha de um voo que se alinhe com os seus padrões de sono, para que possa aterrar e acabar de dormir ou aterrar e começar o seu dia, explica.

Evite criar esses ciclos de sono e de vigília com demasiados estímulos, como o café ou as bebidas energéticas, e depressores, como o álcool, acrescenta.

Em seguida, mantenha-se hidratado, porque voar normalmente envolve um ambiente seco e as pessoas nem sempre se hidratam corretamente, disse Freeman. A melhor coisa para beber é, diz, água.

Os alimentos servidos nos aeroportos e nos aviões podem ser salgados, gordurosos e muito processados, pelo que Freeman recomenda que leve as suas próprias refeições ou que encontre opções no aeroporto que sejam mais leves e maioritariamente à base de plantas.

O exercício também pode ajudar a dormir melhor, pelo que Freeman aconselha a evitar os elevadores e os passeios para dar alguns passos. Se estiver num voo longo, tente levantar-se e movimentar-se também, continua.

"A última coisa que gostaria de salientar é que existem muitas provas que sugerem que as luzes azuis emitidas pelos ecrãs interferem com os nossos padrões de sono", avisa.

"Se estiver a tentar dormir num avião, considere comprar uns auriculares com cancelamento de ruído e talvez não utilizar os seus ecrãs, especialmente enquanto espera que o voo descole."

Pode ser mais difícil manter os seus hábitos saudáveis nos dias em que viaja de avião, mas esforçar-se para o fazer pode ajudá-lo a chegar a sentir-se bem e pronto para uma aventura, garante Freeman.

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