Ele falou com uma mulher numa paragem de autocarro durante as férias. Depois apaixonaram-se

CNN , Francesca Street
23 jun, 15:00
Alessandra e Tristano eram estranhos numa paragem de autocarro que se conheceram inesperadamente. Cortesia de Tristano

Alessandra e Tristano eram dois estranhos numa paragem de autocarro que se conheceram inesperadamente. E o resto é história

Tristano adora contar a história de como conheceu a mulher, Alessandra - é uma história de amor espantosa, que atravessa continentes.

Para Tristano, esta história também estará para sempre interligada com outra história espantosa e continental - uma história de amizade. Por isso, sempre que Tristano conta a sua história de amor, começa vários anos antes de se cruzar pela primeira vez com a sua mulher - em 2012, para ser exato.

Foi nesse ano que Tristano, nascido em Itália, estudou em Sydney, na Austrália, e passou alguns dias de férias nas Ilhas Fiji,

Tristano adorou a nação insular do Pacífico - as praias espetaculares, as águas azuis, as palmeiras.

Além disso, fez um amigo: um tipo chamado Gustavo, do Brasil, que estava alojado no mesmo hostel de Tristano. Os dois cruzaram-se na primeira noite de Tristano ali e fizeram 'clique' imediatamente.

"Demos-nos muito bem", recorda Tristano à CNN Travel.

Gustavo, ao que parece, tinha "estado literalmente em todo o lado" e a sua sede de aventura era contagiante. Tristano sentou-se com Gustavo no bar do hostel durante horas, enquanto conversavam sobre as suas respetivas viagens. Tristano ficou impressionado e inspirado - e sentiu que tinha encontrado uma alma gémea.

"Ele era uma pessoa que me motivava a viajar cada vez mais", conta Tristano.

Depois de Fiji, os dois amigos mantiveram o contacto, acompanhando as aventuras um do outro nas redes sociais e falando regularmente através do WhatsApp.

"Nos anos seguintes, viajei para muitos sítios onde o Gustavo tinha vivido ou estado, por isso ele dava-me sempre dicas - o que fazer, o que não fazer, onde ficar, a que hostels ir...", recorda Tristano.

Corta para 2016. Tristano tinha três semanas de férias para usar antes do fim do ano terminar e tinha pensado em ir para algum lugar na América do Sul.

Numa das suas trocas de mensagens regulares com Gustavo, Tristano mencionou os seus potenciais planos. Em resposta, Gustavo disse que estava de volta ao seu país natal, o Brasil, e que planeava ficar em São Paulo nos próximos meses.

"E então apercebi-me", conta Tristano. "Pensei: 'Vou para o Brasil. É fácil, porque se encontrar bons voos, tenho lá uma pessoa que conheço e posso voltar a encontrar-me com ela. Por isso, reservei literalmente os voos meia hora depois de falar com ele. E foi por isso que fui - e que acabei por conhecer a Alessandra..."

Um encontro numa paragem de autocarro

Tristano começou a sua aventura no Brasil no Rio de Janeiro. No seu segundo dia no país, decidiu ir a pé do seu hostel na praia de Ipanema até ao bairro de Copacabana.

Mas não andou muito antes de perceber que a caminhada era mais longa do que esperava. Consultou o Google Maps no telemóvel e percebeu que podia apanhar um autocarro que demoraria metade do tempo.

Seguindo as indicações do telemóvel, Tristano dirigiu-se à paragem de autocarro. Quando chegou à paragem certa, olhou em volta para as outras pessoas que esperavam.

Havia um par de outros turistas, também a olhar para os telemóveis. E depois havia uma jovem mulher vestida com o que Tristano pensou ser "business casual" e que parecia estar a caminho do trabalho.

Quando Tristano olhou para ela, a mulher sorriu. Parecia simpática e confiante.

Então Tristano aproximou-se dela e perguntou-lhe educadamente - num português deficiente e apologético - se estava à espera do autocarro para Copacabana no sítio certo. 

Em inglês, a mulher respondeu: "Sim, está no sítio certo". Depois voltou a sorrir. Quando ela sorriu, todo o seu rosto se iluminou, e Tristano não pôde deixar de sorrir também.

"Parecia ser uma pessoa muito inteligente, sempre a sorrir", relembra ainda hoje.

A mulher na paragem do autocarro apresentou-se como Alessandra. Tal como Tristano tinha adivinhado, estava a caminho do trabalho nessa manhã.

"Na verdade, não costumo ir àquela paragem de autocarro", conta Alessandra à CNN Travel. (Alessandra e Tristano pediram que os seus apelidos não fossem incluídos neste artigo por razões de privacidade).

No dia em que conheceu Tristano, Alessandra tinha feito um percurso ligeiramente diferente nessa manhã, pois tinha de ir buscar uma coisa à loja antes do trabalho. Antes de Tristano se aproximar dela, Alessandra não tinha reparado nele - estava em modo de viagem pendular, concentrada na jornada que tinha em mãos.

Mas quando Tristano começou a falar com ela no seu português desajeitado, Alessandra achou-o encantador. Tristano disse a Alessandra que estava de férias durante três semanas, ela perguntou-lhe o que estava a achar do Rio até agora, explicando que vivia lá desde criança.

A conversa fluiu facilmente - de tal forma que, quando o autocarro parou, Tristano e Alessandra entraram juntos e, num acordo silencioso, decidiram sentar-se ao lado um do outro e continuar a conversar.

"Ficámos sentados juntos durante uns 15 ou 20 minutos durante a viagem de autocarro, a conversar casualmente", recorda Tristano.

Foi uma viagem breve, mas pouco antes de o autocarro parar na paragem de Tristano, este virou-se para Alessandra, pediu-lhe o seu número, sugerindo-lhe que seria bom conhecer uma carioca, "alguém que me pudesse dar boas dicas".

"Eu ia viajar para outras regiões do Brasil nas próximas duas semanas, mas sabia que ia voltar para o Rio", explica.

Alessandra estava receosa de dar o seu número de telefone a um tipo que não conhecia bem. Mas achou que Tristano parecia querido - e, com toda a honestidade, presumiu que nunca mais ouviria falar dele.

"Eu não esperava nada, especialmente porque ele estava a viajar pelo Brasil", conta.

Mas Tristano mandou imediatamente uma mensagem para Alessandra. E nas duas semanas seguintes, enquanto Tristano visitava Gustavo em São Paulo e explorava o resto do país, os dois continuaram a trocar mensagens.

Um primeiro encontro no Rio

Quando Tristano regressou ao Rio, contactou Alessandra para lhe perguntar se ela gostaria de se encontrar para jantar. Alessandra concordou, mas no último minuto cancelou - justificando que estava com dor de cabeça.

Tristano questionou-se se isso seria uma desculpa, se Alessandra não estava realmente interessada. Mas, mesmo assim, sugeriu que marcassem para a noite seguinte.

"Fomos jantar fora", conta. "E depois o resto é história."

Alessandra estava de facto com uma dor de cabeça na noite anterior - uma enxaqueca latejante. Ficou contente por o encontro ter sido alterado e estava ansiosa por voltar a ver Tristano, mas foi para a noite sem expectativas.

"Não esperava sentir algo romântico, apenas uma oportunidade para o conhecer", recorda. "Mas depois, bem, quando nos sentámos à mesa, vi os olhos verdes dele a brilhar. E senti uma faísca depois disso".

Alessandra descobriu que Tristano era um ouvinte apoiante e encorajador. Os dois alternaram facilmente entre conversas divertidas e descontraídas e discussões mais profundas.

"A conversa foi muito interessante", recorda Alessandra. "Ele estava muito interessado na minha vida no Rio, e em como a minha vida era difícil, digamos, comparada com a dele."

Quanto a Tristano, adorou ter um vislumbre do mundo e da mente de Alessandra - e aprender mais sobre ela e sua infância no Rio.

"Combinámos encontrar-nos logo no dia seguinte", recorda. "Era um fim de semana. E passámos o dia inteiro a passear na lagoa do Rio, a comer gelado, a conversar e a rir e a passar um tempo muito agradável."

À noite, Alessandra e Tristano saíram para beber e depois foram juntos a uma discoteca.

"Foi aí que nos beijámos pela primeira vez", recorda Tristano.

Esta é a primeira foto de Alessandra e Tristano juntos, tirada durante um passeio na Lagoa, no Rio. Alessandra cobriu o rosto em jeito de brincadeira, pois não se sentia segura em ser fotografada por um rapaz que ela achava que nunca mais veria. Cortesia de Tristano

Tristano e Alessandra estavam cada vez mais próximos, mas o dia seguinte foi o último de Tristano no Rio. Os dois passaram o dia inteiro juntos, até o momento em que Tristano teve que ir embora.

"O que me marcou foi o momento em que nos despedimos", revela Tristano. "Na estação de metro, ela começou a chorar."

Enquanto Tristano consolava Alessandra, abraçando-a e limpando-lhe as lágrimas, também ele se sentia emocionado.

Ter de partir foi "uma grande tristeza", como ele diz. O sentimento pesou-lhe.

"E foi também uma grande surpresa, porque pensamos: 'Como é que posso sentir isto depois de conhecer alguém literalmente há 48 horas?' Por isso, foi uma sensação muito forte - e também muito incerta."

Tristano e Alessandra queriam voltar a ver-se, mas ambos se despediram a pensar que isso poderia nunca acontecer. Quando se foi embora, Tristano agradeceu a Alessandra pelo tempo que passaram juntos - algo que ela interpretou como um sinal de que as coisas entre eles tinham acabado antes mesmo de terem começado.

Mas apesar de Tristano ter regressado ao Reino Unido - onde vivia na altura - manteve o contacto constante com Alessandra.

Mandavam mensagens de bom dia e boa noite. Enviavam um ao outro fotografias do que andavam a fazer todos os dias. Em pouco tempo, ambos admitiram que estavam desesperados por se voltarem a ver.

"E assim, apenas três meses depois, decidimos viajar juntos para a Colômbia", revela Tristano. Essa viagem selou o acordo e foi "o verdadeiro início da relação".

"Continuámos a encontrar-nos", conta. "Visitávamos sítios diferentes a cada três ou quatro meses". 

"Era triste, sempre que tínhamos de nos despedir", recorda Alessandra. Mas tentavam sobretudo concentrar-se em "aproveitar o tempo juntos".

Afinal de contas, ainda não era claro o que o futuro lhes reservava - e se Alessandra e Tristano conseguiriam construir um futuro entre continentes.

"Sempre pensei, sabe, é óbvio que isto não pode continuar para sempre. A dada altura, vamos ter de decidir o que vamos fazer", recorda Tristano. "E eu não tinha a certeza de nada, porque sabia que não estarmos juntos não era opção. Eu não ia ser feliz, ela não ia ser feliz..."

Mas a alternativa - um deles atravessar o mundo para estar com o outro - parecia ser um grande passo e uma decisão difícil.

Um grande passo

Alessandra e Tristano começaram a encontrar-se em destinos por todo o mundo. Cortesia de Tristano

Após um ano de encontros em vários destinos do mundo, Alessandra foi a Itália pela primeira vez e conheceu a família de Tristano. Alguns meses depois, Tristano conheceu os familiares de Alessandra no Brasil. As coisas entre eles pareciam ter avançado naturalmente para algo mais sério, mais concreto.

Por esta altura, no início de 2018, o trabalho de Tristano levou-o do Reino Unido para a Alemanha. Enquanto se preparava para a mudança, Tristano perguntou a Alessandra se ela gostaria de se mudar para a Alemanha com ele.

Alessandra passou uma semana muito emotiva a debater a sua resposta. Sentiu que a sua vida tinha ficado "de pernas para o ar" e andou de um lado para o outro entre a certeza do seu amor por Tristano, o medo do desconhecido e a tristeza com a ideia de deixar o Brasil.

"Era uma mudança tão grande, deixar a família, os amigos, o emprego, os dias de sol e a praia", conta. "Eu queria ir, mas não queria abrir mão da minha vida no Brasil e da minha família."

"Mas depois desta semana, disse: 'Olha, não tenho nada a perder, é melhor tentar e se não der certo, não posso me arrepender de algo que não fiz'. E a minha mãe apoiou-me."

Tristano e Alessandra durante uma viagem aos White Cliffs of Dover, no Reino Unido. Cortesia de Tristano

A mãe de Alessandra gostava de Tristano - e confiava na decisão da filha. Alguns dos amigos de Alessandra eram mais cautelosos e sugeriram que Tristano estava "apenas a brincar com ela".

"Mas eu sempre segui o meu coração", conta Alessandra. Acreditava em Tristano e no futuro deles.

"Parecia certo saltar", confessa.

E assim, em 2018, Alessandra e Tristano mudaram-se juntos para a Alemanha.

"Eu estava entusiasmada com este novo capítulo, mas também preocupada com a língua alemã, que eu não conhecia, e com o clima de inverno", lembra Alessandra. "No entanto, tive a sorte de encontrar um emprego numa agência multicultural, que utiliza o inglês como língua principal. E habituei-me a desfrutar dos meses frios com roupas e comida quentes."

Também ajudou o facto de a Alemanha não ser o país de origem de Tristano. Ele também estava a aprender a língua e viver num país diferente permitiu que o casal vivesse uma nova cultura em conjunto.

Um pedido de casamento

2018 foi também o ano em que Tristano pediu Alessandra em casamento. Preparou-lhe uma refeição de vários pratos no apartamento deles, apresentando cada prato sob uma cúpula metálica de cobertura de alimentos - como os empregados fazem nos restaurantes de luxo. Quando chegou ao que Alessandra supôs ser o prato final, teve uma surpresa - não era uma sobremesa, mas um anel.

"Fiquei muito surpreendida", diz Alessandra. "E depois ele pediu-me em casamento em português, o que tornou tudo muito especial para mim."

Tristano e Alessandra desfrutaram de uma pequena cerimónia de casamento. Depois, começaram a construir uma vida em conjunto - estabelecendo-se em novos empregos e olhando para o futuro.

"Ajudámo-nos um ao outro a seguir os nossos objetivos", afirma Tristano.

No ano passado, em 2023, Alessandra e Tristano deram as boas-vindas ao filho Gabriele. Agora, estão a educar Gabriele para falar quatro línguas - italiano, português, alemão e inglês.

Alessandra tirou esta fotografia de Tristano com o filho Gabriele numa recente viagem ao Brasil. Cortesia de Tristano

"Até Alessandra se mudar para a Alemanha, falávamos inglês um com o outro", recorda Tristano. "Mas depois decidimos: 'Não podemos passar a vida a falar inglês. Não é a língua materna de nenhum de nós.'"

O casal jurou tornar-se fluente nas línguas um do outro - um voto que cumpriram.

"Agora, basicamente, alternamos entre o português e o italiano de poucos em poucos meses", explica Tristano.

Em maio, o filho de Tristano e Alessandra, Gabriele, fez um ano. No início deste ano, Alessandra e Tristano levaram-no pela primeira vez ao Brasil, numa viagem prolongada de dois meses para visitar a família e os entes queridos.

"Passámos muitas semanas desses dois meses no Rio. E na última semana e meia ficámos, de facto, na zona de Copacabana", conta Tristano.

Ficar ali fez com que o casal se lembrasse do seu primeiro encontro, há oito anos, na paragem de autocarro do Rio. Pensar no caminho que percorreram foi emocionante para os dois.

"Foi uma loucura", comenta Tristano. "Estávamos a fazer o mesmo percurso de autocarro com o nosso filho. Nem sei como o descrever."

Uma série de acontecimentos que mudaram a sua vida

Tristano atribui ao seu amigo Gustavo o mérito de ter ajudado a preparar o caminho que o levou até Alessandra. Na foto, Tristano e Gustavo em São Paulo na viagem de Tristano ao Brasil em 2016. Cortesia de Tristano

Poucos dias depois de ter conhecido Alessandra na paragem de autocarro do Rio, em 2016, Tristano encontrou-se com o seu bom amigo Gustavo em São Paulo. Tristano lembra que os dois conversaram sobre suas vidas amorosas. Na altura, Tristano mal conhecia Alessandra - e não tinha razões para pensar que alguma vez a voltaria a ver - mas mesmo assim deu por si a falar com Gustavo sobre a mulher da paragem de autocarro.

"Partilhámos histórias e eu disse: 'Sabes, na verdade conheci uma rapariga, a Alessandra'. E falei-lhe dela - de como ela era interessante e por aí fora", recorda Tristano.

Tristano manteve Gustavo informado sobre o seu romance com Alessandra à medida que a relação se desenvolvia nos anos seguintes. Sempre esperou que os dois se pudessem encontrar e disse muitas vezes a Gustavo que lhe dava os créditos por o ter colocado no caminho para conhecer Alessandra.

No verão de 2019, Tristano apercebeu-se de que não tinha notícias de Gustavo há algum tempo. Contactou-o através do WhatsApp, mas a mensagem ficou por ler e sem resposta.

"Não pensei muito nisso", recorda Tristano. "Mas depois fui à página dele no Facebook e percebi que ele se tinha afogado durante uma excursão de mergulho no Havai."

Tristano ficou em choque. O seu amigo tinha morrido alguns meses antes. Como não tinham amigos em comum, a notícia tinha-lhe passado ao lado.

Tristano sentou-se em frente ao portátil, a ler as palavras uma e outra vez. Com um sentimento de aflição, apercebeu-se que nunca mais veria o seu amigo e que Alessandra e Gustavo nunca se conheceriam.

"Sempre imaginei que se nos casássemos, com uma grande receção e por aí adiante, o Gustavo seria a primeira pessoa a quem agradeceria por ter conhecido Alessandra - porque foi graças a ele que acabei por ir para o Brasil", conta Tristano. "Obviamente, isso não pôde acontecer".

Tristano ficou de coração partido. No meio da sua dor, procurou no Facebook os dados da mãe de Gustavo, a quem enviou um pedido de amizade.

"Entrei em contacto com a mãe dele. Contei-lhe toda a história e ela ficou muito feliz por saber que, graças à paixão do Gustavo por viajar e aos seus amigos, ele deu um enorme contributo para a nossa vida", revela Tristano.

Tristano ainda mantém contacto com a mãe de Gustavo. E continua a atribuir ao seu amigo o mérito de ter mudado a sua vida. Para ele, a história da sua vida é definida por dois encontros fortuitos em viagens: primeiro com Gustavo e depois com Alessandra. Ambas as histórias, para Tristano, ilustram o poder das viagens e das ligações.

"Se eu não tivesse viajado para as Ilhas Fiji e não o tivesse conhecido, certamente também não teria viajado para o Brasil em 2016", afirma Tristano. "E o meu filho Gabriele não estaria aqui hoje".

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