Não precisamos de ter medo de dizer que Martínez nos mete medo

27 jun, 06:41

E também não precisamos de ter medo de dizer que queremos o antigo Martínez de volta || GEÓRGIA 2-0 PORTUGAL

sugestão de leitura adicional: Dalot foi o melhor a jogar na posição de líbero-diagonalizado-entre-a-antevertical-pós-perpendicular (as notas aos jogadores - com António Silva em duplicado)
 

Não ter medo de falar sobre o momento de Portugal: o melhor que se tira do jogo contra a Geórgia

por Germano Oliveira

Portugal é tão forte a jogar bem como a jogar mal, ninguém pode acusar a seleção de não dominar todas as maneiras de vencer ou perder um jogo: isso é mérito e demérito de Roberto Martínez, que já provou que é tão capaz de desperdiçar o talento da seleção como de aproveitar cada gotinha dele, o que ninguém sabe é em que dia é que Roberto Martínez está: se nos dias em que quer complicar essa coisa tão simples que é o futebol ou se nos dias em que acha que é capaz de criar um novo futebol. Não é. Nem Portugal precisa disso.

Pôr a jogar os melhores nas posições em que são melhores é sempre um princípio simpático, usar esquemas táticos em que a equipa se sente confortável em vez de usar esquemas táticos que confundem os jogadores é outra excelente maneira de simplificar o caminho que leva ao triunfo; quanto à estratégia de jogo: nessa dá para mexer de outra maneira, é mais maleável, ajusta-se para agredir o rival e para nos protegermos das agressões dele, mas sem esquecer que com a mesma gente nas mesmas posições de sempre podemos provocar acontecimentos diferentes - pelo menos no futebol. O ménage à trois composto por titulares+tática+estratégia torna-se mais funcional - e excitante, ahahahahah - quando há rotinas e estabilidade que nos deixam mais desinibidos: aquela história de "aqueles jogadores jogam de olhos fechados" vem precisamente daí, do casal rotinas+estabilidade, mas Roberto Martínez está numa fase de destrói-relações e prefere ferir-nos os olhos com a maneira como está a complicar o futebol da seleção - jogámos de uma maneira contra os checos, depois de outra contra os turcos, agora desta maneira contra a Geórgia e vai ser necessariamente de maneira diferente contra a Eslóvenia - perdemos se não for.

Roberto Martínez é o treinador que põe Cancelo a médio (!) e a lateral no mesmo jogo, Nuno Mendes a central (mais ou menos) e a lateral em jogos diferentes, que dá a Vitinha o meio-campo quase todo contra a Chéquia mas que depois lhe atira com Palhinha em cima contra a Turquia para depois lhe tirar Palhinha de cima ao intervalo para colocar o bem-diferente-de-Palhinha Rúben Neves; Neto já foi quase tudo o que se pode ser à esquerda, se Roberto Martínez achar que Neto é como a Zita Seabra ainda o vai experimentar nos lugares de Dalot/Cancelo e Bernardo Silva lá à direita; Francisco Conceição passa quase o jogo inteiro contra a Geórgia à direita e depois é atirado para a esquerda, Gonçalo Inácio é escolhido para terceiro central nesse jogo mas depois come o espaço de Neto, que por sua vez tem Félix a comer-lhe o espaço várias vezes, Palhinha é metido à frente de três centrais contra a Geórgia mas não contra a Chéquia, Dalot acaba o jogo contra a Geórgia em simultâneo com Nélson Semedo e por vezes estão ambos a cobrir exatamente o mesmo espaço - minuto 76, por exemplo, Nélson Semedo deixa Kvaratskhelia passar mas Dalot está lá para corrigir. 

Neste Euro, Roberto Martínez parece ser um homem demasiado complicado para ser treinador de futebol - mas na fase de apuramento, tirando as primeiras experiências com três centrais, pareceu ser um homem adequadamente simples para ser treinador de futebol. Há a suspeita de que o jogo com a Croácia fez o homem complicado impor-se ao homem simples: aquela derrota naquele amigável naquele momento a uma semana do Euro fez posteriormente pior ao treinador do que à equipa e isso ficou provado contra a Turquia: o nosso melhor futebol aparece quando o treinador é mais previsível e os jogadores provaram ao treinador que pode acreditar mais no futebol deles do que no receio dele. É que vem aí a Eslovénia depois de Chéquia, Turquia e Geórgia, portanto tudo equipas que Portugal deve e tem de vencer caso se ache merecedor de se tornar campeão da Europa - Portugal fez cinco golos em 54 remates, desses cinco dois são autogolos e os outros três resultam de falhanços amadores dos adversários; Portugal é a equipa do Euro que tem mais posse de bola, a par da Alemanha, mas tanto contra a Chéquia como contra a Geórgia fez muito pouco com a bola porque não tinha rotinas táticas (em ambos os jogos) nem os melhores jogadores em campo (contra a Geórgia); sofreu três golos em 22 remates que concedeu, sendo que dois desses três golos resultam de erros amadores de um jogador português (António Silva). Ou seja: Portugal não tem nem números de campeão da Europa nem futebol disso mas tem jogadores para isso e já teve também treinador para isso. Que é o mesmo de agora, Roberto Martínez.

Vem aí a Eslovénia, seleção de futebol tão fechado como o checo, por isso se Portugal chegar com um 1-1 aos 90 minutos como aconteceu com a Chéquia é porque não quis aprender com a fase de grupos - se for assim, nem sequer merece que um Francisco Conceição marque o 2-1 nos descontos, mais vale Portugal cair. Se for o Portugal do modo Turquia, e isso depende mais do treinador que dos jogadores, esse é o Portugal que mete certamente medo à Eslovénia e algum à Bélgica e quase nenhum a França (estas duas seleções estão no nosso caminho dos quartos). Se for o Portugal contra a Geórgia, é um Portugal que nem sequer devia estar no Euro.

Escrevi há dias que não precisamos de ter medo de dizer que metemos medo e isso mantém-se, mas para meter medo temos de começar por ter um selecionador que deixe de ter medo de ser simples. É que precisamos muito disso para nós próprios deixarmos de ter medo dele.

Golos

1-0 por Kvaratskhelia (aos 2')


2-0 por Mikautadze (aos 57')


 

Menos uns milhões no Transfermarkt : o pior do jogo

por Pedro Falardo

Tem 20 anos e já está a ser crucificado. Não é nada bom ver um jovem ser constantemente atacado nas redes sociais e na imprensa, mas temos mesmo de dizer isto: foi um jogo horrendo de António Silva. Começou logo com aquele passe sem nexo que lançou o golo "do gajo do Nápoles" e terminou mais cedo quando foi substituído, não sem antes ter cometido um penálti com uma abordagem displicente e ter feito um corte excelente na pequena área que tirou a bola da cabeça de Cristiano Ronaldo. Uma coisa é verdade: se o lance do penálti fosse ao contrário, com um dos avançados portugueses a cair com aquele toque, o árbitro nem iria ao VAR ou parava o jogo para mostrar cartão amarelo por simulação. Mas também é verdade que tocou no jogador georgiano. Não pode abordar um lance daquela forma e quase de certeza que assinou a sua sentença de morte para o resto deste Euro 2024. A má exibição não é só de hoje, o defesa central regrediu bastante esta época no Benfica face ao evidenciado no ano passado e que lhe mereceu tantos elogios. Não se antevê um futuro a curto prazo muito fácil para o jovem jogador. Se superar esta fase com sucesso, sairá dela muito melhor jogador. Mas vai penar.

Não estava nada à espera disto a uma quarta-feira à tarde/noite: a surpresa do jogo

por Pedro Falardo

Sabia que enquanto estávamos a ver 11 pinos a tentar jogar à bola estava em curso uma tentativa de golpe de Estado na Bolívia? Ainda está tudo a decorrer nesta altura. Veículos do exército ocuparam as ruas da capital La Paz e o general Juan José Zuñiga, que lidera esta sublevação, ameaçou “tomar” a sede do poder executivo do país.

“Os três chefes das forças armadas vieram expressar a nossa consternação. Haverá um novo gabinete de ministros, certamente as coisas vão mudar, mas o nosso país não pode continuar assim", disse Zuñiga, citado pela agência espanhola Efe.

O presidente boliviano, Luis Arce, denunciou na rede social X “mobilizações irregulares de algumas unidades do exército boliviano”. O ex-presidente Evo Morales apelou mesmo a uma “mobilização nacional para defender a democracia face ao golpe de Estado liderado pelo general Zuñiga”.

Esta ação militar surge na sequência da demissão de Juan José Zúñiga como chefe do exército da Bolívia, após uma série de ameaças ao ex-presidente Evo Morales, defendendo que Morales "não pode voltar a ser presidente do país", uma vez que foi impedido no ano passado de participar nas eleições de 2025 pelo Tribunal Constitucional, que determina que nenhum boliviano pode ser reeleito para o mesmo cargo público.

Segundo o jornal espanhol El País, Zúñiga confundiu a decisão daquele tribunal com a própria constituição, que apenas proíbe mais do que uma reeleição contínua, não definindo nada sobre reeleições descontínuas.

Sinceramente, preferia ter estado a ver um golpe de Estado do que o Geórgia-Portugal.

O momento do jogo: ainda não aconteceu

O momento do jogo é perceber como é que António Silva supera a maneira como hoje foi superado pelos acontecimentos. Protejam-no mas não o escondam: só o futebol é que lhe pode devolver o que o futebol lhe tirou hoje - a alegria.

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