Se entrar em erupção, o vulcão da Terceira pode ser "explosivo". O que significa o atual nível de alerta? É preciso preparar para o pior? Respostas aqui

27 jun, 21:30
Vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira. Foto Azores.gov

Ilha vizinha de São Jorge esteve, durante largos meses, com o mesmo nível de alerta que foi agora aplicado ao vulcão de Santa Bárbara, na Terceira, que tem um perfil diferente. Especialistas descartam necessidade de a população tomar medidas preventivas: deve, sim, estar atenta às comunicações das autoridades

Esperar. Esperar com calma e serenidade. É a melhor forma para a população da ilha Terceira, nos Açores, lidar com a subida do nível de alerta no vulcão de Santa Bárbara. Quem sabe de sismos e vulcões garante que, por agora, não há motivo para preocupação. 

Mesmo que a natureza do vulcão de Santa Bárbara, mais vocacionada para uma erupção explosiva, se revele diferente da de um outro vulcão que esteve praticamente ano e meio no mesmo nível de alerta, o V3, na vizinha ilha de São Jorge.

“Este nível de alerta V3 significa a necessidade de manter uma vigilância mais apertada, mas, para já, não é uma situação de preocupação para as pessoas”, explica o vulcanólogo José Madeira, que descarta a necessidade de as populações adotarem medidas preventivas. “Neste momento, é mais um estado de alerta para as instituições e de monitorização para a Proteção Civil”, junta.

Neste momento, está-se a meio da escala de alerta, que varia entre V0 (estado de repouso) e V6 (erupção em curso). O nível V3 significa uma confirmação de reativação do sistema. Contudo, é a partir da etapa seguinte, a quarta, onde se confirma a possibilidade real de erupção, que os especialistas dizem haver motivos adicionais para preocupações.

“Aquilo que está a ser feito nos Açores está a ser feito de forma correta. Assim que tiverem dados mais seguros e certos, sobre uma alteração substancial das condições, então aí elevam o nível de alerta e podem alertar as populações”, explica o geólogo António Brum.

“Se o nível subir, é necessário preparar as populações para o caso de ser necessário evacuar. Neste momento, não há nada que a população necessite de fazer”, atesta João Madeira.

Sinais constantes

Mesmo que o nível de alerta suba para V4 no vulcão de Santa Bárbara, na Terceira, não é motivo para esperar o pior. Basta olhar para outra experiência recente, no início de 2022, na ilha vizinha de São Jorge, que esteve no nível de alerta sismovulcânico V4. Nunca chegou a concretizar-se a erupção, apesar das probabilidades.

O vulcanólogo João Madeira lembra que o nível de sismicidade no vulcão de Santa Bárbara se tem mantido estável ao longo dos últimos dois anos. “O que aconteceu é que, além da sismicidade, há a existência de uma deformação superficial”.

“Quando começamos a ter sismicidade ou deformação superficial, ou mesmo libertação de gases, vamos vendo que é possível estarmos no caminho de uma erupção”, aponta António Brum, que refere o facto de os sismos na Terceira se darem “há bastante tempo” e “à mesma profundidade”.

Terceira vs. São Jorge: Naturezas diferentes

Para haver erupção, tem mesmo de ser a natureza a querer. A acontecer, explicam os especialistas, o cenário no vulcão de Santa Bárbara será diferente daquilo que se esperava em São Jorge. Isto porque os sistemas vulcânicos são “muito distintos” entre si.

António Brum explica que o magma no vulcão de Santa Bárbara “é viscoso, de composição félsica”, podendo “demorar mais tempo” a chegar à superfície. E o que implica isso? Uma erupção mais “explosiva”, porque os magmas mais viscosos tendem a conter uma “maior quantidade de gases” que, ao aproximarem-se da superfície, “têm tendência a sair de uma só vez”. E logo, a causar mais danos.

Todavia, a experiência mostra que existiram “outras erupções com magmas desta composição que não foram explosivas”, porque “houve tempo para os gases escaparem”.

Um cenário reforçado por João Madeira, que admite um “leque mais variado de possíveis estilos eruptivos” no vulcão de Santa Bárbara. Em São Jorge, em contraste, o perfil do magma era “basáltico”, com margem para “erupções efusivas”.

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