Descobrimos que Itália não queria ganhar o jogo - teve sorte, a Suíça queria muito

29 jun, 19:14
Suíça - Itália (Markus Schreiber/AP)

Ainda não sabemos bem se é melhor Roberto Martínez ter visto o jogo ou não. Inclinamo-nos que seja bom ter visto, mas temos medo do que pode ter aprendido

Luciano Spalletti deve estar cheio de saudades da família. É normal, passar um mês fora de casa não é fácil para ninguém e o tempo até é de férias. Não acho que possamos julgar quem prefere as praias de Taormina ou da Apúlia ao cinzento de Berlim ou Frankfurt. Mas então Spalletti devia ter dito isso a toda a gente: “Não me apetece ir, tenho mais que fazer”. E não ia, mandavam outro, eu disponibilizava-me.

É que Itália andou o Europeu todo, salvo qualquer coisinha com a Albânia, logo de início – ainda não havia saudades de casa – a tentar vir embora. Esteve muito bem a fazê-lo contra a Espanha, talvez se lamente por ter perdido apenas por um; esteve quase muito bem a fazê-lo contra a Croácia, mas alguém não brifou Zaccagni corretamente e, para desgosto de todos, Itália teve mesmo de ficar mais dias na Alemanha.

Felizmente para Spalletti a mensagem passou melhor contra a Suíça: “Temos mesmo de ir para casa, que eu já não aguento”. Só isso explica que ninguém tenha pressionado nunca, que ninguém tenha defendido nunca, que Barella tenha saído do jogo tão cedo.

Adeus campeã da Europa em título, talvez não devesses ter vindo: o pior do jogo

Cambiaso também queria ir para casa, era mesmo só para o jogo acabar. Aos 84 minutos e a perder 2-0, pensar-se-ia que Itália, como qualquer outra equipa, ia carregar para a frente. Mesmo que sem engenho, que nunca teve, pelo menos com coração e pernas. A imagem do jogo é mesmo aquela aos 84 minutos. Cambiaso, alheado do que se estava a passar, pega na bola e demora mais do que qualquer pessoa podia pensar ou desejar a voltar ao jogo.

Esse é o momento, mas há uma outra imagem contínua: a ausência de defesa. Tudo bem que não havia Calafiori, perde-se sempre quando não há um príncipe com a bola nos pés, mas abdicar de defender é, digamos, chato. E foi isso que a Itália fez. Uma, outra e outra vez, até que Remo Freuler entrou, como outros antes, para fazer o 1-0. Muito bem a defensiva italiana a deixar o médio do Bolonha à vontade para marcar.

De resto, houve quem até tentasse acabar com a coisa mais depressa. El Shaarawy tentou ser expulso, devia ter sido depois de uma entrada duríssima, mas o árbitro achou que era só cartão amarelo e o VAR, que tantas vezes tem andado desaparecido, não quis saber.

O Pedro Falardo escreveu na crónica contra a Croácia que o melhor do jogo foi Itália não ficar no caminho de Portugal. Se calhar enganou-se e mais valia esta Itália do que aquela Eslovénia.

Temos de ligar a Roberto Martínez: o melhor do jogo

Nota mental para Roberto Martínez e para a Seleção: jogar como a Suíça aproxima-nos muito do sucesso; jogar como a Itália nem por isso. Para já esperemos que Roberto Martínez partilhe com Lucianon Spalletti apenas a calvície, é bom que não tenha ideias semelhantes quanto ao saudosismo.

A Suíça fez, possivelmente, a exibição mais completa de uma seleção neste Euro 2024. Dominou do início ao fim, fez o que quis de uma Itália campeã europeia que mal apareceu, e aproveitou para se agigantar e voltar a surpreender - no Euro 2020 eliminou a França campeã mundial.

A intensidade, o entrosamento, está tudo lá. Esperemos mesmo que Roberto Martínez tenha visto e percebido quem deve "copiar". Afinal é fácil, eles até jogam da mesma cor que nós.

Que ótimo resultado, Itália: a surpresa do jogo

Nem é mesmo ironia. O resultado ficou 2-0, mas facilmente podiam ter sido 3 ou 4, não fosse um Donnarumma a evitar como pôde ou até o poste a intrometer-se.

Embolo falhou na cara do guarda-redes, houve um livre que acabou no poste e outras e outras oportunidades. Só deu Suíça e a sensação que fica é que o resultado podia ter sido o que a seleção de Murat Yakin quisesse. Quis 2-0, está bom assim, deu para disfrutar de um excelente jogo de futebol de um lado, ficar muito desiludido com o que apareceu do outro.

Mete o pisca, Vargas: o momento do jogo

Viram aquela curva? Têm mesmo de ver, está aqui em baixo. É um remate do outro mundo, nem Donnarumma lá chegava, apesar do tamanho e da qualidade.

Que golaço de Vargas, um dos melhores do Euro, a coroar uma exibição de carreira na seleção.

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