Taylor Swift. Quando ela passa, o mundo ajoelha-se

23 mai, 22:00
Taylor Swift na Eras Tour (AP Photo)

Ela é mais do que uma artista. É um fenómeno. Ao ponto em que a política e a economia querem tirar partido da sua influência. Ninguém escapa a Taylor Swift, nem mesmo a academia, que vê nela uma forma de pensar o nosso tempo. Lisboa submete-se agora ao teste

Política: a luta pelo apoio de Taylor

Todos querem o poder de Taylor Swift, a mulher que nunca fica “out of style”. Sobretudo aqueles que lutam pelo poder. Há muito que a cantora abdicou do seu silêncio sobre as questões políticas. E, pela legião de fãs que movimenta, é vista como uma arma para a disputa presidencial nos Estados Unidos da América.

Até agora, não assumiu uma posição. Contudo, há estudos que mostram que bastariam umas breves palavras da cantora para beneficiar a candidatura de Joe Biden. Quem não deita a toalha ao chão é o principal rival, Donald Trump, que iniciou aquilo a que muitos chamam de “guerra santa” contra Taylor Swift.

Na governação de Trump, Swift dirigiu-se várias vezes à Casa Branca, para condenar o racismo, a supremacia branca e a misoginia. E daí que, agora, sejam muitas as teorias da conspiração a envolver a cantora vindas dos apoiantes de Trump, alegando que é uma “agente do Pentágono” e que quer influenciar os resultados eleitorais.

(AP Photo)

Em 2020, a artista declarou o seu apoio da Biden, cuja equipa pondera agora levar o presidente norte-americano a um concerto de Taylor Swift, numa tentativa de convencer os fãs. Andam todos a tentar dizer-lhe “you belong with me”.

A influência de Taylor Swift é tão grande que, no ano passado, deixou um apelo aos jovens norte-americanos para se registarem para votar. No dia seguinte, 35 mil tinham seguido o conselho.

Mas não é só dentro das fronteiras americanas que os políticos querem Taylor Swift do seu lado. O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, pediu à americana para mobilizar os jovens para as eleições para o Parlamento Europeu em junho, à boleia da digressão Eras Tour.

Há ainda líderes mundiais, como o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, a fazer apelos públicos à artista para que a sua mais recente digressão passe pelos seus países.

Swiftonomics: como tudo vira ouro à sua passagem

Se há um nome para os fãs da artista, os “swifties”, também há uma palavra para resumir o seu impacto na economia: “swiftonomics”. Isto porque Taylor Swift parece ter um poder superior ao chamado toque de Midas: ela só precisa de estar por perto para algo valer ouro.

A economia à volta de Taylor Swift só existe graças à sua legião de fãs, sobretudo jovens, que querem agora gastar as poupanças dos tempos da pandemia de covid-19 em experiências que os marquem, incluindo viagens e concertos. Os concertos de Swift conseguem, muitas vezes, combinar os dois.

Swift é agora multimilionária, à custa da riqueza acumulada com a Eras Tour: tem qualquer coisa como mil milhões de euros. Conseguidos através do trabalho como música, mas também pela associação a grandes marcas como Stella McCartney ou Apple.

(Getty Images)

Nas letras de Taylor Swift existe um sentido de universalidade, com histórias com que qualquer pessoa, esteja ela onde estiver, se consegue identificar. E daí o seu sucesso sem fronteiras. Para muitos, a artista é também a referência e o exemplo de que, com trabalho, é possível alcançar o sucesso. Esta abordagem também é economia.

Depois juntam-se os números. Com a Eras Tour, Taylor Swift alcançou receitas de bilheteira acima dos mil milhões. Mas ela tem um impacto ainda maior por onde passa: há estudos a indicar um impacto económico de cinco mil milhões apenas nos Estados Unidos da América.

Há um conjunto de negócios que beneficiam da proximidade com os concertos da artista. A hotelaria e a restauração serão os mais óbvios. E há que puxar pela criatividade para ganhar destaque. Há histórias de quem tenha criado batidos específicos, de seu nome “Lavender Haze”, tirando partido do título de uma das canções. E bolos com a cara da americana – que venderam que nem pão quente. Mesmo entre aqueles que não conseguiram bilhete, mas se deslocam à mesma para as cidades onde os concertos têm lugar. “Now I'm in exile, seein' you out.”

(AP Photo)

Com o entusiasmo, os fãs não olham a gastos. Afinal, todos querem a melhor experiência possível para mais tarde recordar. Poucos são os que abdicam do “merchandising” oficial. E, milhão a milhão, Taylor Swift é um fenómeno que vale mais do que a riqueza produzida por dezenas de pequenos países.

O frenesim fez também aumentar as preocupações sobre a economia paralela, uma vez que há bilhetes para concertos de Taylor Swift em revenda por preços muito mais altos do que os originais. Abriu-se, em alguns países, a discussão sobre como regular da melhor forma este setor.

Em Portugal, onde a artista se estreia esta sexta-feira, o impacto também se fez sentir: como avançou o Jornal de Negócios, o preço dos hotéis em Lisboa disparou nas datas dos concertos da cantora e mais de 90% dos alojamentos estão esgotados.

(Getty Images)

Mente e corpo: as duas facetas de Taylor

Taylor Swift é um fenómeno a que é difícil escapar. É o reflexo de um tempo. E daí que a academia, um meio considerado algo conservador, também tenha cedido à sua popularidade. “When you are young, they assume you know nothing”. Mas há agora, pelo mundo fora, dos Estados Unidos às Filipinas, cursos que contrariam esta ideia, dando valor à obra da jovem Taylor Swift. Mentem aqueles que a fazem cantar a frase “got nothing in my brain”.

Harvard é um desses locais, com um curso onde são feitas ligações entre o trabalho de Swift e outras referências da cultura americana. Também a Universidade de Gante, na Bélgica, tem um curso sobre a influência musical da artista, assente em poemas de Swift sobre temas da atualidade como a guerra, a saúde mental ou o domínio do patriarcado.

Mas se Swift põe o cérebro de muitos a mexer, é também impressionante a forma como preparou o corpo para a Eras Tour, onde cada espetáculo dura cerca de três horas. Durante seis meses submeteu-se a uma rotina intensiva de treinos, correndo 25 quilómetros por dia, sempre a cantar. A artista abandonou também o consumo de álcool.

(Lusa)

Kanye West e a antiga editora: como Taylor superou os obstáculos

Taylor Swift é capaz de fazer a terra tremer. Literalmente. Nos concertos em Seattle, os sismógrafos registaram um terramoto de 2,3 na escala de Richter, à custa do entusiasmo dos fãs. A americana tem-se esforçado para fazer tremer também a indústria da música. Afinal de contas, ela também tem “bad blood”.

Este é, talvez, um dos episódios mais conhecidos da carreira de Taylor Swift: em 2009, quando ganhou a categoria de melhor vídeo feminino nos MTV Video Music Awards, a artista acabou interrompida por Kanye West, que acreditava que o prémio devia ter sido entregue a Beyoncé.

(AP Photo)

A polémica podia ter ficado por aí. Só que, em 2016, West lançou o tema “Famous”, onde consta uma palavra ofensiva quando se refere a Taylor Swift. O rapper alegou que Swift lhe tinha dado autorização num telefonema. E veio depois Kim Kardashian divulgar uma gravação, embora editada, para defender o então marido. Taylor havia de ser chamada de “cobra”, um insulto que se replicou em muitas críticas nas redes sociais. Na resposta, ela recuperou esse elemento no álbum seguinte.

E há outra história a provar a resiliência de Taylor Swift: em 2018, deixou a sua antiga editora, que detinha os direitos de seis álbuns. A editora, fundada por Scott Borchetta, acabaria vendida a Scooter Braun, agente que tinha Kanye West como cliente. A americana mostrou-se contra o acordo e revelou que foram rejeitadas as suas tentativas de adquirir os direitos. O catálogo acabou vendido a uma empresa de investimento em 2020, a Shamrock Holdings.

Para recuperar o controlo da sua obra, Swift começou então a regravar os antigos temas, naquilo a que chamou “Taylor’s Version”. São dois episódios que, para muitos fãs, evidenciam o seu caráter e a importância que dá ao trabalho.

“It's me, hi, I’m the problem, it’s me”. Ela prova que é, sobretudo, a solução.

(Reuters)

Breve biografia sobre origens e amores

Taylor Swift não é apenas um ícone da música. É antes um fenómeno cultural e económico. Hoje com 34 anos foi a primeira artista a vencer quatro Grammy para álbum do ano. No ano passado, a Time distingui-a como Pessoa do Ano.

É atualmente namorada de Travis Kelce, jogador de futebol americano, o que fez despertar um interesse maior no Kansas City Chiefs. Numa das canções, admite que tem uma “long list of ex-lovers”. E é verdade: nos antigos amores de Taylor estiveram John Mayer, Joe Jonas, Taylor Lautner, Jake Gyllenhaal, Harry Styles ou Calvin Harris.

(AP Photo)

A fórmula do sucesso parece assentar nas suas capacidades como compositora, na forma de se ligar aos fãs e ao olho para o negócio. Se aos 16 anos lançou o primeiro álbum, a verdade é que o percurso de Taylor Swift começou muito anos antes. A música já corria na família, com a avó Marjorie Finlay, que era cantora de ópera.

Percebendo o potencial, os pais mudaram-se para Hendersonville, para que a filha pudesse estar mais perto de Nashville, o epicentro das editoras de música country. Foi nesse estilo que arrancou a carreira. Contudo, com o passar dos anos, Taylor Swift foi-se aproximando da música pop.

As comparações têm sido feitas, não só com os atuais colegas de profissão, mas também com os astros do passado. Mas, quando se percebe que os critérios para alcançar o sucesso estão cada vez mais duros, num mundo cada vez mais competitivo, ninguém se compara a esta ascensão.

(Reuters)

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