Os percevejos não estão apenas em Paris. Aprenda a identificá-los, conheça os riscos e saiba como se prevenir

7 out 2023, 10:00
Percevejo (Associated Press)

Não há, para já, dados que indiquem que Portugal possa ser alvo de uma praga idêntica à que acontece em França, mas especialista em Saúde Pública pede atenção

O que são?

Os percevejos são animais hematófagos, com quatro a cinco milímetros de comprimento, e ao contrário do que muitos pensam, não saltam nem voam. Cada fêmea é capaz de colocar 500 ovos. Os percevejos podem sobreviver vários meses sem se alimentar, mas, ao mesmo tempo, podem alimentar-se até 90 vezes numa só noite, diz o Ministério da Transição Ecológica e Coesão Territorial de França.

Como identificá-los?

Os percevejos são visíveis a olho nu, variando entre tons de castanho, sendo que os mais jovens podem ter uma aparência mais translúcida. Têm um formato achatado e podem viver até um ano, mas a média de sobrevivência é de cerca de quatro meses

Quais os tipos mais comuns?

Apesar de existirem vários tipos de percevejos, o mais comum é o Cimex lectularius, ou percevejo-de-cama, que atraído por calor e dióxido de carbono, liberado através da respiração. Este tipo de percevejo tem preferência por locais escuros, sendo as camas e os assentos dos transportes, sobretudo metro, locais de eleição. Há ainda o percevejo asiático (Halyomorpha halys), que chegou a ser motivo de preocupação em Portugal há cerca de quatro anos e que, segundo a Rádio Renascença, volta a estar na mira de muitos portugueses. Há também os chamados percevejos do monte, recentemente encontrados em consideráveis quantidades em algumas zonas minhotas, sobretudo em Guimarães, como conta o jornal O Minho no seu site.

Onde se escondem?

Em tudo o que são frinchas, costuras e espaços escuros e não muito quentes. “Os quartos e salas de estar com sofás são os mais afetados”, diz o governo francês, que recentemente decretou uma ‘luta’ contra estes bichos. Colchões, almofadas, sofás, tomadas, partes debaixo de móveis e fendas do chão são os seus locais de eleição, seja em casa, lojas ou hotéis. Nos transportes, tendem a ficar em bancos.

Como saber se tem percevejos na cama?

Ora, para lá da reação cutânea e comichão em caso de picada, “manchas de sangue nos lençóis e fronhas ou manchas escuras de excrementos” podem indicar a presença destes bichos na cama, diz a DECO

Como saber se a picada é de um percevejo ou de outro inseto?

As reações às picadas variam de pessoa para pessoa, mas em alguns casos podem levar a uma sensação significativa de comichão ou até mesmo a reações alérgicas. Nem sempre é fácil distinguir a picada de um percevejo da causada por outro inseto, mas, segundo a BBC, os 'ataques' dos percevejos causam, por norma, “pápulas (caroços), frequentemente com mais de um centímetro, acompanhadas de pruridos (coceira) e inflamações que, muitas vezes, são marcadas por uma mancha vermelha mais escura no centro”. Além disso, as picadas dos percevejos “aparecem em grupos ou alinhadas, principalmente no rosto, pescoço, mãos e braços”.

Os percevejos são visíveis a olho nu, variando entre tons de castanho (Associated Press)

O que fazer se os encontrar?

O governo francês diz que o primeiro passo é limitar a proliferação destes animais e, depois, atuar até à eliminação. Como são animais que se desenvolvem muito rápido, importa agir o quanto antes, podendo, em alguns casos, ser necessário contratar uma equipa de desinfestação, o que se aplica também a autarquias quando estes insetos se encontram em locais públicos, como acontece atualmente em Paris.

O médico Bernado Gomes aconselha a lavagem de roupa a altas temperaturas - uma vez que estes bichos não resistem ao calor - e à limpeza e aspiração recorrente dos espaços, em especial aqueles que podem ser propícios a ser locais de esconderijo, como costuras de colchões e sofás e frinchas em móveis. O uso de inseticidas pode não ser a melhor opção, diz.

Os percevejos transmitem doenças?

Os percevejos alimentam-se de sangue, mas não há evidências de que causem ou transmitam doenças. No entanto, Bernardo Gomes destaca que este inseto “induz bastante preocupação e sofrimento nas pessoas que tem estas infestação em casa”, podendo até comprometer a qualidade de sono e descanso devido à forte coceira que as picadas causam. “Algumas podem ter reações mais intensas”, mas são situações sem grande preocupação clínica, embora importe consultar um médico em caso de dúvida ou agravamento dos sintomas. 

É uma questão de saúde pública?

Sim. Bernardo Gomes, médico especialista em Saúde Pública, destaca que “esta situação de percevejos em França não deixa de ser uma saúde pública local de muita importância” e que é importante fazer desinfestações o quanto antes, se bem que reconhece a dificuldade que há em eliminar estes bichos, que por serem muito pequenos consegues esconder-se em locais de difícil acesso. 

É verdade que os percevejos estão associados à má higiene?

Não. E o médico Bernardo Gomes diz mesmo que esta é uma das teorias que aumentam o estigma quanto ao assunto, podendo comprometer o pedido de ajuda por quem é afetado por estes bichos. “As pessoas sentem-se mal [por ter percevejos em casa], mas isso não está associado à falta de higiene”, atira, explicando que há, porém, uma “correlação entre pessoas com menos capacidades financeiras e o pedido de ajuda”, uma vez que, explica, os processos de desinfestação “são caros”.

Porque é que, do nada, surgem pragas?

Não há uma resposta concreta para tal, mas segundo a informação do governo francês, as viagens internacionais e o desenvolvimento de resistência aos inseticidas são os principais motivos para o aparecimento, sob a forma de pragas, destes bichos, que são transportados, muitas vezes sem que a pessoa saiba, em roupas e malas. Bernardo Gomes diz ainda que as alterações climáticas podem ter influência nesta questão.

É preciso ter cuidados quando se vai em viagem?

Sim. O médico Bernardo Gomes pede mesmo “cautela para quem for viajar, pois pode trazer uma prenda não indesejada”. E a cautela passa por verificar roupas e costuras da mala antes de viajar, por exemplo. Mas não só: se estiver em viagem, antes mesmo de desfazer as malas assim que chega ao quarto do hotel, faça pelo menos uma verificação superficial da cama, aconselha Michael F. Potter, professor emérito do Departamento de Entomologia da Universidade do Kentucky, que sugere que se puxe para trás os lençóis e cobertores do colchão e se olhe à volta das costuras do colchão, particularmente na zona da cabeça, para ver se há percevejos ou sinais deles. O especialista aconselha ainda a não colocar a mala no chão, pois aumenta a probabilidade de trazer percevejos para casa se estes estiverem presentes no alojamento turístico. Em vez disso coloque-a numa superfície elevada, como o topo de uma cómoda ou um porta-bagagens.

Há motivos de preocupação em Portugal?

Para já, não, diz Bernardo Gomes, explicando que a Associação Portuguesa de Médicos de Saúde Pública tem estado a trabalhar a par com a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária - DGAV . Até ao momento, “não temos uma situação paralela cá”, refere, acrescentando:“Em França, o nível de infestação nas casas era já elevado, há inquéritos recentes que indicam que há 10% de casas com percevejo-de-cama. Aqui, de vez em quando, existem circunstâncias que nos preocupam, mas nada desta escala”, conclui. A CNN Portugal entrou em contacto com a DGAV, mas não obteve resposta em tempo útil.

 

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