Sempre vai haver um pico de casos covid-19 esta semana? Especialistas recuam

11 jan 2022, 11:54
Testagem em Lisboa (Lusa/Miguel A. Lopes)

As estimativas mais pessimistas falavam num pico de 130 mil infeções por dia esta semana, mas, perante os números atuais, especialistas consideram que ficaremos longe desse valor

As previsões dos epidemiologistas eram para que, esta semana, Portugal atingisse um pico de infeções de covid-19 que, no pior dos cenários, poderiam chegar às 130 mil por dia. Mas os especialistas estão otimistas: "Perante os dados que existem, os valores estão um pouco abaixo das estimativas", o que confirma, mais uma vez, que as medidas de contenção resultam, explica à CNN Portugal o matemático Óscar Felgueiras.

A mesma leitura é feita pelo matemático Carlos Antunes: será preciso esperar até quarta-feira para poder afirmá-lo com total segurança mas, para já, com os números que existem, "dificilmente atingiremos os 130 mil casos por dia" esta semana.

Quais os três cenários previstos?

Com um máximo de casos esperado para a primeira semana ou para a segunda semana de janeiro, as projecções apresentadas na reunião do Infarmed na quarta-feira passada por Baltazar Nunes, o epidemiologista que lidera a equipa do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), apontavam para três cenários: no melhor dos cenários o número de novas infeções diárias chega esta semana aos 42 mil/dia (com cerca de 1300 pessoas hospitalizadas e 180 em UCI), no cenário intermédio são cerca de 80 mil casos diários e no cenário mais pessimista 130 mil casos/dia (com 3700 internamentos, 450 em UCI).

A simulação dos cenários varia, tendo em conta diversos fatores, como por exemplo os dados sobre a eficácia da vacina e os efeitos das medidas impostas no Natal e Ano Novo bem, bem como da semana de contenção (cujo fim estava previsto para este domingo mas que se vai prolongar até ao próximo). 

Assim, e caso o pico de infeções se concretize mesmo esta semana, as consequências piores podem vir no fim do mês: pode esperar-se um período "de maior pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde em camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos" entre o final de janeiro e princípio de fevereiro".  Mas, mesmo que se concretiza o cenário mais pessimista de 130 mil casos, vão ser números "muito aquém" dos máximos observados em hospitalizações no final de janeiro e no início de fevereiro de 2021.

Transmissibilidade diminuiu devido às medidas de contenção

O que observámos no final da primeira semana de janeiro é que "há de facto um abrandamento no aumento de casos", confirma o matemático Óscar Felgueiras. 

"O abrandamento é bem visível na estimativa de Rt" (nível de transmissibilidade), que está neste momento em 1,32 e a descer. "A transmissibilidade está a cair, o que é o resultado da redução de contactos, consequência das medidas impostas ainda no período do natal e do ano novo", explica este especialista. Quando o Rt estiver a menos de 1 saberemos que teremos passado o pico.

A média de casos a sete dias está neste momento entre os 30 e 32 mil. Mesmo havendo uma subida esta semana, "em termos médios, acredito que chegaremos aos 35 a 40 mil casos", afirma Carlos Antunes à CNN Portugal.

De qualquer forma, lembra, "nós só sabemos que tivemos um pico depois de passar por ele": "Vamos ter que ver os números de segunda, terça e quarta  e compará-los com os números homólogos da semana passada: se forem inferiores, significa que já passámos o pico, se forem iguais é porque estamos no pico, se forem superiores é porque ainda vamos atingir o pico".

Com os dados que temos, Óscar Felgueiras não tem dúvidas de que neste momento "estamos mais próximos do cenário mais otimista apresentado por Baltazar Nunes". 

Ómicron, eficácia da vacina e contactos são as variáveis em jogo

As previsões implicam sempre um certo grau de incerteza, afirma Carlos Antunes. Além da elevada transmissibilidade da Ómicron, é preciso também ter em conta a resistência desta variante à vacina e à imunização natural.

"Temos cada vez mais pessoas com a dose de reforço, mas sabemos que isso não impede a infeção nem a reinfeção", afirma. 

Por outro lado, há também um grau de incerteza em relação às medidas de contenção: "Sabemos que resultam mas não sabemos ainda a dimensão do seu impacto, para isso teremos de esperar um pouco", diz Carlos Antunes.

Esta semana estaremos a sentir os efeitos das medidas de contenção no Ano Novo e na primeira semana de janeiro mas, ao mesmo tempo, a mobilidade já está a aumentar e as escolas reabriram esta segunda-feira: "Teremos que ver o impacto da reabertura das escolas, uma vez que há muitos alunos que ainda não foram vacinados ou que só têm a primeira dose", sublinha.

No entanto, com os dados que existem, os especialistas estão otimistas. Apesar de o número de infeções ser elevado, o número de pessoas doentes e com doença grave - e consequentemente de hospitalizações - deverá ficar longe das piores estimativas. 

"A grande preocupação neste momento é a falta de capacidade da saúde pública e dos cuidados de saúde primários. A Saúde 24 não está a conseguir atender todos as pessoas, não há capacidade de rastrear nem de decretar isolamentos em 24 horas, nem sequer de fazer os testes PCR", alerta Carlos Antunes. É para aqui que se deve voltar a nossa atenção, neste momento: mesmo que não sejam necessárias hospitalizações, as pessoas infetadas devem ser acompanhadas pelos médicos de família e unidades de saúde familiar.

Veja também o vídeo: estar constipado pode proteger contra a covid-19

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